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Na contra-mão da diversidade e da beleza |
O que me leva a anotar aqui O Zero e o Infinito, no entanto, não é qualquer referência literária ou data em que se comemore alguma coisa sobre o livro (ou sobre o autor do livro), mas a própria metáfora do seu título que remete ao embate sutil e insidioso que o crescimento das seitas neopentecostais vai promovendo contra os pressupostos do Estado laico, republicano e plural que pensamos estar construindo desde o fim da ditadura militar. A presença desse inexpressivo e medíocre deputado Feliciano à frente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara não é mais que um episódio revelador do quanto os espaços de dignidade da sociedade brasileira já se retraíram em consequência da presença obscurantista desses grupos na cena da esfera pública; dramática mesmo é a espessa camada de intolerância moral e religiosa que vai tomando conta e atemorizando o cotidiano dos cidadãos: o zero e o infinito.
Recomendo a leitura de três registros sobre esse processo - em tudo semelhante à construção de situações autoritárias que tendem a crescer em meio ao vazio de projetos políticos e à progressiva perda de substância analítica e reflexiva da mídia e da escola. O primeiro é a matéria de Eliane Brum - A dura vida dos ateus em um Brasil cada vez mais evangélico - publicada na revisa Época. O segundo é o editorial do Estadão de hoje (31 de março) - Pior que o caso do pastor. O terceiro é o artigo de Janio de Freitas, também publicado hoje na Folha - O poder à vista. Torço para estar enganado, mas acho que não estou: as manifestações dos grupos evangélicos na direção da cena institucional - o poder de que fala Janio de Freitas - tem perfil estratégico e vêm sendo fortemente facilitadas pela crise de representação das estruturas políticas convencionais, espaços ocupados por segmentos que não têm qualquer compromisso com a democracia.
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