Começo a ler com interesse renovado as declarações do novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, nestes primeiros dias do novo mandato de Dilma. Pessoalmente, tenho algumas convicções em relação a políticas de austeridade fiscal, em especial em países com graves disparidades sociais já que elas (as disparidades) acabam se consolidando ainda mais diante do enxugamento do Estado, do rigor monetário e orçamentário que passa a vigorar sob essa perspectiva de política econômica. Alguns economistas de peso argumentam na contramão dessa aparante unanimidade midiática que se formou em torno do assunto, e parece não ser verdade que o caminho do equilíbrio das despesas do Estado seja nem o único nem o mais acertado para tirar o país das dificuldades econômicas recentes (sugiro a leitura da síntese desse debate feita por Paul Krugman no jornal El País).
Pois o ministro Levy, pelo menos em suas primeiras manifestações, tem apontado na direção do capital e das elites financeiras o custo do equilíbrio fiscal quando insinua pretender conseguí-lo não propriamente através da redução dos investimentos sociais (que inevitavelmente serão afetados) mas da diminuição daquilo que ele próprio chamou (parafraseando o discurso de posse de Dilma) de "patrimonialismo", isto é, essa apropriação dos recursos públicos e sociais através de políticas de privilégios privados (leia aqui a matéria do Valor Econômico sobre o que disse Levy). Sob esse enfoque, penso que é possível escapar das armadilhas da oligarquia financeira armadas para o novo governo e denunciadas por Luiz Gonzaga Beluzzo.
Seja como for, a realidade - que sempre acaba falando mais alto - é que vai mostrar até onde chega a disposição do governo em enfrentar os interesses empresariais na reorganização da economia brasileira. Agora mesmo, diante da ameaça de demissões pela Volkswagen, o tema do ajuste surge com toda a força pois me parece claro que, mais uma vez, as montadoras chatageiam o governo para manter suas margens de lucro através da redução do IPI (leia a notícia do Estadão). É um primeiro teste e eu torço para que Levy tenha condições de dar coerência prática aos enunciados de sua posse. Se não conseguir - ou se não encontrar no governo disposição política para isso - é possível que a hegemonia patrimonialista se concretize mais uma vez.
Leia também: Montadoras demitiram 12,4 mil no país em 2014, Demissões em montadoras poderão provocar cortes nas concessionárias, BNDES empresta mais R$ 650 milhões à Fiat e Ministro discute cortes com Volkswagen e metalúrgicos.
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