Tento recomeçar as atividades em 2016 depois de quase um mês perambulando por aí. Não é muito simples: as peças não mudaram muito sua posição e, em linhas gerais, parece que o período das festas não foi suficiente para algum encaixe otimista de perspectivas. Minha única convicção - bastante consolidada pelas leituras possíveis do noticiário - é a de que os empresários são mesmo os principais responsáveis pela invenção da crise brasileira e continuam vendendo para a sociedade a ideia se que sem o atendimento das suas "reivindicações" não há saída, o que nos transforma - a começar pelo próprio governo - em reféns da concentração da renda e dos privilégios fiscais de que nossa burguesia se beneficia.
Acho que duas análises me parecem fundamentais para entender essa lógica (O governo enxergará sua única saída? e Assim se desfaz a herança do Lulismo), mas são os fatos - mais do que sua interpretação - que demonstram que o agravamento da crise recompõe a estratégia fundamental da acumulação, tanto no plano da formação das reservas financeiras do empresariado quanto no plano da contínua transferência de renda pelo caminho dos benefícios fiscais e da política de austeridade que vem sendo implantada por Dilma - com a irônica constatação de que mais se isola a presidente quanto mais se enrosca nas concessões que faz aos interesses privados, ainda que arrisque gestos de ousadia na recomposição das aposentadorias, por exemplo.
Sobre esse aspecto, recomendo a leitura do noticiário que envolve a trama: Exportações superam importações e Brasil tem superavit de US$ 19,7 bi, Governo pode perder R$ 116 bi com desoneração, Governo acaba com Bolsa Empresário e fica com dívida de R$ 214 bilhões e Crise e incerteza no Brasil aceleram fuga das elites.
Minha intenção nestas primeiras postagens do ano é aprofundar a análise que fundamente a hipótese com a qual trabalho no curso de Brasil Contemporâneo deste semestre: a possibilidade de que um desfecho conservador da crise política (com ou sem o afastamento da presidente) se dará com a chancela do PT, mesmo que à revelia dos movimentos sociais. Enquanto isso, vale a pena observar o tratamento que a mídia dá a esse conjunto de contradições - maximizando o déficit fiscal provocado pelos empresários, desqualificando o nível da renda com a crítica à elevação do salário mínimo, enaltecendo as arbitrariedades do CEO argentino e até mesmo criando novas mitificações no campo do jornalismo. É um sufoco...
Sugiro ainda outras leituras e faço votos para que todos tenham um ótimo e esperançoso 2016.
* Três formas para convencer os pobres que aumentar o salário mínimo é ruim * Kim Kataguiri estreia coluna semanal no site da Folha * Na Argentina, um projeto começou a declinar.
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