Uma burguesia especializada na negação do
social, essa é a raiz da cordialidade
Há uma polêmica acesa entre os intérpretes do Brasil que está repercutindo nos reduzidos espaços públicos do debate acadêmico. De um lado, Sérgio Buarque de Holanda com sua tese - mais comentada do que lida - em torno do homem cordial brasileiro; de outro lado, Jessé de Souza, que remete o conceito de Buarque e sua celebração à miséria da nossa filosofia.
Pessoalmente, acho que Jessé de Souza entendeu o conceito cordial de uma perspectiva mais jornalística que antropológica e reduziu a complexidade da interpretação weberiana de Buarque a um conjunto de rótulos que fazem bem à mídia - dado o despreparo com que os editores dos cadernos de cultura pontuam sua presença na cena brasileira.
O cordial não é o mesmo que bondoso; nem o mesmo que apaziguador. O cordial é o conciliador com o ordenanento do Estado; é a recusa em romper com o Estado burocrático através do relativismo liberal. O cordial é o simulacro. Como estamos vivendo no limite desse paradoxo de uma burguesia estamental que se recusa a ter um projeto que lhe cobre alguma coerência ideológica - ou política -, o debate provocado pela iconoclastia de Jessé me parece qualquer coisa menos bizantino. Na verdade, para entender a conjuntura brasileira, essa discussão é essencial.
Textos sugeridos para leitura: * Sérgio Buarque, o "homem cordial" e uma crítica inepta (Outras Palavras) * Jessé de Souza: preciso explicar o Brasil desde o ano zero (Cult) * Celebração de obra mostra a miséria do nosso debate (Folha) * Em defesa de Sérgio Buarque (Outras Palavras).
O merecido silêncio em torno do 13 de maio: * Abolição da escravidão em 1888 foi votada pela elites para evitar a reforma agrária (Luiz Felipe de Alencastro, BBC) * Professora é substituída por dar aula sobre religião africana (G1) * Os sentidos do 13 de maio (Outras Palavras).
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