Jesus não foi à Marcha para Jesus
Juan Arias, El País
Lanço mão de um recurso raríssimo neste blog: a transcrição integral de um texto já divulgado na imprensa. Neste caso, o artigo do jornalista Juan Arias publicado no El País, edição de 5 de junho, em razão da lucidez e amplitude que dá ao fenômeno que, na minha opinião, é a maior ameaça que a sociedade brasileira enfrenta: a ocupação da esfera pública pela argumentação obscurantista e atrasada das igrejas evangélicas. Tal como na Alemanha, durante a ascensão do nazismo, a conivência inerte de todo o espectro político (à direita e à esquerda) com esse processo ainda vai nos custar muito sofrimento.
Bastaria dar uma olhada em alguns dos feitos e ditos de Jesus da forma como aparecem na Bíblia para imaginar que, se estivesse aqui, teria fugido da apoteótica marcha da quinta-feira realizada em sua homenagem.
Teria fugido para se encontrar, na periferia da cidade, com a caravana de excluídos pelos evangélicos fundamentalistas, todos os diferentes e perseguidos pelos poderes conservadores, aqueles com os quais Jesus se entendia melhor do que com os sacerdotes e doutores do Templo.
A Marcha para Jesus tinha como título “Exaltando o Rei dos Reis”, e nela ouviram-se gritos, entre outros, contra a prostituição, as drogas e a novas famílias formadas por gays e lésbicas.
Na grande marcha para Jesus foram ouvidos os ecos da intolerância e indignação contra a liberadora publicidade da empresa O Boticário, na qual casais de homens e casais de mulheres trocam presentes com naturalidade e afeto e que alguns evangélicos tentaram obstruir legalmente.
A Bíblia está, entretanto, coalhada de histórias de amor entre pessoas do mesmo sexo, como os casos das mulheres Rute e Noemi, ou Davi e Jônatas. E até de Jesus com o discípulo João, que os evangelhos apresentam como um caso especial de amor. João era para Jesus o “amado” e “preferido”. E os apóstolos beijavam-se entre eles (continue a leitura)
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