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A observação vem a propósito de um tema recorrente na área da Educação: a emergência da Geração Y. Acabo de assistir a um vídeo (veja aqui) divulgado pelo site Plug Edu cujo objetivo é descrever as características dessa geração e, ao mesmo tempo, advertir para o impacto que sua chegada às salas de aula tem na qualificação e na metodologia de trabalho dos professores. Entendo a intenção dos realizadores do filme e, em linhas gerais, também compreendo a amplitude da discussão sobre os traços culturais que marcam a geração atual dos estudantes de todos os níveis de ensino, da mesma forma como considero importante sua discussão. Mas percebo que a mitificação que predomina na análise do problema acaba criando desvios graves de interpretação que mais atrapalham do que esclarecem.
Exemplifico: Invariavelmente, a Geração Y tem suas peculiaridades explicadas a partir de elementos comparativos com as gerações que a precederam, exceto no quesito mais ressaltado, a tecnologia. Para os grupos denominados como Baby Boomers (anos 40 e 60) ou Geração X (anos 70 e 80) prevalecem os destaques relativos à sua formação familiar ou níveis de independência pessoal; já para a Y essas características são deixadas de lado e substituídas por sua proximidade com as tecnologias da informação, fato do qual deriva a necessidade de nivelamento dos professores com seus referenciais. Em outras palavras: entender a Geração Y e trabalhar com ela no âmbito do ensino só seria possível a partir da compreensão de sua ansiedade, da velocidade no acesso à informação, dos seus novos códigos de cognição do mundo.
Tenho a impressão de que as coisas não se passam exatamente assim, pelo menos não no âmbito da Universidade, já que as características apontadas para os estudantes de agora me parecem traços universais das gerações de todas as épocas, naturalmente guardadas as especificidades das conjunturas em que viveram. Mitificar essas peculiaridades e buscar para elas uma saída exclusiva que contorne o fato essencial da organização do conhecimento promovida a partir da referência intelectual em que o professor deve se constituir, me parece uma proposta tão diluidora da docência quanto inoperante do ponto de vista do processo da aprendizagem. E o que considero mais grave: isso pode acabar reiterando uma prática que vem se ampliando de forma crescente em todos os níveis - a perspectiva do uso meramente operacional da tecnologia em detrimento da reflexão e do aprofundamento do estudo. Penso que essa é uma receita que deve ser evitada: é possível que a tal Geração Y só seja mesmo um enigma quando avaliada a partir do nosso deslumbramento a-crítico com as tecnologias da informação e da comunicação.
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2 comentários:
Professor Faro, li uma entrevista na revista E, do SESC,não me lembro agora de quem, e o entrevistado tinha uma opinião bem parecida com a sua. Bem legal sua análise. Com certeza é preciso evitar a predominância do técnico.
Acho que o problema principal que muitos Geração Y acabam dando baile nos docentes mais conservadores, que encucados, fazem o que podem fazer para definir e limitar: criam teorias.
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