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William Faulkner Nobel de Literatura em 1949 |
Tudo isso para dizer que terminei a leitura de outro livro de William Faulkner - Luz em agosto, da Cosacnaify - e que mais uma vez me surpreendi com a abrangência humana dos tipos e das situações que o autor inventa para nos dizer o que é a maldição da intolerância. Acho que Faulkner é mesmo, como disse Vinicius Jatobá no Portal Literal, uma espécie de amálgama que traz consigo todas as correntes expressivas do romance contemporâneo, mas - diria eu - em especial a da novela social ancorada na tragédia do sul profundo dos Estados Unidos. É como se o personagem principal do livro, Joe Christmas, à semelhança de Coleman Silk, de Roth na era Clinton, me fizesse enxergar onde mora a origem daquela euforia fascista que se seguiu ao anúncio da morte de Bin Laden. Uma mesma linha de apreensão que vem de John Dos Passos, passa por Sinclair Lewis e Steinbeck e desemboca em Capote, Mailer e Updike. Para ficar na ficção estadunidense.
E aí ouço meus colegas professores maldizerem, junto comigo, das dificuldades que enfrentamos com os textos de nossos alunos; da raridade que é encontrar uma exposição consistente e coerente de ideias, com esse apego aos lugares comuns e às frases feitas que preenchem suas manifestações aplicadas a qualquer ofício para o qual estejam sendo adestrados. Talvez fosse preciso apontar uma lacuna que está mais abaixo: a atrofia generalizada da sensibilidade para o real, mais do que essa crítica recorrente que fazemos ao déficit instrumental da linguagem que quase todos demonstram.
Aí é que está. Sou muito cético em relação à perspectiva de que essa falha possa ser sanada com reformas de natureza pedagógica - porque é possível que a própria Pedagogia já tenha sido contaminada com essa tendência -, mas penso que vale a pena discutir qualquer abertura, mínima que seja, para um novo enfoque dessas formações todas na área da Comunicação; uma meia-volta que resgate a leitura descomprometida com o método, sem discussões, um silêncio que acompanhe cada final de parágrafo para dar lugar à respiração. Só isso...
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2 comentários:
Faro, que prazer voltar aqui e reencontrar a mesma clareza de pensamento. Concordo totalmente com a proposta.
Abraço!
“Leia mais!” Este foi um conselho repetido quase que diariamente pela minha ex-chefe do meu primeiro estágio em Jornalismo (Obrigada, Thais Naldoni!). A frase, dita como se fosse uma ordem, é, na verdade, o melhor conselho que um estudante pode receber.
Mas a questão é que muitos estudantes de Comunicação pensam que ao devorar livros de jornalistas e profissionais da área – e decorar frases, termos, expressões, passagens e nomes – é a maneira mais fácil de se destacar no mercado. E não é.
A (boa) leitura não se resume apenas aos manuais de redação e autores da área. Ano passado, ao mostrar um livro de Joel Silveira a um professor, este me disse: “Você não precisa ler isto. Leia os clássicos, leia livros de filosofia, leia outras coisas.”
As técnicas jornalísticas aprendemos fazendo, realmente. Claro que a universidade dá a base para isso. Mas o “além do texto” só existe se há bagagem cultural; mentes abertas; variedade.
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