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Alguma coisa que lembra O Grito: toda a Educação está desorientada com as TICs |
Se eu pudesse sugerir a contextualização dessa pauta que fica insistindo no despreparo dos professores para enfrentar o desafio das tecnologias digitais, começaria recomendando que os educadores que se dispõem a falar sobre o problema (e os jornalistas que se dispõem a escrever sobre ele) levassem em conta o caráter não linear da sua absorção por toda a sociedade brasileira. Não é verdade que as escolas que proclamam projetos com base nas Tecnologias da Comunicação e da Informação (TICs) estejam elas próprias preparadas para dar conta de toda a sua complexidade, nem seus gestores, muito menos sua clientela de alunos e de pais de alunos, já que a característica fundamental desse processo é a sua assimetria sócio-cultural, no tempo e no espaço. Os professores estão despreparados e desarmados - tanto quanto os demais segmentos envolvidos no setor.
Em segundo lugar, parte desse divórcio entre a potencialidade pedagógica das TICs e sua operacionalidade cotidiana - na sala de aula e fora dela - se deve, segundo penso, à forma limitada e pouco inteligente (para que se diga o mínimo) com que as próprias escolas (as públicas, na dependência de projetos de inspiração governamental e normativa; e as privadas, na dependência de sua inserção no mercado da educação) recorreram à sua aplicação meramente quantitativa e gerencial. Confunde-se o uso das TICs com armazenamento de dados e com registros - o que não apenas empobrece a relação dos estudantes com as tecnologias digitais como também constrange os professores ao seu uso burocrático e de pouca densidade educativa e intelectual. Insisto em afirmar que se há um segmento que vem contribuindo radicalmente para que educação brasileira não tire proveito emancipador das TICs, esse segmento é o do gerenciamento do sistema como um todo. Nas mãos de seus planejadores todas as expectativas transformadoras do mundo digital retrocedem, regridem...
E por último: o sentido verticalizado e hierárquico com que as TICs são aplicadas aos projetos educacionais - traduzindo-se numa somatória de tarefas de pouco significado para a percepção docente, anula conceitos e investimentos. Com exceção dos cursos de Educação a Distância, onde os professores aparentemente se apropriam das filosofias que os orientam, não conheço uma só escola onde a arquitetura que sustenta o uso das técnicas decorreu de um processo de participação efetiva de seu corpo docente na sua concepção.
Repito aqui o que já disse em outro post: o ministro Mercadante precisa ouvir os professores.
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* Para uma ideia da crescente complexidade que os recursos digitais representam para as formas convencionais de ensino-aprendizagem, recomendo a leitura das seguintes matérias: MOOCs geram pânico na educação superior americana (Estadão), MOOCs - Virtudes e limitações (blog MOOC-EAD), Porvir - Inovação e educação, 10 termos que são tendência no mundo da educação (Porvir).
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* Para uma ideia da crescente complexidade que os recursos digitais representam para as formas convencionais de ensino-aprendizagem, recomendo a leitura das seguintes matérias: MOOCs geram pânico na educação superior americana (Estadão), MOOCs - Virtudes e limitações (blog MOOC-EAD), Porvir - Inovação e educação, 10 termos que são tendência no mundo da educação (Porvir).
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3 comentários:
Excelente reflexão!
Olá Faro, tudo bem? Publiquei o link com este seu post na minha página do Facebook e teve uma repercussão muito bacana. Muita gente comentando e compartilhando, incluindo orientandos e ex-orientandos seus... Sinal de que se trata de uma reflexão fatalmente necessária de ser feita! Grande abraço.
Prof. Faro, por favor, veja o link no qual comento as notícias e faço referência ao seu texto.
http://www.albertoclaro.pro.br/2013/04/para-ler-e-refletir-o-desafio-docente.html
Um abraço
Alberto
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