As primeiras manifestações públicas dos candidatos que se beneficiaram com a reação conservadora mostrada nas eleições de ontem dizem o que já se sabia: o estado de ânimo totalitário que inspira a ideologia dos "vencedores". Bolsonaro, por exemplo, numa demonstração da irresponsabilidade com que encara a complexidade do país que pensa governar, já adiantou: "vamos colocar um ponto final em todos os ativismos do Brasil" (El País). Transformada em mantra, a frase aponta para o risco de uma ditadura da irracionalidade política que estamos vivendo.
Duas coisas, no entanto, me chamam a atenção. A primeira diz respeito às várias interpretações que a "derrota" das forças progressistas sofreram. De agora até não se sabe quando, vamos martelar na autocrítica das formulações estratégicas e táticas que o campo da esquerda construiu ao longo da campanha, antes até. Isso tem que ser feito, mas há um componente que está associado a esse: a natureza institucionalmente ilegítima das eleições: todo o aparato jurídico, midiático, econômico-financeiro e para-militar montado em torno do golpe do impeachment de Dilma Rousseff atuou em favor do fascismo, o que facilitou esse sentido desarvorado e assustado das forças populares. A eleição reproduziu e expandiu a articulação golpista e deixou ainda mais evidente o relativismo moral das elites brasileiras: se necessário, como ficou provado, vendem a alma ao diabo. Veja-se, por exemplo, o contorcionismo de Amoêdo para explicar o que sempre se soube dele.
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Caminante, no hay camino |
Leituras sugeridas: * Como resistir em tempos brutos (Eliane Brum, El País) * Já somos um país fascista (G1) * Atônitos com Bolsonaro, professores da USP culpam STF por bagunça (Carta Capital) * O guarda da esquina e sua hora (Piauí) * Entre a decepção e o medo de errar (Piauí) * A mais nova fake news de Bolsonaro (El País) * Apoiadores de Bolsonaro usam camiseta com Lula decapitado (Esquerda Diário) * Moro age para evitar que Haddad termine o 1o. turno na frente (GGN) * O governo dos juízes (El País) * Liberando delações, Moro faz interferência política nas eleições (G1) * O que Bolsonaro revela sobre o voto (Piauí) * O extremismo de Bolsonaro e a estratégia desesperada para derrotar o PT (Carta Capital) * As eleições de 2018 consolidam o fracasso do golpe (Carta Capital).
Ilustração da postagem: cena do filme Feios, sujos e malvados (Brutti, sporchi e cattivi, 1976), de Ettore Scola.
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