História ℰ
Cultura
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16/4
ANISTIA NÃO!
(...) conceder perdão a golpistas do 8 de janeiro de 2023 seria repetir o erro histórico de um país que, desde a redemocratização, acumula ataques à democracia, rompimentos institucionais e crises políticas marcadas pela impunidade.
# Andrea DiP, Claudia Jardim, Stela Diogo, Ricardo Terto (Pública)
# Projeto da anistia é inconstitucional Camila Bezerra (GGN)
# O recado da Câmara aos golpistas: "estamos com vocês". Alvaro Costa e Silva (Folha)
# Se passar na Câmara anistia enfrenta dificuldades no Senado. Patrícia Faermann (GGN)
# Anistia a gopistas é salto no precipício Helio Schwartzman (Folha)
Desde a crise de 2008, sistema nega a si mesmo e adota parte do que propugnam seus adversários – apenas para conservar-se vivo e manter sua essência. A causa crucial é falta de uma alternativa. Mas a História, às vezes, preenche esta lacuna…
# Perry Anderson, na London Review of Books (via Outras Palavras)
Leia mais: # O caleidoscópio da direita no Sul Global (IHU) # Moraes critica starlink de Musk e fala em ameaça à soberania nacional (Folha) # Maringoni: O consenso neoliberal (A Terra é redonda)
A guerra de Trump contra a inteligência
(Goebbels: "quando ouço falar em cultura tenho vontade de puxar o revólver")
# Pesquisas em risco: Trump ameaça tirar isenção fiscal de Harvard (Folha)
# Gilmar Mendes e a pejotização
Souto Maior (A Terra é redonda)
# A bomba de nêutron contra a CLT. Luis Nassf (GGN)
# Semana de 4 dias: percepções de quem está vivendo a experiência. Julia Nunes (G1)
Presidente da Ultragaz participou da conspiração empresarial que viabilizou golpe de 1964 e foi executado em uma emboscada organizada por movimentos de resistência (Opera Mundi)
Publicado durante a ditadura militar, jornal de esquerda se destacou por combater preconceitos e estigmas prevalentes na sociedade brasileira.
14/4
# Llosa: na Folha, a confusa notícia sobre sua morte e sua obra (coisa de IA?)
As notas sobre a morte do escritor peruano e Prêmio Nobel de Literatura em 2010 por enquanto são despojadas e certamente nos próximos dias vamos enriquecer a compreensão sobre as dimensões de sua obra.
Mas não deixo passar sem registro uma primeira provocação - feita em postagem minha sobre Llosa no mesmo ano de 2010 - dando conta da inquietação que sua presença na esfera das relações entre arte e política sempre me provocou. Sugiro a leitura:
# Nobel de Literatura: arte nas crônicas ou política nos romances (J.S.Faro)
Sugiro também: # Clipping do site para outras matérias sobre Vargas Llosa
# Os novatos do colarinho branco vão sobreviver à IA?
(Financial Times, via Folha)
# O heroísmo das vidas comuns
Escritor italiano vem à Flip falar sobre a magia do cotidiano (Folha)
# Das limpezas étnicas aos horrores de Gaza
...o ódio e o desprezo do colonizador (A Terra é redonda)
# Judaísmo vive crise de consciência com genocídio em Gaza. Arlene Cremesha (Folha)
# Imigrantes são cruciais para a escalada autoritáriia de Trump. Roberto Moli (Opera Mundi)
# Quem é Luísa González, aposta da esquerda para governar o Equador. France Press, via G1
# O que explica o recuo de Trump no tarifaço. Casa Branca é acusada de manipulação (DW)
Por trás da guerra tarifária entre Estados Unidos e China está uma disputa estratégica muito mais profunda: o domínio da indústria tecnológica global. As tarifas impostas por Donald Trump não apenas tensionam o comércio bilateral, mas colocam em risco a capacidade dos EUA de competir em tecnologias críticas — essenciais para o crescimento econômico e a segurança nacional. O epicentro desse embate está nas cadeias de suprimentos, altamente concentradas na Ásia, e no avanço chinês em setores estratégicos como baterias, semicondutores, telecomunicações e inteligência artificial.
Embora os Estados Unidos ainda mantenham uma vantagem em diversas dessas tecnologias — como inteligência artificial, design avançado de semicondutores, biotecnologia, produtos farmacêuticos, supercomputação e computação quântica — a China já lidera em outras áreas estratégicas, como criptomoedas, pequenos drones, comércio eletrônico, veículos elétricos, reconhecimento facial, fabricação de dispositivos móveis, ferrovias de alta velocidade, tecnologia hipersônica, energia solar e eólica, além de telecomunicações.
Todo esse cenário já provocou uma queda de 8,8% nas ações da Apple — empresa norte-americana que mantém mais de 90% de sua produção na China, um dos países alvos das tarifas. Estimativas indicam que a empresa ainda pode enfrentar até US$ 39,5 bilhões em custos tarifários. Segundo dados do Census Bureau, os Estados Unidos importaram, no ano passado, quase US$ 486 bilhões em eletrônicos — o segundo maior setor em volume de importações, atrás apenas de máquinas. Outros dados podem ser conferidos no site oficial da United States International Trade Commission
Essa ascensão tecnológica da China se deve a uma combinação de fatores: altos investimentos em pesquisa científica de ponta; abundância de talentos em ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM); agilidade na transição da produção de laboratório para o mercado; domínio sobre o processamento de minerais críticos; capacidade de escalar rapidamente a produção comercial; e acesso privilegiado a mercados ao redor do mundo, especialmente no Sul Global. Notavelmente, a China está profundamente integrada às principais cadeias globais de valor tecnológico.
Logo, a volatilidade de tarifas e retaliações compromete a construção de um ambiente tecnológico estável. Um exemplo claro dessa conjuntura complexa é a indústria global de semicondutores, que envolve uma cadeia interdependente composta por projetistas de chips, fundições, fornecedores de equipamentos e produtores de materiais espalhados por diferentes países.
Empresas americanas como NVIDIA, Qualcomm e Intel lideram o design de chips avançados, mas dependem de fabricantes localizados em Taiwan e na Coreia do Sul, que por sua vez contam com equipamentos do Japão e da Holanda, além de materiais processados na China. A cadeia de suprimentos de semicondutores é altamente eficiente e baseada na hiperespecialização: enquanto os EUA se concentram no design — segmento de maior margem de lucro —, a produção é terceirizada para fundições como a TSMC. Após a fabricação, os chips seguem para o Sudeste Asiático, onde são montados, testados e embalados, antes de serem enviados para fábricas no mundo todo. Tarifas sobre importações da China, México e Canadá — somadas às aplicadas sobre aço e alumínio —, além das medidas retaliatórias de outros países, elevam os custos de produção nos EUA, introduzem incertezas no mercado e podem afetar decisões de investimento, além de desencadear respostas como as já adotadas pela China, incluindo restrições à exportação de minerais críticos.
Essa preocupação já vinha sendo discutida há algum tempo, desde a formulação do CHIPS Act — idealizado durante o governo de Donald Trump e aprovado pelo Congresso norte-americano e sancionado por Joe Biden em 2022. O objetivo da medida é incentivar a produção de semicondutores nos Estados Unidos por meio de financiamento federal. O texto deixa claro que os recursos não poderão ser utilizados para construir, modificar ou ampliar instalações fora do território americano.
Deste modo, é impetuoso refletir como essa guerra tarifária pode ser um novo equívoco estratégico dos Estados Unidos para enfrentar o progresso tecnológico chinês. Por exemplo, a aparição da IA Generativa chinesa, DeepSeek, que mesmo diante das restrições dos EUA à exportação de componentes de alta tecnologia para a China, como o chip H100 da Nvidia (de ponta mais alta) e o chip H800 (de ponta mais baixa), ambos amplamente usados em IA, a China conseguiu superar esses obstáculos e avançar no setor.
A resposta da China às medidas tarifárias de Trump, longe de ambígua, deixa claro que não haverá concessões. Isso se deve, em parte, à estratégia de diversificação comercial adotada por Pequim nos últimos anos. Em 2024, as exportações chinesas para os Estados Unidos representaram 14,7% do total — uma queda significativa em relação aos 19,2% registrados em 2018. Ao mesmo tempo, cresceram as remessas para países do Sudeste Asiático e integrantes da Iniciativa Cinturão e Rota. De forma mais ampla, cerca de 30% das exportações chinesas em 2023 foram destinadas a países do G7, contra 48% no ano 2000, evidenciando uma mudança gradual no foco dos fluxos comerciais da China.
Por sua vez, é evidente que a China não atua como um mero player no tabuleiro geopolítico. Em entrevista à MIT Technology Review, a ex-vice-secretária de Defesa dos EUA, Kathleen Hicks, deixou claro que a China representa o maior desafio de ritmo enfrentado pelos Estados Unidos — ou seja, é a China quem estabelece o compasso em diversas áreas de capacidades estratégicas, e é esse ritmo que os Estados Unidos precisam superar para dissuadir os chineses. Ela destacou ainda que o maior desafio para os EUA não é apenas ampliar a produção tecnológica no território nacional, mas garantir sua integração e implantação efetiva, o que remete à questão dos minerais críticos.
Esses minerais críticos são insumos essenciais para tecnologias estratégicas, como baterias, veículos elétricos, eletrônicos e energia renovável. Embora não necessariamente escassos, são considerados críticos pelo alto risco de interrupção no fornecimento, seja por disputas geopolíticas, barreiras comerciais ou dependência de poucos países produtores. Entre os principais minerais críticos estão o lítio, cobalto, grafite, terras raras e elementos do grupo platina. O controle sobre sua extração, refino e exportação tem se tornado um instrumento de poder geopolítico, com a China exercendo liderança global em boa parte dessa cadeia.
O setor de baterias exemplifica a capacidade da China de dominar indústrias globais por meio de eficiência e integração da cadeia produtiva. Combinando apoio governamental maciço e espírito empreendedor, o país conseguiu criar um ecossistema completo — ou “o dragão inteiro”, como chamam — em regiões como Sanhe, no sul de Guangdong, onde a produção é integrada, da matéria-prima ao produto final. Empresas como CATL, BYD e Ganfeng Lithium lideram o mercado global a partir dessa base. A China detém a maioria das refinarias e fábricas de componentes essenciais, como ânodos e cátodos, e é responsável por três em cada quatro baterias de íons de lítio vendidas no mundo, segundo a Agência Internacional de Energia.
A presença chinesa se estende à origem das matérias-primas: empresas chinesas têm participação significativa em minas de lítio, níquel e cobalto em países como Indonésia, Austrália e Argentina. Isso garante o domínio sobre etapas estratégicas da cadeia global de baterias. A supremacia também se reflete na inovação e nos preços: a China responde por cerca de 80% das patentes globais de baterias e, em 2023, produziu baterias em média 30% mais baratas que as da UE e 20% mais baratas que as dos EUA, impulsionada por um mercado interno altamente competitivo e eficiente.
A CATL, um fabricante chinês de baterias e empresa de tecnologia, é o símbolo desse domínio. Fundada em 2011, cresceu 110% ao ano entre 2014 e 2022 e vem ampliando sua autossuficiência: metade do refino de insumos críticos já é feito internamente. Além disso, constrói fábricas a custos quase 50% inferiores aos dos rivais internacionais.
Deste modo, a guerra tarifária entre Estados Unidos e China escancara uma disputa que vai muito além do comércio: trata-se do controle das indústrias tecnológicas que definirão a liderança global nas próximas décadas. As tarifas, longe de frear o avanço chinês, expõem vulnerabilidades estruturais dos EUA — como a dependência de cadeias de suprimentos externas e o domínio chinês sobre insumos estratégicos. Para enfrentar esse desafio, não bastam medidas protecionistas. Será necessário um esforço coordenado de investimento em inovação, reindustrialização tecnológica e segurança de suprimentos.
Lauro Accioly Filho é doutorando no programa de Pós-Graduação Interinstitucional em Relações Internacionais – San Tiago Dantas e Pesquisador Visitante na American University (Washington, D.C.).
11 e 12/4
➥ atualizações
# Assista ao vídeo. Despreparo, destempero e grosseria de Tarcísio não o recomendam para nenhum cargo público; ou para qualquer outro cargo onde não possa fazer valer esse instinto totalitário que marca a psicologia fascista
Pois então...
Os cenários descritos pela pesquisa do Datafolha - feita com objetivo de medir a 'densidade' eleitoral do governador de SP - não são nada animadores para os que apoiam sua pretensão de ocupar os espaços da extrema direita (ou qualquer outro espaço no espectro político) nas disputas eleitorais que se aproximam. Tarcísio perde popularidade junto ao eleitorado paulista e perde também entusiasmo popular de uma eventual candidatura ao Planalto. Analisando bem os números, o que se percebe é que a imagem do governador vai ganhando as dimensões que sempre teve: arrogância, despreparo, violência verbal, más companhias e desvario. Um sujeito desagradável. Quem não gosta disso é a Folha, um jornal em busca de leitores e de eleitores que compartilhem com ela o apoio a algum nome que se contraponha à retomada da popularidade de Lula - como registrou em levantamento recente o próprio Datafolha. As matérias lincadas abaixo precisam ser lidas com cuidado para que se perceba nelas esse mal-estar editorial que desfigura o jornalismo (J.S.Faro)
# Tarcísio mantém patamar de aprovação, mas reprovação dobra em 2 anos # 58% acham que Tarcísio deveria disputar reeleiçã; 30%, a presidência # O editoral choroso: Datafolha reforça dilema eleitoral de Tarcísio
Os detalhes perturbadores do extermínio do mandato de Glauber Braga (Hugo Souza, Come Ananás)
Ricardo Queiroz, Facebook
A Comissão de Ética da Câmara aprovou (...), por 13 votos a 5, o parecer que pede a cassação de Glauber Braga. Vai a plenário.
Não é pela cena com o imbecil do MBL. Aquilo é só o disfarce. O que se busca com esse processo é eliminar um incômodo. Glauber tem nome e endereço. E fala. Fala alto, fala claro, fala de dentro, sem pedir licença nem baixar o tom quando a pauta exige confronto.
Foi ele quem desmontou sonoramente, peça por peça, o esquema que Lira comandou com mãos firmes e costas quentes: a farra das emendas, a compra de apoio que gerou pouquíssimo apoio, o silêncio comprado com dinheiro público. Glauber disse isso em plenário, para todo mundo ouvir. E continuou dizendo depois que as luzes se apagaram.
Há quem ache exagero. Mas exagero é o que Lira fez com a Câmara. Glauber apenas reagiu. E por reagir, virou alvo.
Não é de hoje. Quando Moro ainda era tratado como herói nacional, Glauber olhou nos olhos dele e disse o que ninguém ousava em voz alta: “juiz ladrão”. Assim mesmo. Sonoro, direto, sem eufemismo. E disse no microfone da Câmara, com transmissão oficial. Aquilo ficou atravessado em muita gente. Muita gente que agora revida.
Agora, o recado é outro. É para dentro. É para a esquerda que se ajeita, para os parlamentares que aprendem a conviver, para os que acham que é possível sobreviver na casa sem desagradar os donos. A cassação de Glauber é um aviso: quem não aprende a calar, sai.
Vão tentar torná-lo exemplo. Vão alegar decoro, ética, civilidade. Mas o que está sendo julgado é outra coisa: o incômodo. A recusa em participar da encenação. A insistência em lembrar, toda vez que possível, que a Câmara dos Deputados não é neutra, nem inofensiva.
É o orçamento secreto e emenda pix arrotando decoro e moralidade.
Se cassarem Glauber, não será por um gesto. Será por não ter aceitado a regra de ouro da casa: faça de conta que tudo vai bem.
Liberdade, no mundo mediado por redes (anti)sociais, se transformou em culto à autocracia, obscurantismo e compromisso com os mais baixos valores sociais. (Entrevista com Eugenio Bucci, IHU)
➥ Entrevista com Luci Praun, professora da Universidade Federal do Acre e pesquisadora da UNICAMP, concedida ao site do IHU (leia aqui)
Discurso de Trump se inspira na Doutrina Monroe, de 1823
➥ Assista ao vídeo (postado ao lado) e leia aqui a matéria do Opera Mundi
10/4
Notável pensador alemão do século 19 fraseou que, na história, a tragédia só se repetia como farsa. No caso dos governos populistas de extrema direita dá-se o oposto: seu primeiro mandato é farsa; o segundo, tragédia (leia mais)
O mais contundente ministro do STF em tempos recentes surpreende pela coerência de seus votos e pela coragem com que enfrenta as hordas da extrema direita
Em entrevista exclusiva à revista norte-americana The New Yorker, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes teceu duras críticas ao que classificou como o “novo populismo digital extremista“. Na reportagem, assinada pelo jornalista Jon Lee Anderson, conhecido por seus perfis de líderes políticos, o magistrado expôs sua visão sobre a ascensão da extrema-direita e os desafios que as mídias sociais impõem à estabilidade democrática (leia aqui)
Modelos estatísticos buscam identificar fatores que influenciam decisões dos ministros da corte, Revista Pesquisa Fapesp
# Organização criada por Dória (lembram dele?) articula, no exterior, forma para-institucional de pressão sobre o Brasil em torno do que há de pior como projeto para o país. E coopta personalidades, muitas delas... (leia mais)
# Maria Mogado conta sobre sua experiência em trabalhar com a autora de Explosão feminista: Arte, cultura, política e universidade (leia mais na Piauí)
# Trump está acuado (Raquel Landim, Uol)
Pequim rejeita chantagem dos EUA, mantém represália ao tarifaço e parece não temer nova taxa sobre seus produtos. Por trás da atitude está longo esforço para desenvolver autonomia, coroado agora por forte aposta no consumo interno. # Antonio Martins (Outras Palavras)
"Estúpido, errado, arrogante ao extremo". Para o investidor Bill Ackman, um dos apoiadores de Trump em 2024, a insistência na política tarifária deve criar uma "guerra nuclear econômica". # Camila Bezerra (GGN)
# O Humanismo de Edward Said Homero Santiago (A Terra é redonda)
# Extrema direita responde a falhas do neoliberalismo, não da esquerda. Rocio Paik (Opera Mundi)
# Israel transformou Gaza em campo de extermínio, diz a ONU (Opera Mundi)
"Estivemos muito perto de um golpe de estado, uma tragédia política. Isso é extremamente grave".
Ministro do STF considera que anistiar condenados por tentativa de golpe de estado e de participação no 8 de janeiro seria a 'consagração da impunidade' (leia mais no G1)
# Datafolha: 56% são contra anistia aos responsáveis pelos ataques do 8/1 e 36% são a favor
# A premeditada campanha para minimizar os crimes dos golpistas. Sério Lírio (Carta Capital)
# Lélia González
Buscar novos posicionamentos de conflito aberto e produtivo, e ruptura com as tradições de ação do pensamento social brasileiro, coloca-se como uma condição de liberdade e alianças antirracistas de esquerda (Wanderson Chaves A Terra é redonda)
# Morte lenta e silenciosa nos hospitais de Gaza
No sistema de saúde, retrato do genocídio. Profissionais assassinados. Hospitais bombardeados. Ausência total de remédios. Não há tempo para atender quem não está sangrando. “Usamos nossas mãos nuas e lanternas: é medieval” (Mahmoud Mushtaha, Outras Palavras)
# Minha filha não queria voltar para a escola
Vítimas relatam trauma após sofrer com fotos alteradas e transformadas em nudes com uso de IA. Propostas que tramitam no Congresso podem as aumentar penas de prisão para criminosos (DW)
# Discursos de ódio nas redes sociais: emojis ganham significado muito diferentes dos orginais
SaferNet revela aumento de 35% no número de emojis, palavras, siglas e hashtags, em português, relacionados à incitação ao ódio e conotação sexual em 2 anos (G1)
Lula vai ainda melhor nas urnas quanto mais um eventual adversário é identificado com as teses da extrema direita
Tudo pode mudar, como mostra a História e diz o poeta, mas até agora nem o discurso mentiroso da velha midia nem a imaginação golpista das elites, nem mesmo a armação que mantém Lula sob o foco sistemático de falsas denúncias, nada disso tem sido suficiente para deslocar o presidente do papel central que ele tem na política brasileira.
# Matéria da Folha para ser lida e divulgada em todas as redes. # Idem para a matéria do 247
Pois então...
Os resultados da pesquisa Datafolha deixaram o jornal em desespero, uma velha lição do jornalismo que parece não ter sido aprendida: o repórter (ou o seu editor) não briga com a noticia. No caso da recuperação da popularidade de Lula - que o leva a aparecer como o eventual vencedor das eleições de 2026 em qualquer cenário - as matérias exibem mais do que a informação; exibem contrariedade do jornal. É ler os títulos da edição de hoje (domingo, 6 de abril), quase inteira dedicada à projeção do ex-presidente, para constatar que o foco noticioso deixa de ser o resultado da pesquisa e sim o que deve ser feito para que esse resultado não aconteça. A Folha então se desmancha em sugestões à extrema direita - em especial para a facção bolsonarista que lhe parece aquela que é eleitoralmente mais viável - sobre o caminho a seguir para evitar o crescimento de Lula. Para quem gosta de entender como a suposta objetividade dos fatos pode ser transformada em discurso o que a Folha faz é um prato cheio. Só o bom jornalismo é que perde com isso. Sugiro a leitura destas matérias: # Datafolha: 67% acham que Bolsonaro deveria abrir mão de sua candidatura # Bolsonaro atrai presidenciáveis da direita e mira mulheres em primeiro ato após virar réu (J.S.Faro)
# Fábio Zanini: Direita esboça frente ampla e se pinta de batom para a guerra em 26 (Folha)
# Reinaldo Azevedo: Por que havia menos gente em SP do que no Rio (Uol)
# Manuel R. Pereira, Carolina Nogueira: Ato anima bolsonaristas; governistas minimizam impacto (Uol)
# Pesquisa da Genial/Quaest confirma isolamento de Bolsonaro e da extrema direita: 56% dos entrevistados pensam que criminosos que atentaram contra a Constituição em 8 de janeiro de 2023 devem cumprir a pena determinada pela Justiça (leia mais)
O fascismo à brasileira – neocolonial, entreguista, escravocrata, presunçoso, cafona, racista, misógino, xenófobo, cara-de-pau, picareta, covarde e violento na mesma medida de sua ignorância e falta de raciocínio – está com as barbas de molho...
# Artigo de Aracy P. S. Balbani (A Terra é redonda)
Tarcísio de Freitas, o candidato preferido da extrema direita, seria a alternativa?
Pazuello, a imprensa e a democracia. Fernando Barros e Silva (Piauí). "Cada um tem um papel na democracia". Esse é o título do artigo que Eduardo Pazuello publicou no jornal O Globo do último dia 14 de março. O papel dele, Pazuello, é sabotá-la, como se sabe. O papel do jornal da família Marinho é mais complexo. Mas vamos por partes. O texto do general veio a público dias antes do ato em Copacabana convocado por Jair Bolsonaro e seus apoiadores em favor da anistia para os golpistas do 8 de janeiro (continue a leitura)
O ato foi um fiasco. O ex-presidente e seus comparsas atraíram pouco mais de 18 mil pessoas para a orla no domingo ensolarado, segundo a medição do Monitor do Debate Político no Meio Digital, ligado à Universidade de São Paulo (USP).
O texto de Pazuello, ao que consta, também passou batido. Diferente do que ocorreu quando Bolsonaro publicou na Folha de S.Paulo, em novembro do ano passado, um artigo intitulado Aceitem a democracia. Lá, o uso do imperativo no título acrescentava uma camada de violência à publicação, como se estivéssemos novamente diante de algo comparável à homenagem ao torturador por ocasião do voto pelo impeachment de Dilma Rousseff. A reação do leitor de boa-fé foi de indignação – como é que viemos parar aqui?
Visto sob o prisma da desfaçatez, o artigo de Pazuello parece mais anódino, não há dúvida. A USP não mediu o número de desocupados dispostos a perder seu tempo lendo o general, mas suspeito que não tenham sido muitos. Fui um deles. E, para minha surpresa, o texto praticamente não fala de democracia. Num total de 534 palavras, a expressão aparece apenas duas vezes, no primeiro e no último parágrafos.
Temos a abertura:
A democracia não é um conceito abstrato, nem uma responsabilidade exclusiva dos políticos. Ela pertence a todos nós.
E depois de oito parágrafos enfadonhos, a conclusão:
A democracia se fortalece quando cada um assume seu papel. E o papel de quem governa é servir ao país, não a interesses individuais ou de grupos políticos.
São frases ocas, sem nenhuma substância. Estão ali, no início e no fim, como moldura retórica de uma peça preguiçosa e vazia, parida burocraticamente por algum assessor pouco iluminado. O deputado Pazuello entrou com o polegar – fui eu que fiz.
Não deixa de ser sintomático – na acepção psicanalítica de sintoma, como expressão cifrada de algo recalcado – que a democracia só apareça no texto como verniz, para enfeitá-lo. Pazuello grita no título olha a democracia, mas corre dela. O assunto real do artigo é outro. O general divaga sobre o papel central da segurança na vida de um país. Peço licença para citá-lo:
A segurança, sem dúvida, é a base sobre a qual tudo se constrói.
As pessoas querem se sentir seguras em todos os aspectos de sua vida.
A segurança é, portanto, o alicerce sobre o qual devemos construir um país próspero.
Platitudes, clichês, generalidades. Mesmo sob a ótica conservadora, é difícil sustentar que o general tenha ideias originais ou acrescente algo ao debate. Pazuello não acende nenhuma luz. O texto serve tão somente para que ele faça xixi no poste. É essa a sua finalidade. Marcar posição, demarcar o terreno – cão mijando no caos. (Que nos perdoe Carlos Drummond de Andrade, autor deste verso. Está no poema Oficina irritada, de Claro enigma.)
A rigor, não causa nenhuma surpresa que a direita faça manobras coreográficas em torno de um tema tão propício à demagogia como a segurança pública. Sempre foi assim, agora está um pouco pior. Também não constitui exceção na imprensa nativa que um de seus principais jornais publique artigos sofríveis, mal escritos e mal pensados. Essa também é uma tradição brasileira. Agora, que Eduardo Pazuello, ocupando o que antigamente era chamado de “espaço nobre”, venha nos ensinar que cada um tem um papel na democracia – parece que aí temos algo que vai além da demagogia e da precariedade. Algo como um sintoma, que talvez mereça mais atenção.
Fora da caserna, quase ninguém conhecia o general quando ele chegou ao Ministério da Saúde, já com a pandemia em curso. Pazuello foi o terceiro a ocupar o cargo sob Jair Bolsonaro, depois de Luiz Mandetta e Nelson Teich. Permaneceu lá por dez meses, de maio de 2020 a março de 2021, sendo os quatro primeiros na condição de interino, o que acentuava a percepção geral de que a Covid não era, nunca foi, uma prioridade daquele governo e vinha sendo tratada com descaso e improvisação.
A gestão Pazuello foi uma sucessão de descalabros. Assim que foi efetivado, ele determinou a expansão do uso da cloroquina e da hidroxicloroquina no chamado “tratamento precoce”, procedimento àquela altura já amplamente desacreditado pela comunidade científica. O ministro posou de garoto-propaganda do remédio e o Exército participou da produção de milhões de comprimidos, distribuídos pelo país com recursos do sus.
Em outubro de 2020, já efetivado, Pazuello afirmou que “nem sabia o que era o sus”. Naquele mesmo mês, depois de ser desautorizado por Bolsonaro, ele apareceu num vídeo ao lado do presidente e soltou, sorridente, outra frase que ficaria famosa: “Simples assim: um manda e o outro obedece.” Na véspera, numa reunião com governadores, o ministro havia anunciado o protocolo de intenções de compra de 46 milhões de doses de CoronaVac, a vacina que vinha sendo desenvolvida por uma farmacêutica chinesa e pelo Instituto Butantan, do governo de São Paulo. Bolsonaro mandou cancelar o acordo, e assim foi feito.
Quando o sistema de saúde de Manaus entrou em colapso em decorrência da falta de oxigênio nos hospitais, levando dezenas de pessoas a sufocar até a morte – mortes terríveis e evitáveis –, Pazuello atribuiu a tragédia à “falta de atenção da capital ao tratamento precoce”. Estávamos em janeiro de 2021. No final de dezembro, quando o ano terminou, o país havia registrado 412 880 mortes por Covid em doze meses. Pazuello havia feito sua parte.
Indicado ao cargo para satisfazer a perversão negacionista do chefe, o general levou a sério a máxima do meio militar – missão dada, missão cumprida. Eximindo-se de coordenar ações e campanhas preventivas, recomendando tratamentos contrários ao que dizia a medicina, retardando a compra de vacinas e omitindo da população dados sobre a extensão do problema, o general cumpriu à risca o papel para o qual havia sido escalado. Até 2022, o Brasil foi responsável por 11% das mortes por Covid no planeta, mas responde por menos de 3% da população mundial.
Tudo isso são coisas sabidas. As pessoas, no entanto, tendem a apagar da memória os episódios traumáticos depois que o pior já passou.
Já fora do cargo, depois de ter sido substituído por Marcelo Queiroga, Pazuello participou de um ato político no Rio de Janeiro, em 23 de maio de 2021, ao lado de Bolsonaro. Era ainda um general da ativa, o que não o impediu de subir no palanque e discursar. O comportamento afrontava o regulamento disciplinar do Exército, que veda ao militar da ativa “manifestar-se, publicamente, […] sem que esteja autorizado, a respeito de assuntos de natureza político-partidária”. Estava mais do que caracterizada a transgressão disciplinar, com o aval e o incentivo do presidente da República. Uma esculhambação, que Pazuello definiu como um gesto de “camaradagem”.
Na ocasião, o comandante do Exército era o general Paulo Sérgio Nogueira, que depois seria ministro da Defesa e hoje figura entre os réus que serão julgados por tentativa de golpe. Nogueira chegou à conclusão de que “não restou caracterizada a prática de transgressão disciplinar” e arquivou o processo. Um gesto de camaradagem. Cada um tem um papel na democracia.
Sendo Pazuello quem é, quase tudo, e sendo o seu artigo o que é, quase nada, resta perguntar o que significa oferecê-los dessa forma ao leitor do jornal. Não é difícil imaginar as respostas, começando pelas mais óbvias: publicamos em nome do pluralismo e do debate livre de ideias; ele é deputado federal, foi eleito com mais de 200 mil votos, é um representante legítimo da população fluminense. E por aí vai.
Além do mais, perguntaria meu interlocutor imaginário, qual seria a alternativa? Não publicar? Fingir que Pazuello não existe? Eu diria que o incômodo maior não está na publicação, mas em fingir que Pazuello é um democrata. Que ele existe, sabemos até demais. As vítimas da Covid não nos deixam esquecer disso.
Pazuello se safou da denúncia do procurador-geral, Paulo Gonet. Não aparece na lista dos 34 arquitetos do golpe que agora devem responder por seus crimes perante a Justiça. Quem não teve a mesma sorte foi o general Mario Fernandes, ex-comandante dos chamados “kids pretos”, a tropa de elite do Exército, quase sempre apontado como o mais radical dos golpistas. Durante um ano, entre março de 2023 e março de 2024, Fernandes foi assessor remunerado do gabinete de Pazuello na Câmara. Uma coincidência.
Em 2022, ele estava lotado na Secretaria-Geral da Presidência quando mandou imprimir, dentro do Palácio do Planalto, o plano Punhal Verde e Amarelo, no qual se considerava até o assassinato de Lula, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes a fim de impedir a posse do petista. O general-kid se encontra preso preventivamente desde novembro do ano passado. Na ocasião, Pazuello disse acreditar “na idoneidade” do colega de farda.
O que nem todos se recordam é que o próprio Pazuello aparece atuando a favor do golpe num dos áudios encontrados pela PF no celular de Mauro Cid. O ex-ajudante de ordens relata ao general Marco Antônio Freire Gomes, então comandante do Exército, que Pazuello havia visitado Bolsonaro uma semana depois da eleição e proposto, durante a conversa, que o então presidente se valesse do artigo 142 da Constituição para dar respaldo jurídico a uma intervenção militar no país.
Se o golpe de Estado tivesse sido exitoso, sabemos de que lado estaria Pazuello. Não há nenhuma dúvida a esse respeito. Gostaríamos de ter a mesma certeza em relação aos veículos de imprensa, o Grupo Globo entre eles.
A desconfiança pode soar excessiva, mas não é gratuita. Mesmo nos Estados Unidos, onde o vínculo dos grandes jornais com a democracia é mais antigo e mais sólido, o retrocesso é visível. Acompanhando as big techs no movimento de adesão a Donald Trump, Jeff Bezos começou a patrocinar mudanças editoriais no Washington Post para alinhá-lo à nova cartilha da Casa Branca. A intervenção começou antes mesmo da eleição e até agora se concentrou nas páginas de opinião do jornal.
Martin Baron, o jornalista que chefiou a redação do Post entre 2013 e 2021, publicou em março, na revista The Atlantic, um relato precioso sobre a conversão do fundador da Amazon ao trumpismo. O título é autoexplicativo: “Onde Jeff Bezos errou com o Washington Post.” Ele conta em detalhes como o bilionário resistiu à primeira onda da barbárie, quando Trump foi eleito, em 2016, mas está sucumbindo a ela desta vez.
O que acontece por lá costuma ter repercussão por aqui, sabemos disso, mas os paralelos entre as relações da imprensa com seus respectivos governos devem ser feitos com cautela. A começar pelo histórico de cada uma: enquanto o Washington Post se dedicava a investigar o escândalo de Watergate, que culminou na renúncia de Richard Nixon, o Globo auxiliava os militares a esconder os crimes da ditadura, publicando em manchete de primeira página que o deputado Rubens Paiva havia sido sequestrado por terroristas. É só um entre muitos exemplos.
Voltando ao presente, a publicação do texto do general golpista que dissimula se ocupar de democracia é um termômetro do nosso Zeitgeist. Mais do que um simples sintoma, suspeito que estejamos diante de uma opção deliberada pelo vale-tudo disfarçada sob o verniz do pluralismo.
Trata-se – vale tanto para o Globo como para a Folha – de uma operação de adequação aos novos tempos, uma espécie de capitulação e de rebaixamento editorial, vendida ao leitor como uma atitude elevada e uma mercadoria nobre. Aplicado sem mais a uma realidade que o atropelou e a uma configuração histórica que ameaça liquidá-lo, o pluralismo não é mais do que um instrumento de legitimação de algo que podemos chamar, sem medo de errar, de bolsonarismo sem Bolsonaro, o sonho de consumo do patronato da mídia brasileira. É nessa página que nos encontramos hoje.
Recentemente, durante uma reunião interna da redação da Folha, um dos chefes tomou a palavra para lembrar a todos que o jornal tinha poucos colunistas de direita. Disse também que nenhum deles, mesmo sendo de direita, havia defendido a anistia para os golpistas, que ele, segundo dois relatos que ouvi, chamou de manifestantes. O recado era claro: a redação e a opinião do jornal precisam contemplar melhor a clientela, um eufemismo para extrema direita.
Mais recentemente, os jornalistas da GloboNews foram apresentados a uma pesquisa realizada pela Quaest, para consumo interno da emissora. Não era uma pesquisa quantitativa, mas o que se ouviu como recomendação no Jardim Botânico foi parecido com que os colegas haviam escutado na Folha. Muitos espectadores consideram que a emissora é de esquerda, querem mais pluralismo (a palavra mágica), mais ideias divergentes. Mas que tipo de divergências? A Jovem Pan foi citada como exemplo.
Seja porque todos estão correndo desesperadamente atrás de audiência num ambiente de crise do modelo de financiamento do jornalismo e dispersão extrema, seja porque a eleição presidencial está se aproximando, o fato é que as redações tradicionais vêm sendo cada vez mais constrangidas a “entender os novos desafios da realidade”, o que, trocando em miúdos, significa considerar Pazuello um democrata e chamar os golpistas de manifestantes. De agora em diante, os “pazuellos” são parte legítima da nossa paisagem. Aceitem a democracia.
Sendo assim, o governador de São Paulo não precisa tirar o boné do maga (Make America Great Again) em saudação a Donald Trump, não precisa descer do carro de som de Bolsonaro, não precisa parar com a matança de pobres na Baixada Santista. No lusco-fusco conveniente em que mergulhamos, os patrões da mídia já decidiram que Tarcísio de Freitas serve de democrata. As instituições estão funcionando, o STF está cuidando de Bolsonaro. Como nos ensinou aquele sábio, cada um tem um papel na democracia.
# O fenômeno Donald Trump
Daniel Aarão Reis (A Terra é redonda)
# O protecionismo de Trump e a História como farsa
Leonardo Weller (Folha)
# Quais os impactos das tarifas de Trump no comércio global
# O que há por trás do tarifaço de Trump
# Bolsonaro festeja tarifaço de Trump com ritual de submissão
# Macartismo sionista: em clima de caça às bruxas, PUC-SP sacrifica sua pós-graduação em Relações Internacionais (Carta Capital)
# Estudantes de RI acusam PUC-SP de encerrar pós-graduação após denúncias de islamofobia (Opera Mundi)
Idealista, esquerda está perdendo a batalha por corações e mentes. Desconectada da vida das maiorias, insiste em persuadi-las. Para projetar outras visões de mundo o central não é “pregar”, mas ressoar experiências cotidianas transformadoras
Concessões aos interesses privados - feita por todos os prefeitos da cidade - transformou SP em monstro urbano, espaço da vida dessolidarizada.
A verticalização vertiginosa de São Paulo gera repulsa e fascínio, crítica e encantamento. A explosão de prédios construídos suscita sensações subjetivas que se contrapõem à razão, sem necessariamente resultar em uma opinião clara.
Afinal, a verticalização faz bem ou mal? A cidade deve crescer para cima (se verticalizar) ou para os lados (se espraiar)? Quais forças estão em jogo?
# Ser pobre e leitor no Brasil (Outras Mídias) # O martírio da Universidade Brasileira (A Terra é redonda) # Nenhuma plataforma das IAs cumpre exigências brasileiras (Folha) # Quais as escolas públicas que caíram na arapuca do ensino militar do Tarcísio (Uol)
Ao aceitar denúncia contra altas patentes por golpe, STF pode ter ajudado a colocar um fim no 31 de março de 1964
A paralisação nacional de entregadores iniciada nesta segunda-feira, 31, marca uma nova etapa na luta dos trabalhadores por reajustes nos valores das taxas de entrega e limites às distâncias para entregas feitas por bikes. O breque dos apps, como ficaram conhecidas as paralisações da categoria após a primeira mobilização, em 2020, seguirá até esta terça-feira, 1º de abril, com a expectativa de adesão de entregadores em todas as capitais e cerca de 200 cidades.
# Laís Martins, Intercept
A quantidade de trabalhadores que atuam em plataformas digitais cresceu quase 50% no Brasil entre 2021 e 2024, de acordo com pesquisa da Clínica de Direito do Trabalho da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Atualmente 2,3 milhões de pessoas são ligadas a essas empresas, diz o levantamento, que aponta para a urgência na regulação do setor
# Danilo Queiroz, Pública
A família de Vladimir Herzog enviou uma carta ao governador Tarcísio de Freitas pedindo que a escola estadual que leva o nome do jornalista morto pela ditadura militar não seja transformada em um colégio cívico-militar
# Jamil Chade, Uol
O monopólio é a tendência unívoca do capitalismo. A outra tendência do capital é desenvolver maneiras de maquiar sua dominação do cotidiano
# Bruno Boncompagno, A Terra é redonda
Ao contrário do que se pensa, aproximação Trump-Big Techs não é de curto prazo. Visa amputar o Estado, impedindo-o de regular as corporações. E inviabilizar o espaço público, para estabelecer a gestão algorítmica da sociedade
# Rafael Evangelista, Outras Palavras
O Governador de São Paulo apresenta-se como o herdeiro do espólio da extrema direita. Até a acachapante derrota de Bolsonaro no teste da aceitação da denúncia da PGR pelo STF, Tarcísio manteve inalterada sua suposta lealdade ao ex-presidente.
Agora, no entanto, com o vertiginoso aumento das acusações que cercam o antigo grupo palaciano que articulou a conspiração assassina e golpista de 8/1, o governador começa a ficar vulnerável e seu passado - que sempre vem acompanhado de referências elogiosas ao seu desempenho gerencial - mostra que ele não é 'flor que se cheire', como logo registrou na sua entrada em cena na disputa pelo governo de São Paulo, estado onde nunca teria residido e onde, apesar disso, curiosamente, obteve o registro de domicílio eleitoral (continue a leitura da postagem)
O fato foi aceito como 'legal' pelo TRE paulista não por seu mérito, mas em vista de um vício formal do pedido de impugnação feito pelo PSOL (leia aqui). A nuvem de suspeitas que cercou o episódio, no entanto, nunca deixa de ser lembrada e sempre alimenta versões rigorosas sobre o caráter do governador. O jornalista Luis Nassif, por exemplo, não faz por menos: considera Tarcísio a maior ameaça à democracia brasileira e "a mais perigosa expressão do bolsonarismo" (leia aqui).
Desde então, uma vez vitorioso nas urnas graças em especial à adesão dos setores mais conservadores do eleitorado paulista à sua campanha, Tarcísio tem montado junto à maioria neoliberal da Assembleia Legislativa uma política de fatos consumados em torno das bandeiras na disputa ideológica e administrativa de sempre: abastecimento, transporte, educação e segurança (em algumas situações lado a lado com seu afilhado político, o prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes). Para todos esses setores de ação dos serviços públicos, o governador adota o receituário desastrado das práticas privatistas e, com elas, acumula denúncias de redução da proteção social do Estado à população em troca da verdadeira liquidação que tem promovido do patrimônio público. a desmontagem física e pedagógica da rede pública de ensino, a explosão da letalidade policial especialmente nos redutos da população mais carente do estado, a liquidação a preço de banana da Sabesp, o caos e o abandono dos projetos de transporte coletivo em benefício de estruturas viárias que beneficiam o transporte individual.
Esse cenário, que em tudo fortalece uma modulação desideologizada e anti petista da administração pública, faz as delícias da mídia: antes mesmo de eleito para o governo do Estado, Tarcísio recebeu cheques em branco dos principais veículos, com destaque para a Folha e para a Globo e continua gozando desse aval; sua imagem é construída sob a simbologia do "bom moço" dinâmico e matador de bandidos... Mas ninguém se ilude e nem é preciso muito ir muito longe: basta um dia para o usuário das linhas privatizadas do metrô entender que a incompetência das concessionárias tem que ser rechaçada junto com quem as defende. Ou viver a tragédia das chacinas que decorrem de inúmeras ações da PM sob a complacência do próprio secretário da segurança. Em tudo isso, a população sofre uma experiência de caos e de abandono, um resultado que favorece a oposição
Em favor dessa percepção o que se observa é que os tempos têm mudado, principalmente em 2 direções: nas relações com o governo federal cujas práticas federativas desautorizam uma eventual queda de braço entre Tarcísio e Lula (o projeto de construção do túnel Santos-Guarujá é um exemplo) e nas evidências de que Bolsonaro não é boa referência nem para freira carmelita. Ou seja: o terreno da aceitação do governador vai se tornando movediço, ainda mais agora com o estreitamento das bases de apoio de Bolsonaro, uma figura tóxica que contamina tudo o que toca. Ninguém duvida de que Tarcísio não rouba jóias, mas é amigo de quem o faz. Tarcísio não é um torturador, mas vários de seus amigos o são; Tarcísio não vai fugir do Brasil, mas a família inteira de Bolsonaro está se organizando para isso. Em resumo e para reavivar o ditado que decoramos desde sempre: "diga-me com quem andas e eu te direi quem és".
O percurso do processo que vai levar ao julgamento dos envolvidos no 8/1 é longo e certamente vai frustrar o pessoal que quer pressa na condenação dos golpistas, mas a demora é purgativa e permitirá à sociedade saber com quem ela está lidando. A figura de Tarcísio de Freitas vai estar nessa berlinda (J.S.Faro)
# Antologia do noticiário sobre Tarcísio de Freitas reunido no clipping do site
Como essa gente chegou até aqui?
Cenário perturbador
A história não chegou ao fim, pelo contrário, vai acontecendo em curso de aceleração, momento de grande relevância que nos captura em vertigens, angústias e incertezas. Tanto no caso particular do Brasil quanto no cenário internacional. As conexões entre os dois planos são muitas, mas sobressai o contexto de crise da democracia liberal com os rearranjos provocados pela emergência do nacional-populismo autoritário de direita, pano de fundo contra o qual as ações acontecem em interação com uma miríade de fatores e complexidades. # Leia Marcos Augusto Gonçalves, na Folha
# Teses frustradas de um réu. Rafael Mafei (Piauí)
# Tarcísio vive o risco de ser o Dória 2026. Leonardo Miazzo (Carta Capital)
# O julgamento do STF e o jeitinho do andar de cima. Luis Nassif (GGN)
# O voto de Alexandre de Moraes. Manoela Alcântara (Metrópoles)
Para quem dizia jogar "nas quatro lnhas", as quatro paredes de uma cela o farão sentir-se em casa
# Ruy Castro (Folha)
# Adolescência: as trincheiras da subjetividade em tempos de ascensão da extrema direita. Cauana Mestre (Boitempo)
# Em busca de ideias-força para mudar o mundo. Perry Anderson (Outra Palavras)
# O drama palestino e a necessidade de uma nova política internacional. Márcia Junges (IHU)
Argentina: # Forças policiais de Milei agridem aposentados # O golpe de 76 e a "guerra suja" (Opera Mundi)
Cineasta vencedor do Oscar é preso e torturado em Gaza
# Opera Mundi # G1
Nos EUA, liberdade sob ataque
# Trump sobre estudantes e universidades (G1)
Há 103 anos, em 25 de março de 1922, era fundado em Niterói o Partido Comunista do Brasil — PCB. A agremiação teve papel fundamental no processo de articulação da classe trabalhadora e dos movimentos sociais brasileiros, além de ter abrigado parte substancial das maiores lideranças revolucionárias ativas no país ao longo do século 20.
O PCB foi alvo frequente da perseguição e da repressão estatal e passou a maior parte de sua existência na ilegalidade. O partido enfrentou diversas crises e cisões internas que levaram à saída de membros históricos, ao surgimento de novas agremiações e sucessivas reformulações do seu programa.
Sem conseguir se recuperar da repressão sofrida durante a ditadura militar, o partido foi legalmente dissolvido em 1992, tendo seu registro eleitoral e patrimônio herdados pelo Partido Popular Socialista (atual Cidadania).
Não obstante, um grupo de militantes históricos conseguiu obter o domínio do nome e da legenda, reorganizando o partido. Tanto o PCdoB (dissidência criada em 1962) quanto o novo PCB (reorganizado em 1993) consideram-se legítimos sucessores do PCB histórico (continue a leitura de Estevam Silva, Opera Mundi)
STF torna-se fiador da democracia no Brasil e coloca sociedade frente a frente com o fascismo - um ajuste de contas com o passado e com o presente
Assista aqui ao voto de Carmen Lúcia (Youtube) ou leia o texto integral da manifestação da ministra do STF contra os crimes do bolsonarismo (Uol)
Voto de Carmen Lúcia marcou a sensibilidade do STF em relação ao golpe assassino de Bolsonaro e de seus cúmplices. Foi a composição aguda com a racionalidade competente do voto de Alexandre de Moraes. Entre uma lógica e outra, o bolsonarismo ficou mais perto da cadeia.
O acolhimento da denúncia contra o ex-presidente era tão previsível que a reação
desnorteada de Jair Bolsonaro sugere o estreitamento das saídas de que dispõe para
não mofar na cadeia.
Depois de sua defesa militar na ausência de vínculos entre Bolsonaro e a tentativa
de golpe, o ex-presidente confirmou reunião com os comandantes militares para
discutir a minuta golpista, apresentada pelo ministro Alexandre de Moraes nesta
quarta como indício de materialidade da denúncia.
Dos EUA, o blogueiro Paulo Figueiredo, foragido da Justiça brasileira e elo dos
bolsonaristas com a extrema-direita americana, lamentou o “comportamento
errático” do ex-presidente: “[Bolsonaro] cag... tudo (...) É um ótimo homem, mas um
péssimo estrategista. Não é à toa que estamos nessa m... de dar gosto”.
O julgamento ainda vai tomar seis meses, mas uma condenação deixaria três saídas
para Bolsonaro: a eleição de um aliado que o indulte, a eleição de uma bancada de
senadores que alcance o quórum de 2/3 para o impeachment de ministros do STF e
uma pressão americana redobrada contra a Corte.
O encurralamento começou de fora para dentro. Ainda na noite de terça-feira o
presidente americano, Donald Trump, citou o Brasil como modelo de segurança
eleitoral a ser seguido pelos Estados Unidos no decreto destinado a impedir o voto
de imigrantes. Como a insurgência contra o resultado das urnas é um dos motivos
pelos quais Bolsonaro está no banco de réus, o decreto sugere que os
constrangimentos da extrema-direita brasileira estão na rabeira das preocupações
de Trump.
São, portanto, diminutas as chances de o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) ser
bem-sucedido em suas tratativas junto à Casa Branca e voltar ao Brasil consagrado
para disputar a eleição no lugar do pai. Restaria ao ex-presidente apoiar o
governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, se pretende obter um indulto
presidencial.
Como ato desta natureza pode ser anulado pelo Supremo, está dada a prioridade do
ex-presidente à eleição de uma bancada para o Senado que lhe permita atingir oquórum de 2/3 para o impeachment de togados.
A ida de Bolsonaro ao plenário do STF para encarar seus algozes na terça ofereceu
um contraponto à péssima repercussão do refúgio do filho nos EUA, tido por
covarde. A ida ao Senado na quarta, onde assistiu a sessão ao lado de outro filho, o
senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), poderia sugerir que o ex-presidente começava ali
sua campanha para fazer a superbancada no Senado.
Não seria tão inalcançável assim, visto que em 2026 renovam-se 2/3 das cadeiras, mas o grau de desnorteamento do ex-presidente desautoriza expectativas sobre suas estratégias de sobrevivência.
A Corte de seus algozes, por outro lado, já esteve mais desunida. Depois de tentar,
sem sucesso, abordar o ministro Alexandre de Moraes, o ministro Luiz Fux partiu
para expor suas divergências abertamente no primeiro dia de julgamento, quando
lançou suspeitas sobre a delação.
No segundo dia, depois de avisar que revisaria a dosimetria (“debaixo da toga bate
um coração”), Fux elogiou o voto de Moraes (“não deixou pedra sobre pedra”). Em
contrapartida, o ministro relator, num gesto de conciliação, acolheu a divergência:
“Defendo a independência de cada um e vossa excelência vai poder trazer sua
reflexão para a turma”.
Com a delação na berlinda, Moraes decidiu focar seu voto nos indícios de
materialidade tão cobrados pelos advogados, a começar pelo vídeo com os atos
mais violentos do 8/1. Ressaltou o reconhecimento da quase totalidade da defesa à
gravidade da invasão dos Poderes, e, em resposta a José Luis de Oliveira Lima, que
reclamou acesso aos autos, citou mensagem de seu cliente (general Walter Braga
Netto) - “Senta o pau no Batista Jr, traidor da pátria. Inferniza a vida dele e da
família.
F... o BJ” - antes de concluir que até a máfia tem código de conduta para não
envolver a família.
Foi seguido pelo ministro Flávio Dino, que se valeu do golpe de 1964 para contestar
a tentativa de minimização do 8/1 pela inexistência de mortes naquele dia. “É uma
desonra à memória nacional”, afirmou, numa referência aos mortos pelos 21 anos
de ditadura, iniciado por um golpe que, no primeiro dia, também não fez vítimas.
Mencionou ainda os regimes totalitários contra a banalização dos acontecimentos.
“Aqueles que, nos anos 1920 e 1930, normalizaram Mussolini e Hitler se
arrependeram quando viram as consequências nos campos de concentração”.
Na linha de que não se faz um golpe em um dia, a ministra Cármen Lúcia citou livro
no prelo da historiadora Heloísa Starling que mostra como o golpe de 1964 começou
a ser urdido a partir da Constituição de 1946.
Lembrou a tentativa de obstrução ao voto dos eleitores do Nordeste, pela Polícia
Rodoviária Federal, e que sua sugestão de antecipar a diplomação do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva do dia 19 para o dia 12 resultou da percepção de que se
vivia, naquele momento, com o “ruído” debaixo dos pés - “Não foi um passeio na
calçada do Forte Apache”.
Se Bolsonaro não tem Trump, custará a dominar o Senado e está a reboque em
2026, ainda pode contar com motoristas bêbados. Na noite de terça, Marcio
Saldanha jogou seu caminhão contra viatura da PRF em Brasília: “Fiz de propósito, é
revoltante o Estado perder Bolsonaro”. Seu etilômetro superou três vezes o limite.
Maria Cristina Fernandes é jornalista do Valor. Escreve às terças e quintasfeiras
E-mail: mcristina.fernandes@valor.com.br
# Jornalismo tropeça no despreparo do repórter ou é o contrário?
O caso Julia Duailibi X Fernando Haddad, por Luis Nassif
(leia aqui)
Agora, o capital não se limita a informalizar. Mesmo as ocupações “com carteira” são precárias: prontidão sem fim, tarefas em casa, trabalho não pago, insegurança constante. # Tiago Magaldi e Mateus Silveira de Souza (Outras Palavras)
Como foram os dias do processo que vai colocar o capitão fascista e toda a facção que o segue na cadeia
# Natuza Nery # Raquel Landim # Thaís Bilenky # Sakamoto # 247 # Pública # DW # O relatório de Alexandre de Moraes sobre os crimes da quadriha bolsonarista
# Como funciona o julgamento Thiago Domenici (Pública)
# Paulo Gonet (wikipedia)
O teor do relatório do Procurador Paulo Gonet Branco, análises e perspectivas do processo: a abrangência da denúncia e o grau de envolvimento dos acusados na conspiração que pretendia assassinar as principais autoridades da república, entre elas o próprio Presidente Lula
General Villas Boas e Jair Bolsonaro: fugindo da História
Nesta véspera do início julgamento de Bolsonaro et caserna no Supremo, convém lembrar de outra anistia, além da Lei 6.683/1979, também imbricada com o golpismo e os golpistas atuais. “A outra anistia”. Este é o nome do nono capítulo do livro Poder camuflado: os militares e a política, do fim da ditadura à aliança com Bolsonaro (Companhia das Letras, 2022), do jornalista Fabio Victor
# Leia Hugo Souza em Come Ananás