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Paisagem do México lembra muito o visual das cidades brasileiras: abandono social em meio aos lucros astronômicos dos interesses privados sustentados pelo Estado |
O jornal El País publica hoje uma boa matéria sobre o verdadeiro engodo em que se transformou o slogan "momento mexicano" com o qual as elites conservadoras daquele país, impulsionadas pela eleição de Peña Nieto, pretendiam criar a imagem de uma economia em estado de graça em consequência das políticas neoliberais. A tentativa não resistiu à realidade: o aprofundamento do modelo econômico, cuja essência é a transferência da riqueza nacional para os Estados Unidos, acabou levando o México à beira do abismo social e o "momento mexicano" talvez sequer tenha existido. E daí? O que isso tem a ver conosco? Olhando de perto, tem tudo...
Também no Brasil a tecnocracia que administra o modelo econômico insiste em propagar a excelência das opções que vêm sendo feitas pelo governo; não chegam a falar num "momento brasileiro", mas é sugestivo que essa descarada abdicação da soberania do Estado em favor dos empresários possa - como de fato já ocorre - levar o país para o mesmo beco das economias em breaking bad (para usar a expressão rica em múltiplos significados dessa extraordinária série de tv), isto é mal-paradas, em mergulho de agravamento do caos, em estado de ruptura com a racionalidade normativa até mesmo da modernidade burguesa.
Os indícios de que isso esteja ocorrendo mesmo são vários, mas o principal deles é esse mantra que se repete na mídia - via sentenças de economistas comprometidos com os bancos e com as empresas - sobre as difíceis perspectivas de retomada do crescimento significativo do PIB brasileiro. Como o governo não tem argumentos para desfazer essa recitação quase teológica , acaba cedendo à pressão pelo aumento das vantagens financeiras e fiscais de todas as concessões ao capital (privatização da rodovias, portos, aeroportos, desonerações, operadoras de todo o tipo etc). O resultado é o colapso político do Estado, sua transformação em refém dos interesses particulares e a perda de sua capacidade de instância organizadora do processo econômico. Ou alguém ainda não percebeu o olhar subalterno e constrangido com que o ministro Mantega explicas as medidas que toma, obediente e submisso, pedindo desculpas... (continua)
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