A Hungria, país da repórter Petra László, acaba de erguer um muro de 3 metros de altura para barrar refugiados na fronteira com a Sérvia (leia aqui a matéria do Opera Mundi). É o ato final de um país ocupado pelo lado de dentro - que é a pior forma de ocupação: o medo do outro e a recusa em reconhecer sua alteridade.
Os refugiados somam hoje, em todo o planeta, 60 milhões de pessoas, como mostra a ilustração ao lado (leia mais para a matéria do El País de onde o gráfico foi copiado). Não há notícia na história de um deslocamento de tamanha magnitude e chega a ser irônico, se não fosse trágico, o fato de que esse processo, cuja marca é a de uma crueldade sem precedentes, esteja ocorrendo em pleno apogeu da dominação da técnica, quando a utopia iluminista previa a libertação de todas as formas de carência e de escassez.
O paradoxo, portanto, não é tanto o imobilismo criminoso das elites do mundo inteiro, mas o despreparo de natureza intelectual para o enfrentamento das causas da crise. Petra László alegou em sua defesa ter-se sentido em pânico quando viu rumar em sua direção uma "horda" de seres escuros, enrugados e feios, crianças e velhos - que ela não reconheceu como semelhantes, da mesma forma como soldados húngaros jogaram sobre a massa espremida na estação ferroviária de Budapeste, como num zoológico, nacos de alguma comida. Europa, México, Oriente Médio, África, Índia, a periferia de São Paulo e de Los Angeles...
* Leia também: Xenofobia está presente em cada esquina, diz especialista europeu (Estadão)
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