O Brasil está diante de uma nova mentira promovida pelos veículos da mídia conservadora e pelos grupos reacionários que os apoiam: a farsa de que os resultados das eleições municipais deste ano, notadamente os embates que se deram no 2o. turno, representaram o "isolamento dos extremismos". Diz a narrativa colocada em circulação nas últimas 48 horas que a corrente ideológica vencedora do resultado final do pleito foi a "moderação", uma espécie de núcleo pendular da política brasileira que empurra os conflitos para o centro conciliador do espectro partidário, alguma coisa parecida com o que os jornais chamam de "centrão", mas muito mais que isso.
Na verdade, associa-se a esse apelido vulgar de um segmento orgânico parlamentar, um conjunto de lideranças reformistas cujo objetivo parece ser o da aglutinação liberal-conservadora disposta a controlar o governo de forma "civilizada" e equidistante tanto do escarcéu bolsonarista quanto das tensões sociais fora do alcance do apelo fascista. O resultado pretendido parece óbvio: a formação de um bloco cuja hegemonia passe a ser construída em torno da reforma ultraconservadora - mas moderna - do Estado brasileiro, coisa que alimentaria um projeto de poder para mais de 3 ou 4 décadas.
Sob essa perspectiva, tão importante quanto derrotar Bolsonaro nas câmaras municipais e nas prefeituras foi afundar mais um pouco o PT e o PSOL - numa clara demonstração de que essas duas correntes são corpos 'radicais' estranhos à alma da política brasileira, ainda que em sua essência os resultados práticos disso sejam as mesmas reformas econômicas de Guedes e a mesma exclusão social que dá consistência orgânica à esquerda. Tudo isso, com refinamento e com a cordialidade reluzente dos shopping centers - que é o lugar onde a classe média faz suas assembleias.
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As matérias indicadas abaixo ilustram a complexidade dessa análise, desde os artifícios ilegais que garantiram a derrota de Boulos em São Paulo até preenchimento dos vazios de representação deixados pelos novos grupamentos partidários.
Vale a pena ler todas elas com lápis e papel na mão...
* Boulos: "A unidade da esquerda é importante, mas sozinha não garante a vitória" (Pública) * A esquerda perdeu, mas não foi derrotada (Valério Arcary, IHU) * Vitória da direita tradicional pode dar novo corpo ao bolsonarismo (Flávia Birolli, Pública) * Estelionato sanitário (Folha) * Centro não bolsonarista vence pleito (Maria Cristina Fernandes Valor) * Direita ganha poder municipal e esquerda, chance de ser renovar (Maria Cristina Fernandes Valor) * Análise do 2o turno das eleições (Podcast, A Terra é redonda) * O Centrão e a distopia nacional (Fernando Barros e Silva, Piauí)
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