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O semblante apalermado de Peter Sellers: educação distante do pensamento complexo (Muito além do jardim, de Hal Ashby) |
É tônica da matéria: a busca da eficiência para onde quer que se olhe, eventualmente a cultura do desempenho levada ao extremo. Participam e se envolvem com ela os programadores das aulas, técnicos de estúdios de gravação, avaliadores de posturas diante das câmaras, empresários cuja relação com o ensino é apenas circunstancial, e a massa de alunos que encontram nesse processo uma oportunidade "de ouro" para superar as barreiras físicas e sociais que se erguem diante de seus projetos de vida. Numa das pontas desse novo complexo educacional, o professor.
A própria repórter se encarrega de elucidar o mistério: "para postar-se frente as câmaras, não basta ostentar um bom currículo e uma produção científica farta". Se passar nos testes cada vez mais concorridos para "lecionar" nesses cursos, diz ainda o jornal, "o professor recebe orientação de fonoaudiólogo e psicólogo e, a partir da primeira aula, passa a ser avaliado periodicamente pelos alunos espalhados por centenas de cidades". Bem remunerados (segundo a matéria, R$ 500 a hora/aula, embora ninguém saiba ao certo o que é feito dos direitos autorais que têm sobre o uso indefinido dos cursos que grava, muito menos dos contratos que regem sua relação de trabalho com essas empresas), os docentes vivem um doce encantamento com essa nova faceta de sua atividade, especialmente quando escapam do rigor com que os alunos, uma vez insatisfeitos, pedem a substituição do mestre. Uma professora entrevistada não consegue ocultar um estado de alma próximo do êxtase: "Olho na lente como se estivesse olhando para ele [o aluno]. Preciso que ele sinta que participa daquela aula, daquele espetáculo".
Aí é que está. Se as tics vêm sendo esvaziadas de suas possibilidades didático-pedagógicas em razão do reducionismo de audiência com que são aplicadas, os docentes, de seu lado, encontram nelas (nas tics) um capital que os distingue no campo de sua profissão, mesmo quando trocam a o ensino universitário pelos cursos preparatórios. Por conta disso, não é difícil encontrá-los tão absorvidos com a instrumentação formalista do aparato técnico em suas aulas que pouco se dão conta da forma como trabalham e da finalidade do conhecimento, especialmente no terreno da reflexão acadêmica. Afinal, não estão sendo mais avaliados pela ousadia com que interpretam a realidade através da invenção conceitual... Isso também pode ter se transformado num recurso discursivo impotente para competir com o brilho sedutor da tecnologia.
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Um comentário:
Eu só posso concluir que tanto o ensino a distância quanto presencial no Brasil caminham para um único sentido: o superficialismo. O diploma é o que importa pro aluno e a mensalidade paga para a instituição.
O governo não tem o melhor controle da qualidade do ensino, das pesquisas (qdo existem né). E é absurdo um docente se preocupar se o aluno vai ao não 'ir com a cara' dele....
Eu mesma acabei de me formar e me desanima pensar na continuação das minhas formações, ainda mais a distância!
beijosss
Sylvia
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