Indústria automobilística - com o apoio de sindicatos de trabalhadores do setor - quer dinheiro do FAT para compensar lucros e perda de competitividade
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Sempre que podem, as marcas da indústria automobilística - estejam ou não instaladas no Brasil - sangram a economia nacional e transformam a sociedade brasileira em refém de seus interesses privados |
Não imaginei que um dia isso fosse acontecer, mas li no Estadão de hoje (23 de abril) um editorial que considero histórico: sob o título Proposta indecorosa, o jornal descanca a intenção da indústria automobilística, com o apoio sindical, de usar o dinheiro do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) "para pagar durante dois anos parte do salário de empregados com jornada reduzida".
A história é a de sempre e é velha conhecida nossa. A indústria automobilística instalada no Brasil está entre as menos eficazes do mundo, embora goze de privilégios inimagináveis em qualquer país onde o capitalismo é levado a sério. Além de manter a maior margem de lucro por unidade de capital investida (o que não é difícil já que os investimentos que ela faz são baixíssimos), teve, só em 2012, o benefício total de isenções fiscais no montante de 26 bilhões de reais e conseguiu, graças a uma liberalidade inédita no mundo inteiro, alcançar o recorde de remessa de lucros para suas matrizes no exterior: US$ 3,3 bilhões de dólares em 2013 (leia aqui). Apesar disso, o setor está em crise - pátios esturricados de veículos, baixo nível de competitividade no mercado interno e no mercado internacional, poucas perspectivas de recuperação da demanda.
Esse é o quadro que os empresários, verdadeiros chefes mafiosos, usam na garganta do governo para obter mais vantagens. O exemplo vem agora com essa proposta criminosa de usar o dinheiro do FAT para compensar a crise que elas mesmas criaram - se é mesmo que há crise (quem é que confia nos balancetes das empresas?). Desta vez, no entanto, a pressão não é feita apenas sobre o governo; parece que nem mesmo os sindicatos escaparam da chantagem porque a proposta inclui um plano de redução salarial em troca da manutenção do emprego. Como legalmente isso não é possível, o uso do FAT compensaria o cofre das montadoras. Difícil imaginar que os sindicatos concordem com isso...
Eu tenho a impressão de que as razões do atraso brasileiro estão todas localizadas nesse capitalismo de periferia e indigno que mantemos aqui sob o protecionismo do Estado e sob as vistas grossas e oportunistas do movimento sindical.
* Enquanto isso, o estado de prostração do governo diante dos interesses privados não cessa de aumentar. Vejam aí como estão os preparativos para os novos mimos para a indústria automobilística
* Enquanto isso, o estado de prostração do governo diante dos interesses privados não cessa de aumentar. Vejam aí como estão os preparativos para os novos mimos para a indústria automobilística
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