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Muitos juízes nazistas foram tão obsessivos quanto Moro e fizeram o que todos sabemos: perpetraram a injustiça no lugar da verdade __________ |
Ao lado, a imagem do Demiurgo inspirada nos textos de Hammadi: "arrogante e prepotente, julgava-se o centro da criação".
Aristóteles definiu húbris como uma humilhação para a vítima, não por causa de qualquer coisa que tenha acontecido ou que ela tenha feito ou pudesse fazer contra você, mas meramente por descaso seu em relação a ela. Húbris não é o acerto de contas por erros cometidos - isso é vingança. Húbris é o descaso que alguém tem pelos outros, ou pelos deuses, achando que pode fazer tudo que quiser (Wikipedia).
Confesso que perdi muito da esperança que o juiz Moro me despertou quando mostrou à sociedade as relações promíscuas que as grandes empreiteiras mantém historicamente com o Estado brasileiro. Até hoje, a prisão de Marcelo Odebrecht, um verdadeiro gangster do interesse privado, figura como um símbolo de que a impunidade do capital e das elites - uma verdadeira máfia - possa ter sido abalada na nossa sociedade.
No entanto, a partir de um certo ponto de sua obsessão, Moro parece ter se imaginado como esse demiurgo citado acima, que Platão definia como um ente que não cria a realidade, mas retira-a da condição caótica para enquadrá-la em "modelos eternos e perfeitos". Se ainda faltava alguma evidência da paranoia punitiva e indiscriminada do juiz de Curitiba, ter dado o nome de Aletheia para a operação que deteve Lula ontem - como se o ponto culminante de toda a Lava Jato pudesse ser a revelação absoluta da verdade e da existência, numa analogia em torno da reflexão de Heidegger - me parece confirmar um descomedimento punitivo que escapa à sabedoria do Direito.
O resultado disso, como se Moro agora tivesse que pagar pela ousadia de ter se metido num terreno que não é o seu - a dinâmica da política e das forças sociais, o equilíbrio que ele julgou poder manipular - pode ser o seu contrário, a sua nêmesis: um sentimento de indignação que aglutinou em torno da arbitrariedade cometida contra Lula uma parcela significativa do que a inteligência brasileira tem de melhor (leia abaixo), mesmo quando discorda das práticas que o ex-presidente adotou nos seus espaços de poder. Com Moro ficou o que há de menor no cenário brasileiro. Bem feito...
Não deixe de ler: * Sérgio Moro, juiz ingênuo? (Guilherme Boulos) * Mais política do que jurídica, intimação coercitiva de Lula foi ilegal (Folha) * Ministros do STF acham que Moro errou (Folha) * Me senti prisioneiro (Lula) * Estado democrático de direito não vigora mais no país (Paulo Vannuchi) * Renato Janine Ribeiro compara a situação de Lula à de Getulio em 1954 (Opera Mundi) * O ataque da direita, diz Telesur. E o mundo inteiro comenta (Opera Mundi) * Para José Gregori, ex-ministro de FHC, operação foi um exagero (GGN) * Lula, preso político (Antonio Martins) * O dia em que Lula provou ser mais forte que a Globo (Brasil 247) * Bresser Pereira: STF precisa intervir na Lava Jato (Brasil 247) * Lula foi submetido a linchamento midiático (Ernesto Samper, Unasul).
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