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Drummond na praia: melhor ouvir do que falar |
De tudo quanto está anotado no trabalho de Martins, desses rabiscos que misturam pequenas frases, círculos, grifos e sinais de alerta para trechos importantes, o que me chama a atenção agora não é tanto o esvaziamento ideológico da diversidade de movimentos quase in vitro que se formaram na sociedade brasileira no período em que o ensaio foi produzido, especialmente aqueles que se articulavam em torno da contracultura e da desarticulação anárquica dos discursos institucionalmente organizados - que me parecem ter se transformado na fonte de inúmeras alternativas existenciais dos anos seguintes -, mas os modismos intolerantes e classificatórios que emergiram no interior desses mesmos movimentos.
O texto de Martins, evidentemente, precisa ser lido com cautela redobrada agora e mais de uma vez, tal é a riqueza conceitual com que o autor procura identificar as várias formas de expressão discursiva e cultural da época. Todavia, me parece que do ponto de vista dos reflexos daquela conjuntura na vida acadêmica, a abordagem mais sensível fica por conta da identificação, no ensaio, do "modismo" como forma de comportamento que mais revelava do que ocultava um certo disfarce de incompetência (ou de impotência) para dar conta da complexidade com que a realidade se apresentava. Deve ter sido na mesma época que entrei em contato com uma outra leitura - infelizmente, com referências absolutamente perdidas agora - que apontava a hegemonia do metodológico sobre as narrativas analíticas e descritivas na abordagem dos problemas políticos e sociais, mais ou menos na mesma linha do que Luciano Martins quer dizer com o foco que põe sobre um desses paradoxos que a ditadura criou para a intelectualidade brasileira (leia mais).
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