Imagens da sociedade que estamos construindo
As manifestações de hostilidade contra os médicos cubanos ocorridas ontem em Fortaleza me parecem um sintoma muito grave da deficiente formação ética e socialmente comprometida que o Brasil está oferecendo aos seus profissionais de nível universitário. Uma cultura do arrivismo e do individualismo foi construída em todas as carreiras como resultado dessa cloaca em que se transformou nossa Universidade.
Talvez fosse esse o foco (argh!) mais consequente do ressentimento dos médicos contra o programa Mais Médicos do Governo Federal - uma aposta que exigiria como contrapartida uma revolução nas condições de formação e de trabalho dos médicos brasileiros. Mas transformar o profissional estrangeiro - e o cubano, em especial - no bode expiatório dessa crise envergonha a categoria e o país. Mais que isso: revela um preconceito odioso que mal consegue esconder seu viés conservador e reacionário, eventualmente carregado de discriminação social e racial.
Penso que a melhor coisa que poderia acontecer como resultado disso é uma introspeção dessa turma que insiste em dotar o Brasil de um paradigma sócio-econômico e cultural grosseiro e avesso à solidariedade e à justiça social: governantes, bancos, empresas, Laureates e Krotons, Anhangueras e FMUs, igrejas, mídia... Ouço as vaias em Fortaleza e o ruído se confunde com as declarações oficiais e oficiosas sobre nossa realidade: no fundo, umas e outras compõem um mesmo discurso...
Leia também:
* Só vejo vantagens (Ricardo Noblat, O Globo);
* Mídia não explica, demoniza (Alberto Dines, Observatório da Imprensa);
* A constrangedora vergonha alheia (Luciano Martins, OI)
_____________________________
Nenhum comentário:
Postar um comentário