Sequência ininterrupta de iniciativas que desestabilizam os fundamentos da globalização provoca sensações de impotência e de conformismo. Pode ser, no entanto, que o vazio deixado pela desnormatização geral do capitalismo crie rupturas na contramão daquilo que Trump pretende. Será possível tornar a América forte outra vez?
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Presidente destacou que seu governo prioriza políticas púbicas inclusivas (247)
# Desinformação é o maior rsco para a Humanidade em 2025
Mensagens falsas são um dos principais desafios globais (ICL)
# Como e por que Trump está 'afogando' a imprensa.
Ameaças marcam início do novo governo (Carta Capital)
Do Brasil à Alemanha, a interferência das big techs na política tem despertado preocupação. No país latino-americano, Elon Musk, proprietário do X (antigo Twitter), confrontou o Supremo Tribunal Federal (STF) ao desafiar decisões que determinavam o bloqueio de contas ligadas a redes de desinformação e ataques à democracia. Em meio ao conflito, o bilionário chegou a sugerir que os brasileiros burlassem restrições judiciais, acirrando o embate entre a plataforma e o Judiciário.
Na Alemanha, Musk escancarou seu alinhamento com a ultradireita ao apoiar o partido Alternativa para a Alemanha (AfD), participando de eventos políticos e normalizando discursos extremistas.
Nos Estados Unidos, integrantes da “elite tecnológica” tiveram lugar de destaque na posse de Donald Trump em janeiro de 2025. Durante a cerimônia, gestos de Musk que remeteram à saudação nazista geraram indignação internacional e reforçaram temores a respeito da influência das big techs na ascensão de governos autoritários.
No mesmo mês, o CEO da Meta – companhia que controla Facebook, Instagram e Whatsapp – Mark Zuckerberg afirmou que vai trabalhar com o presidente estadunidense para impedir o avanço de países que buscam regular o ambiente digital. E fez insinuações sobre a existência de “tribunais secretos” na América Latina.A declaração foi interpretada, no Brasil, como uma referência indireta ao STF, que tem julgado casos de desinformação envolvendo as plataformas digitais no país.
Solo fértil para desinformação
As redes sociais se tornaram terreno fértil para a desinformação. Estudos indicam que setores alinhados à extrema direita se beneficiaram dessas plataformas, transformando-as em espaços de criação e fortalecimento de “bolhas informativas” — ambientes onde os usuários interagem predominantemente com conteúdos que reforçam suas convicções e limitam o debate plural.
Esse fenômeno é intensificado pelos algoritmos das plataformas, que priorizam conteúdos com alto potencial de engajamento. Notícias falsas e sensacionalistas, por despertarem emoções como medo e indignação, tendem a se espalhar mais rapidamente do que conteúdos informativos. Isto é o que aponta uma pesquisa do Massachusetts Institute of Technology (MIT). O estudo revelou que notícias falsas populares atingem até 100 mil pessoas, enquanto as verdadeiras raramente ultrapassam o alcance de mil indivíduos. Esse descompasso evidencia o papel dos algoritmos na amplificação de conteúdos polarizadores, tornando as plataformas peças-chave no ecossistema da desinformação.
Esse ciclo cria um ambiente propício para a manipulação da opinião pública, com impactos diretos sobre processos democráticos. Segundo pesquisa do Instituto DataSenado, 81% dos brasileiros acreditam que as fake news podem afetar significativamente o resultado das eleições.
Fake news: uma ameaça ao processo eleitoral
O impacto das fake news na democracia não se limita à percepção popular. Já se manifestou de forma bem concreta nas últimas eleições brasileiras. Um estudo de Margareth Vetis Zaganelli e Simone Guerra Maziero, publicado na Revista Eletrônica de Direito Eleitoral e Sistema Político, aponta que a disseminação de desinformação eleitoral ganhou força a partir de 2018, tornando-se um instrumento de manipulação política.
As eleições de 2018 e 2022 foram marcadas pelo uso de fake news com a intenção de deslegitimar o sistema eleitoral. Informações falsas sobre as urnas eletrônicas foram amplamente compartilhadas, alimentando a desconfiança no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Vídeos manipulados, memes e mensagens de áudio circularam massivamente em aplicativos como WhatsApp e Telegram, criando um ambiente de descrença e instabilidade.
Além disso, uma análise conduzida pela Agência Lupa, em parceria com a USP e a UFMG, examinou 347 grupos públicos de WhatsApp durante o segundo turno das eleições de 2018. O estudo revelou que, entre as cinquenta imagens mais compartilhadas, apenas quatro eram verdadeiras. Isso demonstra como conteúdos manipulados e retirados de contexto foram amplificados, influenciando diretamente o processo democrático e aprofundando a polarização política.
O papel dos algoritmos e o modelo de negócios das big techs
As grandes plataformas digitais, como Facebook, WhatsApp, Telegram e X, não só facilitam a disseminação de desinformação como também lucram com ela. O modelo de negócios dessas empresas é baseado na “economia da atenção”, em que conteúdos que geram forte reação emocional – como medo, raiva ou indignação – são priorizados para maximizar o tempo de permanência dos usuários.
O professor da UFABC Sérgio Amadeu, no artigo “Plataformas se convertem em estruturas geopolíticas da extrema direita”, argumenta que as redes sociais aplicam na prática o princípio de Goebbels: “uma postagem é verdadeira se for replicada um milhão de vezes”. O pesquisador explica que as plataformas digitais operam com base na coleta massiva de dados dos usuários, permitindo que conteúdos polarizadores sejam direcionados com precisão para maximizar o engajamento. Esse ciclo vicioso favorece a radicalização política e dificulta o combate à desinformação.
Conflitos entre big techs e instituições democráticas no Brasil
A influência das big techs na política não se limita à disseminação de desinformação durante as eleições. Essas plataformas também ocuparam um espaço central na mobilização de ações antidemocráticas. O episódio mais emblemático desse uso estratégico pela extrema direita no Brasil ocorreu em 8 de janeiro de 2023, quando apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro invadiram a Praça dos Três Poderes, em Brasília.
Investigações revelaram que aplicativos como Telegram e WhatsApp foram utilizados para coordenar as ações, enquanto o X serviu como espaço para disseminação de mensagens extremistas e incitações à insurreição. Segundo Zaganelli e Maziero, “a desinformação viralizada nas redes sociais, além de moldar a opinião pública, incentiva narrativas que questionam a legitimidade das instituições democráticas”.
O Relatório Final da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro de 2023 reforça essa análise ao descrever como milicianos digitais foram empregados para disseminar medo, desqualificar adversários e atacar o sistema eleitoral. O documento destaca que “os golpes modernos (…) não usam tanques, cabos e soldados”. Os ataques seguiram uma estratégia de guerra híbrida, que combina desinformação massiva com ações políticas e sociais. Esse modelo, impulsionado pelas redes sociais, intensificou a radicalização e incentivou ações violentas contra as instituições democráticas.
STF versus X: a crise entre justiça e as big techs
O embate entre o STF e a plataforma X tornou-se um dos maiores confrontos entre uma big tech e o Estado brasileiro. O conflito remonta a investigações anteriores sobre redes de desinformação, mas ganhou força após os atos de 8 de janeiro de 2023, quando grupos bolsonaristas tentaram depor o governo democraticamente eleito.
Após os ataques às sedes dos Três Poderes, a Corte determinou o bloqueio de contas dos envolvidos na disseminação de fake news e incitação à violência contra as instituições democráticas. Essas suspensões foram baseadas em investigações já em andamento, como o Inquérito das Milícias Digitais (Inq. 4.874) e o Inquérito das Fake News (Inq. 4.781), que apuram o uso de redes sociais para organizar ataques ao regime democrático.
Em abril de 2024, o conflito escalou quando Elon Musk criticou publicamente o STF e ameaçou reativar as contas bloqueadas por decisões judiciais. Musk acusou o ministro Alexandre de Moraes de censurar a plataforma e sugeriu que usuários brasileiros utilizassem redes privadas virtuais (VPNs) para burlar as restrições impostas pela Justiça.
Em resposta, Moraes determinou a inclusão de Musk como investigado no Inquérito das Milícias Digitais, sob suspeita de obstrução de Justiça, incitação ao crime e desobediência a decisões judiciais. O ministro também instaurou um novo inquérito para apurar especificamente a conduta do empresário.
O caso alcançou seu ápice em 30 de agosto de 2024, quando o ministro determinou a suspensão da plataforma X em todo o território nacional. A decisão foi referendada por unanimidade pela Primeira Turma do STF em 2 de setembro, após a Corte considerar que todas as tentativas de fazer com que a plataforma cumprisse as ordens judiciais e pagasse as multas impostas haviam sido esgotadas.
O Supremo autorizou o retorno da plataforma X ao Brasil em 8 de outubro de 2024, após a empresa cumprir as exigências estipuladas pelo tribunal. Entre as condicionantes para a retomada do serviço, a empresa:
bloqueou os perfis que disseminavam fake news e incitação à violência;
nomeou um representante legal no Brasil, requisito obrigatório para empresas estrangeiras que operam no país; e
pagou integralmente as multas impostas, que totalizaram R$ 28,6 milhões.
A influência das big techs no debate global sobre redes sociais
A influência das big techs na política e o apoio à extrema direita global se intensificou nos últimos anos. E Elon Musk tem desempenhado um papel ativo. Em dezembro de 2024, ele declarou publicamente seu apoio ao partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha, afirmando na plataforma X que “apenas a AfD pode salvar a Alemanha“. Pouco tempo depois, em janeiro de 2025, Musk participou virtualmente de um evento de campanha do partido, no qual incentivou os alemães a “superarem a culpa do passado“ e se orgulharem de sua cultura.
Nos Estados Unidos, a posse de Donald Trump como presidente, em janeiro de 2025, evidenciou ainda mais a conexão entre as big techs e a radicalização digital. CEOs e donos de empresas do setor tiveram lugar de destaque na cerimônia, consolidando sua proximidade com a nova administração. Durante o evento, Elon Musk protagonizou um momento de grande repercussão ao fazer gestos que remetem à saudação nazista, gerando um “show de horrores” que rapidamente viralizou nas redes.
“Tribunais secretos” na América Latina
Alegando “censura nas redes sociais”, a Meta anunciou que vai se aliar à Trump para pressionar países que buscam regular o ambiente digital em suas regiões. “Vamos trabalhar com o presidente Trump para pressionar os governos ao redor do mundo que estão perseguindo empresas americanas e pressionando para censurar mais”, disse Zuckerberg. Nas palavras do empresário, “a única maneira de resistir a essa tendência global é com o apoio do governo dos EUA”. E acredita que a Europa está “institucionalizando a censura“, e que os países latino-americanos têm “tribunais secretos que podem ordenar que empresas retirem coisas discretamente”.
Embora Zuckerberg não tenha citado o STF explicitamente, membros do governo brasileiro entenderam a fala como uma crítica às decisões da Suprema Corte que envolvem remoção de conteúdos e moderação de plataformas digitais.
Fim da moderação: um convite ao discurso de ódio
O contexto da declaração ocorreu durante o anúncio do fim do programa de checagem de fatos da Meta e sua substituição por um sistema de “notas da comunidade”, semelhante ao adotado por Musk no X. A decisão gerou críticas de especialistas e organizações que alertam para os desafios das plataformas no combate à desinformação em um ambiente político já polarizado.
Em resposta à declaração do CEO da Meta, o Secretário de Políticas Digitais da Secretaria de Comunicação da Presidência, João Brant, criticou o fim da checagem profissional por meio de um post no LinkedIn: “significa um convite para o ativismo da extrema direita reforçar a utilização dessas redes como plataformas de sua ação política“. Brant destaca: “Facebook e Instagram vão se tornar plataformas que vão dar total peso à liberdade de expressão individual e deixar de proteger outros direitos individuais e coletivos”.
O anúncio gerou forte reação por parte de instituições como o Ministério Público Federal (MPF) e a Advocacia-Geral da União (AGU), que exigiram esclarecimentos da Meta sobre a moderação de conteúdos no país. Alguns dias depois, a Meta comunicou que manterá a checagem de fatos no Brasil, mas encerrará o programa nos EUA. Informou ainda que a empresa colocou em prática mudanças na Política de Conduta de Ódio, o que gerou preocupação no governo.
Diante do fato, a AGU convocou uma audiência pública em Brasília para discutir as novas políticas de moderação de conteúdo das plataformas digitais. De acordo com o órgão público, 45 agentes de instituições ligadas ao tema foram convidados, incluindo representantes de plataformas digitais, especialistas, agências de checagem de fatos, acadêmicos e organizações da sociedade civil. Apesar de convidadas, as plataformas digitais não compareceram.
A audiência pública reforçou a necessidade de regulação das big techs para evitar abusos, garantir a transparência na moderação de conteúdo e proteger os direitos fundamentais dos usuários. Especialistas apontaram que a falta de regras claras favorece a desinformação, o discurso de ódio e a exploração comercial dos usuários.
Defesa da regulamentação das plataformas digitais
Partidos de esquerda, setores progressistas da sociedade, movimentos sociais e organizações da sociedade civil defendem a criação de um arcabouço regulatório que imponha maior transparência às plataformas, responsabilize empresas por conteúdos impulsionados e crie mecanismos eficazes contra a disseminação de fake news.
“É preciso afirmar sempre que a promoção da integridade da informação não é censura e a regulação democrática não é uma restrição ilegítima da liberdade de expressão. E é preciso ter coragem para ir além do que a Europa conseguiu fazer com o DSA [Digital Services Act, lei de regulamentação de serviços digitais]”, defendeu Bia Barbosa, representante da organização Repórteres Sem Fronteiras, durante a audiência pública.
Regular as big techs: um passo essencial para frear a extrema direita
A influência das big techs na democracia brasileira e global evidencia o papel central dessas empresas na disseminação de desinformação e na radicalização política. O modelo de negócios dessas plataformas, baseado no engajamento e na priorização de conteúdos polarizadores, favorece diretamente a extrema direita, criando um ambiente digital propício à manipulação da opinião pública e à erosão das instituições democráticas.
No Brasil, os impactos desse fenômeno foram visíveis nas eleições recentes e em eventos como a invasão de 8 de janeiro de 2023, demonstrando como a desinformação se tornou um instrumento estratégico para movimentos autoritários. O embate entre governos e big techs, evidenciado no caso do STF contra a plataforma X, reforça a necessidade urgente de regulamentação para evitar que essas empresas continuem operando sem transparência e sem mecanismos eficazes de responsabilização.
A mobilização de setores progressistas e a defesa de um arcabouço regulatório para as plataformas digitais são passos essenciais para restaurar o equilíbrio do debate público e proteger a democracia. O desafio, contudo, é enfrentar o forte lobby das big techs, que utilizam sua influência global para tentar barrar qualquer tentativa de regulação.
Garantir transparência, responsabilidade e justiça na moderação de conteúdo é fundamental para impedir que a lógica do lucro continue se sobrepondo à integridade da informação e ao direito da sociedade a um ambiente digital democrático e plural. Concluo com uma reflexão de Isabel Loureiro, professora de filosofia, durante a aula “Socialismo ou Barbárie” do curso “O Legado Revolucionário de Rosa Luxemburgo”: “Rosa Luxemburgo propõe que os partidos de esquerda não abram mão de seus princípios, mesmo que corram o risco de perder seguidores”.
Katarine Flor é jornalista e coordenadora de comunicação no escritório de São Paulo da Fundação Rosa Luxemburgo.
Tenho visto muitas matérias na imprensa afirmando que a Usaid, embora tenha apoiado golpes de Estado nos anos 1960 e 1970, teria agora se voltado para a promoção da democracia. Também é uma visão ingênua e pouco informada. Afinal, como um dos principais instrumentos de soft power do governo norte-americano, a agência de desenvolvimento internacional sempre apoiou grupos de direita, em especial aqueles que se opuseram a governos que poderiam de fato reduzir a influência americana aqui no nosso continente.
Basta dar uma olhada nos arquivos da Agência Pública, que há mais de uma década investiga a influência norte-americana na América Latina. Aliás, você pode ajudar a Pública a fazer mais investigações sobre o tema apoiando aqui.
Temos complô contra o governo de Hugo Chávez? Temos. Nessa reportagem, feita com base em dezenas de arquivos do WikiLeaks, relatamos tintim por tintim a estratégia traçada pelo embaixador americano para derrotar o bolivariano, em 2004. “O foco da estratégia é: 1) Fortalecer instituições democráticas, 2) Infiltrar-se na base política de Chávez, 3) Dividir o Chavismo, 4) Proteger negócios vitais para os EUA, e 5) Isolar Chávez internacionalmente”, relatou o embaixador, sem papas na língua.
Na mesma linha, outra reportagem que vale ler relata como um espião machista e assediador chegou a ser plantado pela Usaid em Caracas – ele dirigia uma empresa financiada pela agência – e teve que sair correndo do país depois de ter sido acusado de olhar os peitos das funcionárias e dizer coisas como “se vocês conseguissem segurar uma pílula entre os joelhos, eu não teria que gastar dinheiro pagando por licença-maternidade”. Sua função era minar a confiança no governo Chávez.
No Haiti, a Usaid deixou suas digitais na orquestração para retirar do poder o presidente Jean-Baptiste Aristide, retirado do país em um avião militar norte-americano na madrugada de 29 de fevereiro de 2004, depois de meses de greves e protestos que degeneraram em rebelião armada.
A organização IRI, International Republican Institute, financiada pela Usaid, havia treinado 600 líderes rebeldes durante meses em “cursos de treinamento político” na República Dominicana nos anos de 2002 e 2003. Investigado pelo Congresso dos Estados Unidos, o IRI foi acusado de estar por trás de duas organizações que conspiraram para derrubar Aristide: o Grupo 184, coalizão de 184 ONGs capitaneada por André Apaid, empresário que participou do primeiro golpe contra Aristide, em 1991; e a Convergence Démocratique, frente oposicionista formada em 2000 por diversas facções da elite do país.
Na Bolívia, segundo documentos do governo americano obtidos pelo jornalista Jeremy Bigwood, a Usaid manteve um “Escritório para Iniciativas de Transição”, que investiu 97 milhões de dólares em projetos de “descentralização” e “autonomias regionais” por uma década, fortalecendo os governos estaduais que se opunham a Evo Morales. Em 2013, Morales expulsou a agência do seu país, acusando-a de financiar a oposição ao seu governo.
O impeachment de Fernando Lugo, em 2012, também teve influência da Usaid, como demonstrei detalhadamente na série “O bispo e seus tubarões”. Durante cinco anos, a Usaid financiou, com mais de 100 milhões de dólares, o treinamento de policiais, militares e juízes que estiveram presentes em momentos cruciais da trama que tirou do poder o único presidente de esquerda do país.
Entre 2005 e 2010, cerca de mil militares e policiais foram treinados – a maioria em 2009, ano seguinte à posse de Lugo – e dali saíram alguns comandantes das Forças Armadas nomeados pelo seu sucessor, Federico Franco, quando assumiu o poder. O chefe da Usaid no país foi flagrado, em emails que obtivemos via pedidos pela Lei de Acesso à Informação (LAI), orquestrando alianças com o governo que assumiu depois de Lugo, antes mesmo de o impeachment ter sido votado.
Mas e o Brasil? Você me pergunta.
Sim, também no Brasil a Usaid fortaleceu grupos de direita. Na reportagem “A nova roupa da direita”, escrita por Marina Amaral em 2015, ela demonstrou a influência da Atlas Network na construção da emergente direita “renovada” na América Latina, incluindo o MBL, que nasceu do capítulo nacional da organização Students for Liberty. A Atlas recebeu financiamento da Usaid, segundo reportagem do Intercept, e chegou até mesmo a recomendar a um diretor da filial da Coca-Cola no Panamá colaborar com a Atlas para a criação de um think tank liberal no país.
Entre os membros da Atlas Network estão institutos que foram cruciais para a reorganização da direita política no Brasil antes do impeachment de Dilma Rousseff, como o Instituto Millenium, o Instituto Mises Brasil, os institutos liberais de São Paulo e do Rio, além do Livres.
A Usaid é tão importante para os planos da direita americana que o famoso documento Projeto 2025, da Heritage Foundation, que tem servido de “mapa de ação” ao governo Trump, sugeria que ela deveria ser usada para servi-lo, focando em impulsionar “políticas pró-vida e pró-família” – leia-se antimulheres – e projetos que defendam “liberdade religiosa”. Coisa, aliás, que Donald Trump já fez em seu primeiro mandato.
Não será aqui que você vai ler uma defesa da Usaid, portanto.
Mas me pergunto por que, então, Elon Musk ignora o quanto a agência serviu à direita no seu “exposé”, e por que pretende destruí-la?
A resposta pode ser mais prosaica – e mais deprimente – do que parece. Talvez Musk esteja apenas se vingando da agência, que em maio do ano passado iniciou uma investigação sobre o uso das antenas Starlink pelo governo ucraniano cedidas pela Usaid. Porque, afinal, embora Musk se esqueça de mencionar isso, a Usaid colaborou no contrato de 3 milhões de dólares à Starlink para apoiar a resistência da Ucrânia à invasão russa, além de mais 1 milhão para levar a internet ao Zimbábue e à África do Sul.
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"Segurança interna, Defesa e pouco mais, é isso que continuará a ser público e financiado no país de Trump: um Estado armado, e o restante - saúde e educação, em primeiro lugar - será acertado pelos cartões de crédito de quem pode, e quem não pode que se vire porque a mamata acabou, como diria o trumpista de casa", escreve Michele Serra, jornalista, escritor e roteirista italiano, em artigo publicado por La Reppublica (leia aqui)
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Processo surge como limitação da politica.
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# A cena histórica do último capítulo e a música tema na abertura da novela (interpretação de Gal Costa)
Texto de Fernando de Barros e Silva - Yes, nós temos banana - publicado na Piauí em fevereiro deste ano da Graça de 2025, o ano do remake da novela que tentou fotografar o Brasil. Leitura indispensável (acesse)
A estreia de Vale tudo está prevista para o próximo dia 31 de março. A novela das nove da Globo começa no mesmo dia que os militares comemoram – no mundo real ainda é disso que se trata, eles de fato comemoram – o 61º aniversário do golpe de Estado que destituiu João Goulart do poder, nos idos de 1964. Tão longe, mas tão perto. A data este ano cai numa segunda-feira, e muito provavelmente tudo não passa de uma coincidência um pouco constrangedora, mas que fala à imaginação. Nem sempre foi assim, uma casualidade.
A inauguração oficial da televisão em cores no Brasil, por exemplo, aconteceu de forma deliberada no dia 31 de março de 1972, por imposição dos militares. A primeira transmissão colorida ocorreu, na verdade, durante a Festa da Uva de Caxias do Sul, em 19 de fevereiro, com a presença do general Garrastazu Médici, então na Presidência. A Globo teve lugar de destaque nas festividades.
Walter Clark, à época diretor-geral da emissora, se refere à festa da seguinte forma, em sua autobiografia, O campeão de audiência:
Para aumentar ainda mais o brilhareco da Rede Globo, convoquei um grupo de artistas para aparecer na festa, de surpresa. Quando o desfile começou, surgiram na avenida Jô Soares, Tônia Carrero, Francisco Cuoco e outros. Foi uma ovação danada. Sucesso arrasador. O Médici e dona Scylla chamaram o Jô e a Tônia para assistir ao desfile com eles. Os outros artistas foram paparicados, só deu Globo.
Embora a família Marinho tenha colaborado com a ditadura praticamente do início ao fim, nem sempre as relações da Globo com os militares foram tranquilas. Houve momentos de tensão.
O caso de Roque Santeiro é emblemático. A estreia estava prevista para o final de agosto de 1975. Seria a primeira novela em cores no horário nobre da emissora, uma forma de comemorar dez anos de existência e reafirmar a hegemonia já então conquistada. Depois de passar meses a fio negociando com os militares – tudo era submetido à Divisão de Censura de Diversões Públicas –, a Globo recebeu, a uma semana da estreia, o comunicado de que a novela não poderia ir ao ar naquele horário. Mais do que isso, a trama teria que passar por cortes substantivos para que pudesse ser exibida mais tarde. A crise entre a emissora e o governo se arrastou por uma semana, sem que se chegasse a um acordo, como era praxe.
Na noite de 27 de agosto, depois da exibição da música de abertura da novela, Cid Moreira, que havia acabado de apresentar o Jornal Nacional, reapareceu diante das câmeras e leu, ao vivo, um editorial assinado por Roberto Marinho. O texto expunha o problema aos telespectadores e assumia discordâncias com os militares. Foi a primeira divergência pública da Globo com o governo, segundo o relato da jornalista Laura Mattos, autora do livro Herói mutilado: Roque Santeiro e os bastidores da censura à tv na ditadura (Companhia das Letras). Àquela altura, 36 capítulos de Roque Santeiro já estavam finalizados. Foram para a lata de lixo.
A novela de Dias Gomes seria exibida, em nova versão, dez anos mais tarde, de meados de 1985 a fevereiro de 1986. O presidente já era José Sarney, e o país vivia o começo da Nova República (essa que não se sabe ao certo se chegou ao fim, ou se foi sem nunca ter sido). Apesar da distensão política, a turma da tesoura ainda estava operante. Laura Mattos conta que a Divisão de Censura de Diversões Públicas produziu um calhamaço de 597 páginas sobre Roque Santeiro, entre comentários, recomendações e cortes.
A ênfase das restrições dizia respeito ao que se chama de “moral e bons costumes” (seja lá o que isso signifique). Trajes “audaciosos”, linguagem com “malícia acentuada”, abordagens de “adultério, prostituição e insatisfação sexual”, tudo isso atormentava a mente dos censores. Mas havia também preocupação com “mensagens favoráveis ao movimento dissidente da Igreja Católica”, numa alusão à Teologia da Libertação.
A despeito de tudo, Sinhozinho Malta e Viúva Porcina caíram nas graças do público. Roque Santeiro é a novela de maior audiência da história da tevê brasileira. Como havia feito com Bole-Bole em Saramandaia (1976) e com Sucupira em O bem-amado (1977), Dias Gomes transformou a cidadezinha imaginária de Asa Branca numa alegoria do país. “Ao rir de Asa Branca, o Brasil na verdade está rindo de si mesmo”, disse na época José Wilker, o Roque Santeiro, à revista Veja.
Expressão figurada de uma realidade, a alegoria era recorrente na obra de Dias Gomes e foi uma arma eficaz para driblar a censura. Vale tudo está muito distante desse universo. Nem alegoria, nem metáfora, nenhum recado cifrado, nada de subentendidos, a novela de Gilberto Braga chegava com a pretensão de ser o retrato escarrado do Brasil.
Escrita em parceria com Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, a versão original de Vale tudo estreou em maio de 1988. No final daquele ano, a inflação acumulada em doze meses ultrapassaria a marca surreal dos 900%. O país vinha de dois planos de estabilização frustrados – o Cruzado, em 1986, e o Bresser, em 1987. Em 1989 seria a vez do Plano Verão, que também naufragou. Quem cresceu depois do Plano Real, de 1994, não tem ideia do que era viver num país em que o dinheiro derretia, evaporava, se desfazia ao longo do mês.
A perda de parâmetros e a sensação de vertigem que decorrem da corrosão da moeda compõem a atmosfera de Vale tudo, são uma espécie de substrato da novela. O que deflagra a trama, no entanto, é a corrosão moral. Gilberto Braga a resumiu na seguinte pergunta: “Vale a pena ser honesto num país onde todo mundo é desonesto?”
É complicado afirmar que o país era especialmente corrupto ou mais imoral há quarenta anos. Entre o Centrão de Roberto Cardoso Alves – que cunhou o bordão “é dando que se recebe” – e o Centrão de Arthur Lira, que recebe mais do que dá, difícil decidir quem vale menos.
O fato é que a Maria de Fátima de Glória Pires entrou para a história. Sua mãe, Raquel (Regina Duarte), guia de turismo em Foz do Iguaçu, era uma mulher suburbana e caxias, que acreditava no trabalho honesto e nos valores da família. A filha lhe passa a perna, vende o imóvel que herdou do avô e se manda para o Rio de Janeiro, onde pretende ser famosa e podre de rica. Maria de Fátima é arrivista, inescrupulosa e – importante – mais inteligente que a mãe.
No remake, a personagem será uma influencer digital. Na versão original, ela aspirava ser modelo. Foi curioso rever, tantos anos depois, aquela Maria de Fátima (Vale tudo está disponível no Globoplay). Logo no primeiro capítulo, há uma cena que define o páthos da novela. Diante da mãe, Fátima pede ao avô, fiscal da Receita Federal prestes a se aposentar, que a ajude a passar pela alfândega, sem pagar impostos, uma remessa de videocassetes. Ela quer fazer um favor a um pilantra que acabou de conhecer, César, misto de modelo e michê, vivido por Carlos Alberto Riccelli. O avô se nega, inicia um sermão invocando a honra e a dignidade, maldiz a corrupção e os corruptos e termina num discurso patriótico em defesa do progresso do país. Segue-se então o seguinte diálogo:
Maria de Fátima: O último homem honesto do Brasil, dava até reportagem pro Fantástico. […] Isso aqui é um país de trambiqueiro, gente. Vocês estão pensando que eu não leio jornal? Vai conseguir o que com sua honestidade, vovô? Vai acabar com os assaltantes, com os pivetes, com os marajás, com político ladrão, com os colarinhos brancos, que estão aí, dando golpes de milhões e milhões de dólares?
Raquel (interrompendo): Nem todo mundo é ladrão nessa terra, não senhora, dona Fátima! Tem muita gente aqui que trabalha e que é honesta.
Fátima (retrucando): Ninguém presta! Ninguém vale nada, ninguém cumpre lei nenhuma. De uma maneira ou de outra, aqui nessa terra todo mundo é corrupto.
A sequência é excessivamente didática, como observam os jornalistas Artur Xexéo e Mauricio Stycer ao comentar a cena na biografia Gilberto Braga, o Balzac da Globo (Intrínseca). De fato, em vários momentos da trama as coisas se passam como se a Globo fosse um aluno aplicado aprendendo a falar a verdade. Faz sentido, a emissora estava engatinhando na sua encarnação democrática. Vale tudo, lembram Xexéo e Stycer, foi a última novela a passar pelo crivo da Divisão de Censura de Diversões Públicas. A tesoura só parou de operar no dia 5 de outubro de 1988, quando a nova Constituição foi promulgada. Diálogos inteiros entre o casal lésbico da novela foram suprimidos da versão original.
A despeito do traço escolar – e apesar da obtusidade dos censores –, Vale tudo capturava de forma inédita o Zeitgeist do país. Na voz de Gal Costa, Brasil, de Cazuza, traduzia, em tom de desafio, quase como uma convocação, o sentimento de urgência daquele momento histórico, no qual se confundiam desamparo e esperança. “Brasil, mostra a tua cara!”
"De uma maneira ou de outra, aqui nessa terra todo mundo é corrupto” – a sentença de Maria de Fátima valia para ontem como vale para hoje. Era atual no Brasil da hiperinflação e de Sarney, segue atual no Brasil das emendas Pix e de Lula. Mas há uma diferença decisiva.
A vertigem antes era de natureza econômica, a desordem agora é essencialmente política. Traduzindo em termos concretos, a fala de Maria de Fátima soa mais convincente na boca de um bolsonarista. Não estamos insinuando que a tiktoker do horário nobre global deva aparecer apertando o 22 ou fazendo 17. Não é disso que se trata, obviamente. Trata-se do seguinte: hoje, o vale-tudo está na ascensão e na normalização da extrema direita, no Brasil e no mundo. Esse é o nó incontornável, o terrível espírito do tempo presente.
Manuela Dias, autora da nova versão, provocou reações inflamadas ao sugerir, em entrevista à Folha de S.Paulo, que o escracho do original estaria datado e que o país hoje pede outra abordagem. Cito o trecho: “Vale tudo foi a novela da volta da democracia, e naquele momento falar mal do Brasil, ou poder falar mal, era resistência, era revolucionário, era novo. Hoje não é mais. Estamos saturados.”
Não é o caso de criticar por antecipação uma novela que ainda não começou. Fica, porém, a dúvida se a autora expressava apenas uma convicção pessoal ou se também vocalizava uma conveniência da Globo. Até onde a emissora quer chegar no enfrentamento da realidade? Em 1988, a vilã Odete Roitman, vivida por Beatriz Segall, dizia coisas do tipo: “Você reserva para mim a suíte presidencial de um desses hotéis limpinhos aí. De preferência que não tenha um bando de mendigos na portaria tentando agarrar a gente”; “A única solução para a violência é a pena de morte. E, para ladrão, para assaltante, cortar a mão em praça pública.”
O pacto recente da elite brasileira com o diabo estará ou não estampado na tela?
Xexéo e Stycer recordam em seu livro que o ator Reginaldo Faria, no papel de Marco Aurélio, um empresário truculento e corrupto, ficou surpreso com a recepção festiva da cena final da novela entre representantes do mercado financeiro e o que, na época, se chamava de “grandes especuladores”. Ao escapar da polícia e fugir do país num jatinho, no momento que a aeronave se prepara para decolar, ele faz o gesto característico: dá uma senhora banana a quem fica. Era a apoteose do escárnio e da desfaçatez de classe.
O último capítulo de Vale tudo foi ao ar no dia 6 de janeiro de 1989. Quase um ano depois, em 17 de dezembro, o país elegeria Marco Aurélio presidente da República. Com a ajuda da Globo, que deu uma banana para o jornalismo na edição facciosa que fez do último e decisivo debate entre Fernando Collor e Lula. Isso tudo é história.
Não é difícil imaginar que a banana de Marco Aurélio, se reeditada, faria novamente a alegria dos rapazes da Faria Lima, do pessoal do agronegócio, de muito marmanjo que ostenta no peito a camisa amarela da Seleção. Mas não é preciso esperar para ver de novo.
A volta de Donald Trump ao poder está aí, para consagrar à vista de todos o novo vale-tudo. A saudação nazista de Elon Musk, no dia da posse do presidente americano, é a grande banana que a oligarquia digital do Vale do Silício dá à democracia no planeta. Está em andamento uma cruzada fascista pelo mundo, em nome de ideais libertários e a serviço da face mais destrutiva do capitalismo.
A desregulação total das redes, o livre trânsito das fake news e da barbárie digital, de um lado, e a aposta dobrada na energia fóssil, na exaustão definitiva dos recursos do planeta, de outro, estão na base do novo fundamentalismo de mercado, segundo o qual, para usar a expressão do historiador Timothy Snyder, “o governo é a fonte de todo mal” e o jogo democrático é um entrave a ser vencido. “Os oligarcas dos hidrocarbonetos vão perfurando a terra, e os oligarcas digitais vão perfurando a nossa mente”, escreveu Snyder em seu artigo Trump e o fascismo, publicado na piauí_219, dezembro de 2024. As pessoas que afirmam querer a liberdade individual, diz ele, “são as mesmas que clamam pelas deportações em massa”. Estamos vendo isso acontecer.
O governo de Javier Milei está adiantado em relação ao Brasil. O presidente anarcocapitalista acaba de encomendar uma pesquisa de opinião para saber se os argentinos aceitariam viver sob um regime autoritário. Segundo o jornal O Globo, a pergunta aos hermanos seria formulada nos seguintes termos: “Em que país você prefere viver? Num país com um governo democrático, que respeite os direitos individuais das pessoas, ou num país com um governo autoritário, que consiga bons resultados econômicos?” Ou seja, Milei já contratou o seu todo vale.
Por aqui, diante do impedimento de Bolsonaro, os patriotas estão à procura de um novo Marco Aurélio. Primeiro da fila, o governador Tarcísio de Freitas se prestou ao papel subalterno de vestir o boné com a inscrição Make America Great Again no dia em que Trump voltou à Casa Branca. Foi a sua banana – para o Brasil, para a democracia, para o amor-próprio.
Mesmo sabendo que a novela é um gênero acuado, que busca meios de sobreviver num ambiente em que a própria Globo perdeu parte de sua influência, espera-se que o remake de Vale Tudo esteja à altura do presente. “Brasil, mostra a tua cara” é um refrão que envelheceu. O país já exibiu sua nova fuça, e ela é assustadora. Para além do folhetim, no mundo real, ainda não sabemos como reagir ao vale-tudo. Por ora, o máximo que conseguimos foi repetir, sinceramente comovidos, que ainda estamos aqui.
# Trump joga o mundo na Idade Média. Florestan Fernandes Jr (247)
# Trump cria ministério da fé e promete defender cristãos. Jamil Chade (Uol)
# Gaza não será a Riviera dos genocidas. H.D.Parton (Outras Palavras)
Desmonte institucional promovido nos EUA por Elon Musk nas primeiras semanas do governo de Donald Trump não é aleatório. Ryan Grim, Intercept (acesse)
Em Washington, o cheiro inconfundível de roupa suja paira no ar no entorno do hotel Watergate, e isso só pode querer dizer uma coisa: Benjamin Netanyahu está de volta. O primeiro-ministro israelense chegou aos EUA no domingo para reuniões cruciais com o presidente Donald Trump e seus principais assessores, e foi recebido imediatamente, não apenas com serviços gratuitos de lavanderia, mas com um pedido no Congresso de um novo pacote de armamentos.
Netanyahu se reúne na segunda-feira com Steve Witkoff, enviado do Oriente Médio e magnata do setor imobiliário, que recentemente pressionou Netanyahu a aceitar um cessar-fogo com vários estágios em Gaza. Netanyahu vem desde então declarando abertamente suas intenções de dinamitar o acordo e reiniciar os ataques, e seus aliados iniciaram uma campanha contra a reputação de Witkoff, acusado de ser um fantoche do Catar.
Essa campanha também atingiu vários indicados de Trump, que se consideram parte da crescente ala de realistas dentro do governo Trump. Eles estão tentando reorientar a política externa dos EUA para longe da hegemonia — que eles chamam de “primazia” — em direção ao reconhecimento de que estamos vivendo em um mundo multipolar onde a diplomacia deveria vir antes do conflito armado. O ponto fulcral, tanto para este campo, quando para seus opositores, os neoconservadores, é a guerra contra o Irã. Sua opinião sobre a questão da guerra contra o Irã determina onde você está no espectro do governo Trump, e os oponentes da guerra até agora dominam a disputa.
Netanyahu, claro, está completamente do lado da guerra. Ele fará o que puder para comprometer o cessar-fogo, e espera obter a aprovação de Trump para essa estratégia, informou no domingo Amir Tibon, no jornal Ha’aretz. Tibon apareceu no programa Breaking Points e aprofundou o assunto, observando que Trump quer desesperadamente um acordo de normalização saudita-israelense, que exige que o cessar-fogo seja mantido.
Tibon acrescentou que Netanyahu deve dizer a Trump que não pode cumprir o acordo de cessar-fogo porque perderá seu governo se o fizer, abandonado pela extrema-direita. Mas, segundo Tibon, isso é mentira: figuras da oposição já declararam publicamente que, se ele perder a maioria em razão do cessar-fogo, dariam a ele apoio temporário por alguns meses, para evitar que o governo entre em colapso. Se essa informação vai chegar a Trump, é outra questão.
‘É sempre um erro pensar que o que os EUA (ou qualquer país) fazem é idiota.’
Estamos claramente vivendo em um momento de extraordinária plasticidade. A história parece realmente estar em disputa de forma desnorteada. O rumo de tudo isso não é óbvio. Nos últimos anos, o escritor francês Arnaud Bertran ganhou muitos seguidores no X em sua tentativa de converter esse caos em algum significado. Sua narrativa sobre a mistura de movimentos de política externa que vimos até agora com Trump se encaixa na categoria, e nos leva além da análise imediatista e óbvia, que pode estar deixando de lado forças estruturais mais amplas em jogo. Ao descrever as tarifas de Trump, ele escreveu recentemente: “parece idiota (como o Wall Street Journal descreveu) se você ainda está mentalmente no antigo paradigma, mas é sempre um erro pensar que o que os EUA (ou qualquer país) fazem é idiota”.
Quero me deter nesse ponto antes de seguir para o próximo. É um lembrete útil para mim, em especial: frequentemente me sinto imediatamente inclinado a achar que muito do que Trump faz ou propõe é simplesmente imbecil. E no entanto, aí está ele, possivelmente a figura dos EUA de maior relevância nos últimos 50 anos. O argumento de Bertrand é que precisamos olhar para além do caos, e ver o quadro geral. E há algo surgindo, se olharmos com cuidado.
Olhemos por exemplo as tarifas de 25% que Trump ameaçou impor contra o Canadá e o México, e os 10% aplicados à China. Na segunda-feira (3) de manhã, Trump voltou atrás nas tarifas contra o México, teoricamente em troca de reforços na fronteira sul do país. À tarde, ele também voltou atrás nas tarifas canadenses. A princípio, isso parece o típico ciclo de Trump de ameaças improváveis e concessões rápidas. Mas, olhando de forma mais ampla — considerando as tarifas no contexto de sua medida de eliminar a USAID, além de indicar republicanos isolacionistas e contrários à guerra para posições-chave — as tarifas podem ser mais do que apenas uma artimanha, um outro sinal de que Trump está se afastando da hegemonia dos EUA e mudando o rumo para se tornar uma potência mais regional. Como escreve Bertrand:
A hegemonia iria acabar, mais cedo ou mais tarde, e agora os EUA estão basicamente escolhendo acabar com ela em seus próprios termos. É a ordem mundial pós-EUA, apresentada pelos próprios EUA. Mesmo as tarifas sobre os aliados, vistas sob esse prisma, fazem sentido, porque há uma redefinição do conceito de “aliados”: eles não querem mais — ou talvez não possam bancar — vassalos, mas relações que evoluem a partir dos interesses atuais. É possível ver isso como um declínio — porque, sem dúvida, parece o fim do império americano — ou uma tentativa de evitar um declínio maior: uma retirada controlada dos compromissos imperiais, para concentrar os recursos nos interesses nacionais fundamentais e não ser empurrados para uma retirada ainda mais confusa em um momento posterior. De qualquer forma, é o fim de uma era. [Grifo nosso]
Vista em um contexto de recuo estratégico, a beligerância de Trump em relação à Groenlândia e ao Canadá, por exemplo, parece mais um império se afastando do cenário mundial e construindo trincheiras mais perto de casa.
A afirmação de Bertrand ganha um ponto de exclamação com a notícia de que Trump vai nomear Darren Beattie para cuidar da diplomacia no Departamento de Estado. Não é fácil exagerar o tamanho do que essa nomeação sinaliza. Beattie, que já foi redator de discursos, descrito por Semafor como um “intelectual MAGA (Make America Great Again, o slogan de Trump que passou a descrever um movimento político)”, é abertamente crítico à ala bélica do Partido Republicano, e sua ascensão causou impacto no universo de think tanks neoconservadores em Washington. No Paquistão, Beattie já atuou no veículo Revolver News, expondo as medidas do governo Biden contra Imran Khan.
Sua nomeação é tão radical quanto um presidente democrata que indicasse Noam Chomsky para dirigir a CIA, embora, deixando claro, não estejamos presenciando o renascimento de uma nova internacional socialista. Os realistas de Trump estão firmemente enraizados em uma tradição de direita. Beattie, que foi exonerado durante o primeiro governo por falar em uma conferência ao lado de nacionalistas, disse, em outubro de 2024: “Homens brancos competentes devem estar no comando se você quer que as coisas funcionem. Infelizmente, toda a nossa ideologia nacional se baseia em adular os sentimentos das mulheres e das minorias, e desmoralizar os homens brancos competentes.”
Que um comentário desses tenha sido feito por um homem que talvez seja a maior esperança de restaurar a dignidade e a democracia no Paquistão demonstra como a situação toda é muito confusa. Beattie também vem sendo um crítico declarado — e algumas vezes, preciso — da USAID, expondo seu papel na desestabilização de países estrangeiros.
O ataque contra a USAID, iniciado por Elon Musk e posteriormente abençoado por Trump, também se enquadra na narrativa de retirada estratégica. Musk, que diz ter passado o fim de semana “colocando tudo no triturador”, vem enquadrando a luta contra a USAID de todas as formas que consegue imaginar. Parte delas é totalmente idiota, como quando Musk chama a agência de “um ninho de víboras de marxistas da esquerda radical que odeiam os EUA”. Na versão da imprensa, a descrição mais frequente é “agência humanitária”. Na realidade, a USAID, juntamente com sua entidade para fins tributários, a National Endowment for Democracy (Dotação Nacional para a Democracia), é uma ferramenta onipresente do soft power dos EUA. Na semana passada, Alexander Zaitchik escreveu um artigo para o Drop Site sobre o papel da agência na anulação de eleições democráticas na Romênia.
O ataque em larga escala de Musk contra o governo não tem fundamentação legal, como apontei recentemente na minha nova rede favorita, o TikTok. Ele não tem autoridade legítima para sair encerrando programas de governo autorizados pelo Congresso. Mas é isso que ele está fazendo, então é bom dar uma olhada no que isso pode representar para os rumos da política externa de Trump.
Musk enquadrou a derrubada da USAID no contexto de gastos excessivos no exterior, mas também houve reconhecimento de seu papel real. Consideremos esse post:
A implementação de tratamento do HIV na África obviamente não é terrorismo. Musk deve estar se referindo — com seu novo emoji favorito de “alvo” — aos elementos da agência que funcionam como fachada da intervenção dos EUA. Chamar o aparato de política externa dos EUA de “a organização terrorista global mais gigantesca da histórica” deve ser, como diriam os jovens, o máximo de “papo reto” já dito sobre o país por uma autoridade do governo. Sejamos justos: qualquer um que já tenha estudado a sério o histórico e a mortalidade das intervenções dos EUA precisa reconhecer que, embora seja uma retórica exagerada, ela não é indefensável. Os muitos e muitos milhões de mortos na Indonésia, no Sri Lanka, em Bangladesh, nas Américas do Sul e Central, no Sudeste Asiático, no Oriente Médio, na África, e em outros lugares — tanto pelas próprias forças dos EUA, quanto por seus representantes — certamente concordariam com essa retórica, se pudessem falar.
Musk pode estar usando diferentes argumentos para diferente públicos, na esperança de que cada um seja individualmente atingido, ou pode estar testando qual deles funciona melhor de forma geral. Mark Ruffalo, por sua vez, insinuou que nada do que ele diz tem significado, e que sua verdadeira bússola, por assim dizer, é cortar o máximo possível de gastos públicos, para que possa gastar em sua verdadeira obsessão, que é chegar a Marte.
Mas o argumento anti-imperialista de Musk vai além de um emoji. No X, o presidente autoritário de El Salvador, Nayib Bukele — aliás, você sabia que ele é palestino? — criticou a USAID. “Embora sejam divulgados como um suporte ao desenvolvimento, à democracia, e aos direitos humanos, a maioria desses recursos são direcionados a grupos de oposição, ONGs com objetivos políticos, e movimentos de desestabilização”, escreveu Bukele. “Na melhor das hipóteses, talvez 10% do dinheiro chegue aos verdadeiros projetos que ajudam as pessoas necessitadas (esses casos existem), mas o resto é usado para fomentar a dissidência, financiar protestos, e prejudicar os governos que se recusam a estar alinhados com a pauta globalista.”
Eu definitivamente não sou um admirador de Bukele, o fã de bitcoin, mas não há muito para discordar em sua avaliação. (Embora parte do que a USAID faz seja digno e importante, e eliminá-la possa custar vidas, o bom trabalho que ela faz não precisa estar abrigado em uma agência cuja verdadeira missão é exercer o poder na política interna de nossos adversários e também de nossos aliados. Ele pode continuar sendo feito. E, na verdade, considerando que os programas são financiados e coordenados pelo Congresso, a lei exige que eles continuem.)
Glenn Greenwald, ex-Intercept, compartilhou o post de Bukele, e acrescentou: “A USAID, como a National Endowment for Democracy, são fachadas bem documentadas da CIA, projetadas para manipular a política interna de outros países em benefício das elites de Washington e ninguém mais nos EUA. Ambas as agências causaram destruição e nunca é cedo demais para acabarem.” Musk respondeu: “Elas nem são boas nisso”.
Não há espaço para confusão: não importa o que mais Musk esteja dizendo, ele e sua turma estão claramente atacando a USAID, especificamente, por causa do papel que ela desempenha na promoção de uma política externa agressiva dos EUA, que ele e seus asseclas querem interromper.
Até Marco Rubio parece estar no mesmo barco. Em uma entrevista recente, Rubio, atual secretário de Estado, deu a entender que a era da hegemonia dos EUA era um acaso, que agora estava chegando ao fim. “Não é normal que o mundo simplesmente tenha uma potência unipolar. Isso foi uma anomalia, um produto do fim da Guerra Fria”, afirmou. “Mas em algum momento nós iríamos voltar a ter um mundo multipolar, várias grandes potências em diferentes partes do planeta. Enfrentamos isso agora com a China, e em certa medida, com a Rússia.”
Esse não é o Rubio de antes, cuja perspectiva de política interna era impossível de distinguir do discurso bélico neoconservador. Ele ainda mantém essa postura em relação a Cuba, especificamente — ao assumir o poder, Trump imediatamente retomou a classificação da ilha como terrorista — e à Venezuela, mas no geral ele se reorientou no sentido da política externa que todos eles chamam de “EUA em primeiro lugar”. (Essa ideia, porém, não impediu Musk e Trump de reclamarem essa semana sobre uma lei de desapropriação de terras na África do Sul.)
Rubio, que foi a El Salvador essa semana, disse que agora é “diretor interino da USAID”, confirmando que a agência foi transferida para o Departamento de Estado. Ele alegou que a agência era “insubordinada”, e reiterou a crítica sem fundamentos de que a USAID faria caridade demais. Então, a USAID foi mandada para o triturador? Ou ela está sendo moldada em um tipo diferente de arma? As ONGs apoiadas pela USAID que interferiram nas eleições presidenciais da Romênia agiram em oposição ao candidato da direita populista. Com isso tudo, será o fim da intervenção da USAID, ou a nova USAID ainda vai interferir, mas agora do lado da direita populista?
‘Esse não parece um homem profundamente comprometido com a soberania de cada país.’
Mas antes de nos adiantarmos, vamos analisar um pouco mais de contexto. Em 2019, em meio a um golpe com apoio dos EUA na Bolívia, um país rico em lítio e outros recursos necessários à transição energética, Musk publicou um famoso tweet: “Daremos um golpe em quem quisermos! Melhor se acostumar com isso.” Esse não parece um homem profundamente comprometido com a soberania de cada país. Então, será que Musk espera excluir o elemento governamental da intervenção dos EUA, e privatizá-la, diretamente nas mãos dos oligarcas (ou de um oligarca)?
Quando Musk envia seus lacaios, com crachás falsos, às estranhas do Departamento do Tesouro, e depois tenta entrar nas salas sigilosas da USAID, isso indica que ele é um homem mais inclinado à conquista, do que à libertação. Todos nos lembramos da famosa citação de Gramsci em momentos assim: “o velho mundo está morrendo, e o novo demora a nascer”. Mas com frequência nos esquecemos do que vem logo em seguida: “neste claro-escuro, surgem os monstros”.
Como conclui Bertrand: “isso não significa que os EUA não continuarão a causar estragos no mundo, e na verdade, podemos estar vendo isso ficar ainda mais agressivo do que antes. Porque enquanto antes o país tentava (mal, e de forma muito hipócrita) manter alguma aparência da autoproclamada ‘ordem baseada em normas’, agora não precisa nem fingir que está sob qualquer restrição, nem mesmo a de favorecer seus aliados. É o fim do império dos EUA, mas definitivamente não é o fim dos EUA como uma grande força perturbadora das questões mundiais.”
Acho seguro afirmar que os monstros são uma coisa perigosa de se esquecer.
Vestígios do dia
# São Paulo: escolas com menos Ciências Humanas
Márcia Aparecida Jacomini e Ana Paula Corti (A Terra é redonda)
Uma mulher se envolve com o patrão – e o marido, desaparecido no front da 1ª Guerra, retorna desfigurado. A garota da agulha, que concorre ao Oscar com Ainda Estou Aqui, aborda tensões de classe e como a escassez, o medo e a violência embrutecem os seres humanos. José Geraldo Couto, Outras Palavras (acesse)
# Link para o texto original do artigo
O bate-boca em torno de Emilia Pérez e sua protagonista não deve (ou não deveria) eclipsar dois outros esplêndidos concorrentes de Ainda estou aqui na disputa pelo Oscar de filme estrangeiro: o alemão-iraniano A semente do fruto sagrado, de Mohammad Rasoulof, e o dinamarquês A garota da agulha, de Magnus von Horn. O primeiro, em cartaz nos cinemas, já foi abordado aqui (Bendito fruto – por José Geraldo Couto). Vamos então à Garota da agulha, que está disponível na plataforma de streaming Mubi.
Conta-se ali, em resumo, o drama de Karoline (Vic Carmen Sonne), jovem operária de Copenhague cujo marido foi para o front da Primeira Guerra Mundial e não deu mais notícias. Em 1919, Karoline se envolve amorosamente com o patrão, fica grávida, perde o emprego e cai nas graças (ou nas garras) de uma confeiteira, Dagmar (Trine Dyrholm), que acolhe crianças indesejadas, supostamente para entregá-las à adoção.
Os inevitáveis spoilers acima não devem prejudicar a terrível fruição desse pesadelo plasmado num belíssimo preto e branco com todos os tons de cinza. Em seu aparente naturalismo de sabor oitocentista, trata-se de um autêntico filme de monstros. Se existem contos de fadas, este é um conto de bruxas, em que a deformação moral dos personagens espelha a deformação física do soldado retornado do front.
A guerra e seu séquito de mazelas desfiguram a todos, deixando sequelas tanto nos combatentes quanto nos que ficam em casa. A escassez, a fome, o medo e a insegurança embrutecem os seres e os empurram para toda sorte de violência. Essa é a visão que o filme apresenta – e que a realidade parece confirmar a cada dia.
Há, no entanto, um viés político nesse retrato da sociedade. Se cada um se vira como pode para fazer frente à necessidade, há os que, seguros em sua posição de dominação, só tiram proveito da situação e reiteram seu poder.
É o caso da família do patrão-amante (Joachim Fjelstrup). Ele escapou do alistamento por sua condição de aristocrata e passou a produzir uniformes para o exército explorando a mão de obra barata de moças em situação de penúria. Se o jovem empresário é “apenas” pusilânime, sua mãe baronesa (Benedikte Hansen) é pura maldade, semelhando uma rainha má de conto infantil. Seja como for, é de uma opressão de classe que se trata ali.
Nesse contexto de iniquidades – em todos os sentidos da palavra – o circo de aberrações que chega à cidade funciona como um espelho invertido da própria sociedade, ou antes como a revelação de sua verdadeira natureza. O mundo como um show de horrores que remete ao clássico Monstros (Freaks, 1932), de Tod Browning.
Esse pesadelo realista é filmado com um requinte plástico extremo, em que a precisão dos enquadramentos, o controle absoluto da luz e o uso da profundidade de campo – atributos da melhor tradição escandinava – não ofuscam a sondagem da densidade humana. Pelo contrário, a aprofundam.
Algumas curiosidades: embora a história se passe toda na Dinamarca, boa parte das cenas foi rodada na Polônia. O fato real que inspirou o roteirista e diretor foi a história de Dagmar Overby, condenada em 1921 pela morte de nove bebês. O filme a que a protagonista assiste no cinema a certa altura é o alemão Der Absturz (1923), de Ludwig Wolff, com a estrela dinamarquesa Asta Nielsen. A canção que se ouve na cena é a valsa brasileira “Sublime provação”, de Eduardo Souto, na voz de Alda Verona. Há no YouTube um clipe de cenas de Der Absturz, com a música citada. Devo essa informação ao amigo crítico Ricardo Cota.
Ocupação definitiva da Faixa de Gaza pelos EUA, expulsão dos palestinos para outros países árabes, fornecimento de mais bombas para a matança israelense. Trump põe em prática o projeto imperial de dissolução de todas as normas da diplomacia internacional e torna-se o inimigo número 1 de todos os povos
# No vídeo abaixo, o deslocamento dos milhares de palestinos tão logo foi anunciado o cessar fogo de Israel. É essa massa que Trump quer expulsar de Gaza... promovendo o que ele próprio definiu como "limpeza" sem paralelo na história. Trump e seus aliados e apoiadores são assassinos.
Elites empresariais gostam de saborear as delícias do mercado, das isenções fiscais, da redução das verbas destinadas a programas sociais, mas... criam para si o fosso da desigualdade... O resultado é o que se vê: # Um tsunami de descarte humano (IHU)
Em tempos de crise global da democracia liberal, complexifica-se o cenário para manutenção do Partido dos Trabalhadores (PT) na Presidência da República (Le Monde)
Crescimento econômico, queda da taxa de desemprego e da informalidade, democracia são resultados que devem ser confrontados com o governo de Bolsonaro (247)
Torcida pela premiação do filme brasileiro vai muito além do Cinema: é também resgate da identidade nacional e da luta contra a ditadura
Variety' e 'Entertainment Weekly' acham que filme brasileiro se torna favorito na categoria, antes dominada por 'Emilia Pérez'. 'EW' vê Fernanda Torres como possível vencedora (leia no G1)
# Estudantes saíram das aulas de ontem com evidentes sinais de crise de abstinência. Isabela Palhares (Folha)
# Os carrascos nazistas que fugiram para o Brasil. André Bernardo (DW)
# Principal evento liberal da
América Latina vai ocorrer no Brasil pela 1a vez. Fábio Zanini (Folha)
# O oligopólio das revistas científicas e a alternativa da Ciência Aberta. Sabine Pompeia (Outras Palavras)
Considerações de Marcelo Ridenti sobre o livro recém-lançado de Fabio Mascaro Querido.
Dos anos 1990 a meados dos 2010, o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e o Partido dos Trabalhadores (PT) foram os principais protagonistas e adversários na cena política nacional, como se sabe. Ambos vinham da oposição à ditadura e eram críticos da política anterior ao golpe de 1964, considerada populista. Menos conhecida é a base intelectual dessa disputa, cuja história é o tema de Lugares periféricos, ideias modernas (acesse)
A obra propõe que ela teve origem nos debates acadêmicos em São Paulo a partir do final dos anos 1950, particularmente no “seminário d’O capital”, liderado pelo sociólogo Fernando Henrique Cardoso e pelo filósofo José Arthur Giannotti, de que fizeram parte seus colegas da Universidade de São Paulo (USP), o historiador Fernando Novais, o sociólogo Octavio Ianni, a antropóloga Ruth Cardoso, o economista Paul Singer e os jovens estudantes de ciências sociais Roberto Schwarz, Michael Löwy e Francisco Weffort.
Todos figuras-chave da “tradição crítica paulista”, que foi ganhando destaque nacional no contexto de combate à ditadura e posterior redemocratização que os levou a caminhos intelectuais e políticos distintos, mas assentados sobre uma base comum que se tornava predominante na interpretação da sociedade brasileira.
Formava-se o “marxismo acadêmico”, pretendendo-se cientificamente rigoroso e politicamente radical. O intuito era superar as correntes intelectuais nacional-desenvolvimentistas hegemônicas até 1964, ancoradas em instituições como o Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb), a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), e o Partido Comunista Brasileiro, com forte influência nos meios intelectuais e artísticos.
“Do alto de seu provincianismo”, os acadêmicos paulistas consideravam-se “artífices de uma modernidade de coloração mais universal, em oposição à modernidade nacional ou nacionalista almejada pelos intelectuais vinculados ao ideário nacional-desenvolvimentista”, estes atuantes sobretudo no Rio de Janeiro. Os paulistas apontavam os equívocos das análises dualistas que contrapunham a modernidade ao atraso, o desenvolvimento ao subdesenvolvimento, o interno ao externo, a mostrar – cada autor a seu modo e dialogando com os pares – que os polos dessa dualidade seriam inseparáveis na formação social brasileira, periférica e por isso mesmo com o melhor ângulo para observar criticamente o capitalismo como sistema mundial.
Aos poucos, com clareza, o autor Fabio Querido vai introduzindo personagens atuantes em São Paulo ao longo dos anos: Florestan Fernandes, Antonio Candido, Maria Sylvia de Carvalho Franco, Francisco de Oliveira, Marilena Chaui, Paulo Arantes e tantos cujas obras principais foram comentadas sinteticamente, em debate umas com as outras. O livro não se propõe a interpretar o conjunto da vida intelectual brasileira, mas, ao fazer o mapeamento inédito e muito bem realizado da tradição acadêmica paulista, ajuda a iluminar o cenário mais abrangente, pois intelectuais de vários estados e de orientações teóricas diversas comparecem como interlocutores.
O livro analisa ainda o segundo seminário d’O capital, já no contexto da ditadura. Alguns haviam participado do primeiro seminário, a que se juntaram acadêmicos como Ruy Fausto, Emília Viotti, Emir Sader, João Quartim e Sergio Ferro. Houve casos de prisão e tortura. Roberto Schwarz foi constrangido ao exílio, e sua trajetória serve de “fio vermelho” condutor da análise proposta no livro, com atenção ao conjunto de sua obra, lida à luz de Theodor Adorno e outros autores caros a Roberto Schwarz, e também de pensadores pouco próximos, notadamente Antonio Gramsci, num dos trechos mais criativos do texto, ao apontar afinidades inesperadas de abordagem da questão nacional.
Em 1969 surgiu o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), após a expulsão da universidade de professores considerados subversivos. Novamente liderado por Fernando Henrique Cardoso e José Arthur Giannotti, com financiamento da Fundação Ford, o novo centro agregava antigos membros do seminário d’O capital, como Paul Singer e depois Otávio Ianni, além de novos integrantes, como o pernambucano Francisco de Oliveira.
O Cebrap desempenharia papel fundamental na redemocratização, ao ligar-se ao MDB de Ulisses Guimarães antes das eleições surpreendentemente bem sucedidas para o Congresso em 1974. Foi o primeiro passo para a entrada de Cardoso na vida política institucional que o conduziria a senador suplente nas eleições de 1978, em carreira que culminou com a presidência da república anos depois. Era apoiado por amigos dos velhos tempos do seminário e do Cebrap.
No seio desta instituição também estiveram cientistas sociais que integrariam o PT, como Francisco Weffort, que deixaria o Cebrap em 1976, ajudando a criar o Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (Cedec), afinado com os chamados novos movimentos sociais, pensando a política a partir das bases da sociedade, e não do Estado. Francisco Weffort teria papel importante na direção do PT, partido que deixaria para participar do ministério de FH Cardoso.
Uma contribuição da obra é pensar os anos 1980 como “a década que não estava perdida”, destacando o florescimento do debate intelectual subjacente ao processo que daria luz aos partidos nascidos em São Paulo que dominariam a cena política a partir da década seguinte, PSDB e PT, dividindo os intelectuais que andaram juntos na oposição à ditadura. De um lado os que viam a necessidade da composição pluriclassista para consolidar a democracia, do outro os contrários à “transição pelo alto”, valorizando as lutas sociais por direitos, com uma franja de autonomistas como Marilena Chauí, Eder Sader e Marco Aurélio Garcia.
Eles questionavam as vanguardas leninistas, o sindicalismo estabelecido e o delineamento da vida social pelo Estado, apostando na auto-organização dos trabalhadores fora das instituições, com a entrada em cena de novos personagens das classes populares. Essa corrente perdeu espaço, pois a institucionalidade logo predominaria na política.
Os anos 1990 seriam dominados pelo “espectro neoliberal” após o fim do socialismo na Europa, e o intelectuais paulistas se dividiriam entre “adaptados e resistentes”. Os primeiros conduzidos por Fernando Henrique Cardoso, que formou “uma coalizão liberal-conservadora à qual caberia preparar o país para a inserção vantajosa no mundo globalizado”. Já os resistentes estavam com o PT, alguns deles agrupados no Centro de Estudos de Direitos de Cidadania (Cenedic) da USP, caso de Francisco de Oliveira, que se tornaria um dos críticos mais ácidos de seu antigo partido quando o PT foi moderando as posições até eleger Lula presidente. Por sua vez, revendo o passado dos intelectuais paulistas de seu grupo, Roberto Schwarz constatou que uma parte deles, almejando salvar o país, acabou salvando o capitalismo neoliberal à brasileira.
Parece pertinente a proposta do livro de estabelecer o seminário d’O capital como a origem do marxismo acadêmico, apesar da mitologia a respeito, contestada pelos que não participaram dele, como aliás a obra não ignora. Afinal, foi um grupo pioneiro de universitários destacados propondo usar o materialismo histórico de modo original para interpretar a sociedade brasileira, que teria forte impacto na vida acadêmica e política do país.
Mas não seria fora de propósito recuar um pouco no tempo e ver as conexões, por exemplo, com intelectuais da esquerda democrática surgida no fim do Estado Novo, que viria a constituir o Partido Socialista Brasileiro (PSB). O mesmo viés anti-Vargas e crítico do Partido Comunista e dos nacionalistas estava presente por exemplo em Mario Pedrosa, Antonio Candido e Sergio Buarque, ligados ao antigo PSB, que não por acaso viriam a ser adeptos de primeira hora da criação do PT em 1980.
Sob uma perspectiva da nova geração, Fabio Querido ajuda a recolher e colar os cacos da tradição intelectual de que é um dos herdeiros, passo indispensável para compreender o poço escuro e sem fundo em que a sociedade brasileira veio parar no atual contexto de rápido avanço da barbárie em escala planetária.
*Marcelo Ridenti é professor titular de sociologia na Unicamp. Autor, entre outros livros, de O segredo das senhoras americanas: intelectuais, internacionalização e financiamento na Guerra Fria cultural (Unesp). [https://amzn.to/4hFh7CE]
Referência
Fabio Mascaro Querido. Lugares periféricos, ideias modernas – aos intelectuais paulistas as batatas. São Paulo, Boitempo, 2024, 288 págs. [https://amzn.to/3CtWtX9]
# Artigo de Lúcia Santaella, Fabiana Raulino e Kalynka Cruz. Instituto Humanitas Unisinos, IHU (acesse)
Uol: # A hora e a vez do chinês que desbancou o ChatGPT # Pesquisador brasileiro explica os motivos do sucesso do DeepSeek # O que o DeepSeek pode ensinar ao Brasil. Intercept: # O DeepSeek é o pesadelo chinês das big techs
"A governança ética e a sustentabilidade também são questões críticas. Modelos avançados como os de IA generativa demandam infraestrutura computacional massiva, resultando em altos custos energéticos e ambientais, muitas vezes em regiões de alta pegada de carbono. Simultaneamente, a ausência de regulamentações globais sobre privacidade, vieses e usos militares da IA alimenta tensões geopolíticas, levantando o dilema entre inovação e mitigação de riscos", escrevem Lucia Santaella, Fabiana Raulino e Kalynka Cruz, em artigo enviado diretamente ao Instituto Humanitas Unisinos — IHU, 30-01-2025
Lucia Santaella é pesquisadora 1 A do CNPq, professora titular na pós-graduação em Comunicação e Semiótica e em Tecnologias da Inteligência e Design Digital (PUCSP). Doutora em Teoria Literária pela PUCSP e Livre-docente em Ciências da Comunicação pela USP. Fez doze estágios de pós-doutorado no exterior e foi professora e pesquisadora convidada em várias universidades europeias e latino-americanas. Já levou à defesa 285 mestres e doutores. Publicou 57 livros e organizou 34, além da publicação de quase 500 artigos no Brasil e no exterior. Recebeu os prêmios Jabuti (2002, 2009, 2011, 2014), o prêmio Sergio Motta (2005) e o prêmio Luiz Beltrão (2010).
Fabiana Raulino é doutoranda em Tecnologias da Inteligência e Design Digital pela PUC-SP, com pesquisa direcionada à coautoria e aprendizagem colaborativa com uso de Inteligência Artificial na Educação de Neo Humanos. Mestre em Engenharia de Produção pela UFSCAR. Especialista em Docência no Ensino Superior pela UNICID.Professora de Inteligência Artificial do MBA Executivo da Faculdade XP. Professora de Inteligência Artificial em Jogos Hiperrealistas na FAAP Digital.
Kalynka Cruz é professora e pesquisadora na Universidade Federal do Pará (UFPA) e atualmente pesquisadora visitante no Institut Mines-Télécom (França). Doutora em Sociologia pela École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS/Paris), também possui mestrado em Tecnologias da Inteligência e Design Digital pela PUC-SP e especialização em Arte, Educação e Novas Tecnologias pela UnB. Coordena o Observatório Interinstitucional sobre Cibercultura e os Povos dos Rios e da Floresta, um projeto internacional e multidisciplinar financiado pelo CNPq, envolvendo instituições no Brasil e estrangeiras. Lidera o Grupo de Pesquisa Amazônia Digital (CNPq).
Em 27 de janeiro de 2025, foi lançado o DeepSeek, uma startup chinesa que apresentou um modelo de IA de alto desempenho e baixo custo, desenvolvido com um investimento, segundo a empresa, de apenas US$ 5,6 milhões (Agência Brasil, 2025). O sucesso da DeepSeek desafiou a supremacia das gigantes americanas no setor de inteligência artificial (IA), o que provocou um impacto entre investidores sobre a possível perda de influência das empresas dos EUA nesse domínio tecnológico.
Não por acaso, o mercado financeiro global sofreu uma significativa desvalorização nas ações de empresas de tecnologia dos Estados Unidos, resultando em uma perda acumulada de aproximadamente US$ 1 trilhão em valor de mercado. Foi fartamente noticiado que a Nvidia, renomada fabricante de chips de inteligência artificial (IA), arcou com uma queda de 17% em suas ações, correspondendo a uma redução de US$ 589 bilhões em sua capitalização, a maior já registrada por uma única empresa em um único dia no mercado acionário americano. Além da Nvidia, outras empresas de tecnologia, como Meta e Alphabet, também registraram quedas significativas em suas ações, refletindo a apreensão do mercado diante do avanço chinês na área de inteligência artificial (O Globo, 2025).
Este texto busca explicar o porquê da ferramenta DeepSeek ter gerado tamanho impacto no mercado, além de aparecer como uma ótima alternativa gratuita para o Brasil e, especialmente, como é possível extrair o melhor daquilo que essa tecnologia tem a dar. Nosso objetivo é explicar o que são os MoEs (Mixture of Experts) utilizados pela DeepSeek, que estão na base de um funcionamento diferenciado de outros modelos produzidos no Vale do Silício, especialmente o mais popular dentre eles, o ChatGPT4, de resto, um modelo pago. Por fim, algumas reflexões serão apresentadas sobre a importância de obtermos letramento digital sobre o uso dessas tecnologias para elaborarmos comandos semanticamente precisos e estrategicamente otimizados, garantindo maior eficiência e relevância nas interações com sistemas cognitivos especializados.
Este artigo foi escrito em janeiro de 2025. A localização temporal torna-se um elemento essencial quando se trata de discutir quaisquer aspectos da IA, isto porque é necessário situar o leitor e fundamentar as análises realizadas, permitindo compreender as discussões nesse campo em constante transformação.
Este LLM (Large Language Model) chinês, desenvolvido pela empresa de mesmo nome em Hangzhou, explícita ou implicitamente traz consigo a promessa de rivalizar — e até superar — o desempenho de outros Chats, inclusive o ChatGPT, mesmo em sua versão paga (GPT-4) (Steibel et al, 2025). Para aqueles que já o experimentaram, o que mais chama atenção é o fato de um modelo gratuito alcançar níveis de qualidade comparáveis a um sistema amplamente reconhecido e financeiramente robusto, levantando a pergunta: como isso seria possível, considerando que o DeepSeek foi treinado com um custo significativamente menor?
Para contextualizar, a empresa afirma que o treinamento do DeepSeek R1 custou cerca de US$ 5,6 milhões, uma fração ínfima quando comparada aos gastos declarados pela Meta ao treinar o Llama, que utilizou dezenas de milhares de chips Nvidia e investimentos expressivamente maiores (Dave; Knight, 2024). Elon Musk contestou a informação e disse que isso seria impossível. Em contraste, o DeepSeek aproveitou um conjunto de mais de 2.000 chips Nvidia, um número surpreendentemente baixo para modelos dessa magnitude.
A chave para essa eficiência impressionante deve estar na arquitetura que fundamenta o modelo, um marco na era dos modelos de IA: o Mixture of Experts (MoE). Com isso, o DeepSeek simboliza uma mudança de paradigma no desenvolvimento de LLMs, mostrando que excelência não está necessariamente atrelada a recursos financeiros exorbitantes, mas sim a inovações arquitetônicas. Sua adoção do MoE desafia a supremacia das arquiteturas transformer tradicionais, demonstrando que é possível equilibrar profundidade, especialização e eficiência computacional (Cai, 2024).
É possível prever que, mesmo que existam esforços para conter o avanço do DeepSeek, como ocorreu com plataformas como o TikTok ou com as restrições comerciais impostas por empresas norte-americanas de semicondutores ao mercado chinês, sua arquitetura open source já está disponível e sendo amplamente explorada pela comunidade global de desenvolvedores (Sanseviero, 2023). Essa abertura torna inviável restringir ou centralizar seu uso, permitindo que o modelo seja adaptado, aprimorado e integrado a diversas aplicações sem depender de uma única entidade ou jurisdição. Essa característica consolida o DeepSeek.
O DeepSeek simboliza uma mudança de paradigma no desenvolvimento de LLMs, mostrando que excelência não está necessariamente atrelada a recursos financeiros exorbitantes, mas sim a inovações arquitetônicas - Lucia Santaella, Fabiana Raulino e Kalynka Cruz
De acordo com Krishnamurthy et al (2023), o diferencial técnico da abordagem Mixture of Experts (MoE) está na capacidade de dividir o trabalho entre diferentes "especialistas" — partes do modelo treinadas para lidar com tipos específicos de dados ou tarefas. Ao invés de utilizar um único modelo monolítico para processar todas as entradas, o MoE distribui a carga computacional, ativando apenas os especialistas mais relevantes para a tarefa em questão. Essa ativação seletiva não apenas melhora a eficiência, mas também possibilita a especialização sem aumentar o custo computacional de maneira linear.
Em 2024, os MoEs ganharam relevância significativa com o lançamento de modelos como Mixtral-8x7B, Grok-1, DBRX, Arctic, e o DeepSeek-V2, todos adotando essa abordagem para maximizar eficiência e precisão. Esses avanços destacaram a capacidade dos MoEs de reduzir os limites impostos por arquiteturas tradicionais, abrindo novas possibilidades em escala, especialização e acessibilidade (Cai, 2024).
Esses avanços destacaram a capacidade dos MoEs de reduzir os limites impostos por arquiteturas tradicionais, abrindo novas possibilidades em escala, especialização e acessibilidade - Lucia Santaella, Fabiana Raulino e Kalynka Cruz
A inovação dos MoEs está na substituição das camadas tradicionais de redes neurais feedforward (FFN) por camadas especializadas (MoE). Em modelos baseados em transformers, como os LLMs (Large Language Models), essas camadas MoE são compostas por várias subredes independentes, denominadas "especialistas". Cada especialista é uma rede neural dedicada, com seu próprio conjunto de pesos, treinada para executar um tipo específico de processamento (Grootendorst, 2024).
O processo central dos MoEs envolve um mecanismo conhecido como gating function. Esse componente atua como um roteador dinâmico, decidindo quais especialistas devem ser ativados para cada entrada específica, com base em características dos dados ou tokens processados. Esse mecanismo é o que permite aos MoEs oferecer maior especialização em áreas específicas, ao mesmo tempo que minimizam custos computacionais desnecessários (Grootendorst, 2024). Em contraste com redes neurais tradicionais, onde cada camada utiliza todos os nós para processar uma entrada, um modelo MoE emprega apenas um subconjunto de especialistas para lidar com cada tarefa.
Por exemplo, em uma entrada relacionada a uma linguagem de programação como Python, o modelo pode ativar especialistas focados em sintaxe de código, lógica computacional e análise semântica, enquanto ignora especialistas voltados para processamento de linguagem natural ou dados numéricos. Essa ativação seletiva permite que o modelo escale sem que o custo computacional cresça proporcionalmente.
A eficiência dos MoEs também se reflete na otimização de recursos durante o treinamento. Em vez de treinar um modelo menor por mais etapas, os MoEs permitem que modelos maiores sejam treinados em menos iterações (iteration), otimizando o orçamento computacional. Essa abordagem tem demonstrado ser mais eficaz para melhorar a qualidade final do modelo, especialmente quando se trata de LLMs em larga escala (Sanseviero et al, 2023).
Além disso, o DeepSeek e outros modelos MoE priorizam eficiência energética e acessibilidade, utilizando GPUs de forma inteligente e escalável. A arquitetura suporta até 338 linguagens de programação, com foco na inclusão de múltiplos contextos, ao mesmo tempo que mantém uma abordagem open source, permitindo que a comunidade técnica participe ativamente de sua evolução (Zhu et al., 2024).
O DeepSeek e outros modelos MoE priorizam eficiência energética e acessibilidade, utilizando GPUs de forma inteligente e escalável - Lucia Santaella, Fabiana Raulino e Kalynka Cruz
Uma característica impressionante dos MoEs, exemplificada pelo DeepSeek-V3, é a transparência em suas operações. Ao solicitar, por exemplo, a geração de um código em Python, o modelo não apenas entrega o resultado, mas também fornece uma explicação detalhada de como está pensando (thinking) ao processar o comando. Esse comportamento reflete o avanço dos MoEs em transformar sistemas de IA em verdadeiros especialistas cognitivos, capazes de contextualizar e justificar suas respostas (Zhuu et al., 2024).
Para melhor compreensão dos MoEs, compartilhamos a tradução de uma analogia que encontramos em uma publicação do LinkedIn, muito interessante pela didática. Ela foi criada por Harsha Kudaravalli, que esclarece as diferenças fundamentais entre as arquiteturas do GPT-4 e do DeepSeek com a seguinte analogia: imagine que ambos os modelos têm 100 pessoas respondendo aos seus comandos.
No caso do GPT, essa abordagem seria equivalente a 100 colaboradores generalistas, cada um tentando contribuir com uma resposta razoável, mas sem um foco profundo em um tema específico. Já no DeepSeek, esses 100 colaboradores seriam especialistas altamente qualificados, cada uma com um domínio aprofundado em uma área específica, sendo ativadas apenas quando sua expertise é relevante para a tarefa. Essa analogia nos ajuda a visualizar como as redes neurais diferem na maneira como processam e distribuem informações, ilustrando o salto qualitativo que o DeepSeek oferece ao adotar a arquitetura Mixture of Experts.
Harsha Kudaravalli esclarece as diferenças fundamentais entre as arquiteturas do GPT-4 e do DeepSeek com a seguinte analogia: imagine que ambos os modelos têm 100 pessoas respondendo aos seus comandos - Lucia Santaella, Fabiana Raulino e Kalynka Cruz
Para entender a magnitude dessa diferença, é útil considerar como um modelo como o GPT-4 opera. Em termos simplificados, seria como ter milhares de colaboradores generalistas respondendo a um prompt, mas sem ativar um conhecimento específico a menos que o usuário forneça instruções explícitas e contextualizadas.
O MoE, por outro lado, propõe um paradigma fundamentalmente diferente. Inspirado pelo trabalho seminal de Jacobs e Nowlan (1991) e Jordan e Jacobs (1994), Cai et al. (2024) apresentaram o artigo “A Survey on Mixture of Experts” no qual o MoE é explicitado no tempo atual com seus componentes especializados, denominados "experts". Esses experts não trabalham simultaneamente, ou seja, apenas os componentes mais relevantes para uma tarefa específica são ativados em um dado momento. Isso resulta em uma redução significativa nos custos computacionais, permitindo uma utilização mais eficiente dos recursos disponíveis, ao mesmo tempo que entrega respostas altamente especializadas.
Para compreender melhor como o DeepSeek opera em sua arquitetura, é necessário explorar a maneira como modelos de linguagem processam prompts. No caso de LLMs como o GPT-4, a base está no transformer, uma estrutura de autoatenção introduzida no artigo revolucionário “Attention is All You Need” (Vaswani et al., 2017). Essa arquitetura utiliza mecanismos que avaliam a relevância de cada palavra dentro de uma frase, atribuindo pesos matemáticos a tokens e identificando relações semânticas em um espaço multidimensional. Quando o usuário digita um comando, o modelo analisa a ordem das palavras, suas conexões e o peso semântico relativo para gerar a melhor resposta possível.
De acordo com a análise feita na plataforma de desenvolvedores Hugging Face por Sanseviero (2023), o DeepSeek, ao adotar o MoE, leva esse processo a um novo patamar por usar a esparsidade. A esparsidade usa a ideia de computação condicional, portanto, enquanto em modelos densos todos os parâmetros são usados para todas as entradas, a esparsidade nos permite executar apenas algumas partes de todo o sistema.
Aqui, a escolha semântica feita pelo usuário no prompt assume ainda mais importância. Cada palavra no comando pode ativar experts diferentes, dependendo de sua relevância. Assim, enquanto o transformer distribui atenção de forma ampla para todas as partes da entrada, o MoE atua de forma seletiva, como se delegasse partes da tarefa para especialistas específicos que melhor entendem aquele contexto, ou seja, o MoE mantém o mecanismo de atenção do transformer, mas otimiza a computação ao ativar seletivamente subredes especializadas para cada entrada e, portanto, reduzindo o custo computacional.
Quando o usuário digita um comando, o modelo analisa a ordem das palavras, suas conexões e o peso semântico relativo para gerar a melhor resposta possível - Lucia Santaella, Fabiana Raulino e Kalynka Cruz
Por exemplo, um prompt técnico sobre medicina pode ativar subredes especializadas em terminologia médica e processamento de linguagem científica, enquanto uma solicitação relacionada à criação artística pode acionar especialistas em análise estética e composição criativa. Esse mecanismo de ativação condicional permite que o DeepSeek equilibre profundidade analítica e eficiência operacional, gerando respostas detalhadas sem comprometer recursos computacionais.
Além de sua arquitetura MoE, a eficiência do DeepSeek também pode ser atribuída a sua estratégia de treinamento. Enquanto modelos densos exigem o uso de todos os parâmetros para cada entrada, o DeepSeek utiliza uma arquitetura esparsa, ativando dinamicamente apenas os especialistas relevantes por cada inferência. Essa abordagem seletiva reduz drasticamente a redundância, resultando, ademais, em menos consumo energético e menores custos de treinamento (Dai, 2024, p. 8).
Em última análise, o sucesso de tecnologias como o DeepSeek reforça a importância de integrar inovações técnicas com uma compreensão profunda da semântica e do potencial que reside em cada prompt, reafirmando que, no campo da IA, o verdadeiro diferencial está no equilíbrio entre eficiência e especialização. Ao analisar os MoEs do DeepSeek, torna-se evidente que o futuro dos modelos de linguagem aponta para uma especialização crescente, integrada à capacidade de personalização pelos usuários.
O sucesso de tecnologias como o DeepSeek reforça a importância de integrar inovações técnicas com uma compreensão profunda da semântica - Lucia Santaella, Fabiana Raulino e Kalynka Cruz
No entanto, ao considerar o nosso português como língua principal, por exemplo, enfrentamos um desafio significativo: esses modelos são amplamente treinados em inglês, uma língua que não reflete completamente nossas especificidades linguísticas, culturais e contextuais. Isso muitas vezes resulta em respostas que ignoram nuances linguísticas e complexidades, no nosso caso, da língua e cultura brasileiras de que a língua é inseparável. Para compensar essa lacuna, nossos comandos precisam ser mais longos, detalhados e cuidadosamente elaborados, para orientar os especialistas internos do modelo a operar de forma mais precisa e eficiente em nosso idioma.
O cuidado na semântica e sintaxe pode transformar resultados medianos em criações avançadas que dependem da clara expressão verbal de nossas necessidades (Chan et al., 2024). Grande parte dos usuários não chega a explorar esse conteúdo, seja pela falta de hábito de leitura, pela dificuldade em navegar na complexidade das opções oferecidas, por desconhecimento ou pelo fato de as interfaces dessas ferramentas serem tão intuitivas e simples que geram a falsa impressão de que não há necessidade de especialização. Entretanto, a realidade mostra que essa especialização é crucial para alcançar resultados verdadeiramente diferenciados (essa documentação encontra-se nas próprias plataformas) (Labate e Cozman, 2024).
De acordo com Chan et al (2024, s/p), a acessibilidade das ferramentas, por mais intuitivas que pareçam, frequentemente esconde dependência de conhecimento técnico. Documentações e a necessidade de entender conceitos subjacentes tornam-se uma vantagem competitiva para aqueles que dedicam tempo à aprendizagem e prática. Por exemplo, entender como construir um comando que especifique ângulos de câmera em um vídeo ou a paleta de cores de uma imagem permite ao especialista produzir resultados que superam em muito os padrões oferecidos pelas interações básicas.
Os desafios das IAs generativas refletem a complexidade de um mundo cada vez mais interconectado, mas profundamente desigual. A concentração de poder econômico e tecnológico nas mãos de grandes corporações e países desenvolvidos perpetua disparidades no acesso a infraestrutura, dados e conhecimento técnico. Enquanto Estados Unidos, China e União Europeia lideram a corrida, países em desenvolvimento enfrentam barreiras estruturais que dificultam sua soberania digital, agravando desigualdades socioeconômicas e culturais (Tao et al., 2024, p. 4).
Além disso, a falta de diversidade nos times de desenvolvimento e a exclusão de línguas e contextos locais resultam em soluções que não atendem à complexidade das comunidades globais, criando um abismo digital que compromete o potencial inclusivo dessas tecnologias (Tao et al., 2024, p. 4).
Ao analisar a trajetória do DeepSeek e seu enorme impacto no mercado, torna-se evidente que o futuro dos modelos de linguagem caminha para uma maior especialização, alinhada à capacidade de personalização por parte dos usuários. E não é só isso: para brasileiros, ter um modelo gratuito e aberto cria inúmeras oportunidades novas e faz com que a DeepSeek possa provavelmente ser a melhor alternativa de uso, muito além do que IAs como Claude e Perplexity conseguiram.
A governança ética e a sustentabilidade também são questões críticas. Modelos avançados como os de IA generativa demandam infraestrutura computacional massiva, resultando em altos custos energéticos e ambientais, muitas vezes em regiões de alta pegada de carbono. Simultaneamente, a ausência de regulamentações globais sobre privacidade, vieses e usos militares da IA alimenta tensões geopolíticas, levantando o dilema entre inovação e mitigação de riscos (Andrade e Röhe, 2023, p. 51). Somado a isso, controles de exportação de tecnologias avançadas reforçam o domínio de poucos atores e dificultam a inovação em regiões menos desenvolvidas. Para enfrentar esses desafios, é imprescindível um esforço global que priorize inclusão, ética e sustentabilidade, garantindo que os avanços da IA beneficiem a todos, e não apenas uma parcela privilegiada (Andrade e Röhe, 2023, p. 54).
O DeepSeek, de fato, ao se diferenciar pelo uso inteligente de recursos computacionais, pelo foco em especialização e pela capacidade de adaptar-se ao contexto, abre um novo capítulo na história dos LLMs. Com um treinamento acessível, uma abordagem open source, e uma comunidade ativa de desenvolvedores, o DeepSeek se consolida como um modelo inclusivo, eficiente e disruptivo. No entanto, ele também escancara desafios fundamentais, como a necessidade de linguagens e culturas menos representadas se adaptarem às lacunas nos dados de treinamento. Para usuários da nossa língua portuguesa, por exemplo, elaborar prompts mais detalhados e direcionados é um requisito para maximizar o potencial desses sistemas.
O poder dessas ferramentas está intrinsecamente ligado à capacidade humana de explorar seu potencial com criatividade e profundidade. Assim como os especialistas internos do MoE são ativados pelo contexto, os humanos, ao interagir com essas tecnologias, precisam se posicionar como mentores que guiam o conhecimento gerado pela IA, moldando-o com base em suas intenções e necessidades.
A construção de um futuro sustentável requer a implementação de ações educacionais coordenadas que democratizem o conhecimento e fomentem a alfabetização digital, garantindo que todas as pessoas tenham acesso às ferramentas necessárias para atuar de forma crítica e ativa na transformação digital e socioeconômica. Não cumpriremos esse compromisso se não estruturarmos modelos educacionais inclusivos e acessíveis, capazes de preparar indivíduos para um mundo no qual a simbiose entre humanidade e tecnologia seja conduzida com responsabilidade e visão sistêmica.
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O prejuízo para o mundo todo é incalculável: algumas poucas horas depois de iniciado seu segundo mandato, o facínora Donald Trump põe em prática sua doutrina: isolacionismo imperialista, guerra cultural contra todas as formas de avanço no reconhecimento dos direitos humanos, a diplomacia da vingança e da arrogância.
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País é líder geolítico regional que presidente americano não pode ignorar, a menos que queira beneficiar a China. # Leia Vinicius Konchinski (The Intercept)
Alemães protestam nas ruas de Berlim contra o isolacionismo proposto pela extrema direita. Leia a matéria do DW sobre o paradoxo que o imperialismo cria contra seus próprios interesses
O desafio é entender a complexidade dos movimentos que emergem desse retorno ao imperialismo selvagem que Donald Trump quer promover no segundo mandato. A lógica da globalização, desde o fim da II Guerra, esteve assentada na articulação dos interesses do capitalismo estadunidense com as forças econômicas nacionais - dinâmica que presidiu os processos de integração regional. O resultado disso foi a constituição de uma vasta zona planetária governada pela hegemonia neoliberal, ainda que sob os escombros da hiper-exploração dos povos submetidos a isso. O que Trump pretende é ampliar ao infinito a acumulação que essa geopolítica permite. A julgar pelas reações de resistência às suas primeiras iniciativas, isso não vai dar certo.
# A globalização não pode ser freada (A Terra...)
# Clima anti-imperialista favorece Lula (O. Mundi)
Reconhecida em todo o mundo, a Estátua da Liberdade impressiona por sua hipocrisia, ancorada numa ilha. Como bem lembrado por tantos que por ali passaram, ela não está propriamente em território americano. Não foi convidada ou seu cinismo não chegava a tanto para entrar?
Em sua base, uma frase de um soneto de Emma Lazarus faz parte da mitologia do "país dos imigrantes":
# Leia Jamil Chade (Uol) # Guantânamo: 10 anos de vergonha (Outras Palavras)
"Dê-me seus cansados, seus pobres, Suas massas amontoadas ansiando por respirar livremente, O miserável refugo de sua costa fervilhante"
Direita parlamentar mantém controle no Legislativo, mas...
# Hugo Mota (Câmara) e Davi Alcolumbre (Senado): O que muda para Lula? (Carta Capital)
Centrais sindicais denunciam crise fabricada
# A verdade sobre os ataques ao presidente do IBGE (por Chico Vigilante, leia aqui)
Nos últimos dias, assistimos a uma ofensiva articulada contra o economista Márcio Pochmann, atual presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os ataques partem de setores da extrema direita e de interesses internos dentro do próprio serviço público, que tentam fragilizar sua gestão e desacreditar um dos mais importantes órgãos de estatística do país. O que está em jogo não é apenas a figura de Pochmann, mas o papel fundamental do IBGE na construção de políticas públicas baseadas em dados reais e confiáveis.
Márcio Pochmann não chegou ao IBGE por acaso. Sua trajetória sempre foi marcada pelo compromisso com o fortalecimento do Estado e com a geração de conhecimento técnico para embasar decisões que impactam diretamente a vida da população. Conheço Pochmann desde os anos 1980, quando ele dirigia o escritório do Dieese em Brasília e eu presidia a Central Única dos Trabalhadores (CUT-DF). Ele sempre demonstrou um olhar atento e comprometido com os trabalhadores, ajudando a traçar estratégias econômicas que garantissem justiça social e desenvolvimento. Sua nomeação para o IBGE não é um erro, como alguns tentam sugerir, mas sim um acerto para garantir que o instituto cumpra sua missão de servir ao Brasil com transparência e rigor técnico.
O que mais chama a atenção nesses ataques é a seletividade de quem os promove. Durante os anos do governo Bolsonaro, vimos uma tentativa deliberada de destruir órgãos essenciais, de enfraquecer instituições de pesquisa e de perseguir servidores que ousassem discordar das narrativas do governo. O IBGE sofreu com cortes orçamentários e a falta de concursos públicos, comprometendo sua capacidade de produzir estatísticas detalhadas e confiáveis. E onde estavam esses “críticos” na época? Silenciaram-se completamente.
Agora, quando um governo progressista busca reconstruir o país e devolver ao IBGE sua verdadeira função, esses mesmos grupos se insurgem contra a gestão de Pochmann. A razão é simples: eles temem um IBGE forte e atuante, capaz de fornecer dados que desmontem a propaganda enganosa da extrema direita. Afinal, estatísticas bem feitas revelam desigualdades, expõem a concentração de renda e mostram a necessidade de políticas públicas que priorizem a população mais vulnerável. Para aqueles que defendem um Estado mínimo e privilégios para poucos, um IBGE independente e competente é um problema.
O IBGE não pode ser transformado em um palco para disputas políticas rasteiras. Ele tem uma função essencial na organização do Estado e na implementação de políticas públicas baseadas em evidências. O trabalho do instituto impacta diretamente áreas como educação, saúde, habitação e trabalho, fornecendo dados cruciais para a formulação de programas que atendam à população.
Márcio Pochmann tem a missão de recuperar a credibilidade do IBGE e fortalecer sua capacidade técnica. E isso significa enfrentar resistência de setores que se acostumaram a usar o instituto para seus próprios interesses. Mas a verdade prevalecerá. O Brasil precisa de um IBGE robusto, transparente e a serviço da sociedade — e não de grupos políticos que desejam manipular a informação.
O momento exige união de todos os que acreditam na ciência, nos dados e na necessidade de um Estado eficiente e comprometido com o bem-estar da população. Não podemos permitir que o IBGE seja enfraquecido por disputas ideológicas e ataques injustificados.
Márcio Pochmann tem meu total apoio. E a sociedade brasileira precisa se mobilizar para garantir que o IBGE continue cumprindo seu papel, fornecendo informações precisas e ajudando a construir um país mais justo e equilibrado.
A democracia se fortalece com instituições sólidas e independentes. Defender o IBGE é defender o Brasil.
(Chico Vigilante, 247)
# Comunicado divulgado por entidades de ensino resguarda professores de responzabilização, caso aparelhos não sejam barrados (acesse)
Representantes de professores e escolas do estado de São Paulo assinaram nesta sexta-feira (31) um comunicado conjunto em que deixam claro que é obrigação dos estabelecimentos de ensino fazer valer a proibição do uso dos celulares no ambiente escolar, conforme lei aprovada no início de janeiro.
"Incumbe ao estabelecimento de ensino assegurar a proibição do uso, por estudantes, de aparelhos eletrônicos portáteis pessoais durante a aula, o recreio ou intervalos entre as aulas", diz o documento assinado por Fepesp (Federação dos Professores do Estado de São Paulo), Sieeesp (Sindicato dos Estabelecimento de Ensino no Estado de São Paulo) e Feeesp (Federação dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo).
Já aos professores caberá comunicar por escrito a direção da escola caso seja percebida a presença de algum aparelho no local.
Segundo os representantes dos trabalhadores, o texto acordado é uma forma de resguardar legalmente os professores, para que não sejam responsabilizados caso celulares sejam localizados em salas de aula ou sendo usados nos intervalos.
A lei que manda que eles sejam guardados em locais como caixa no início do período escolar e recuperados ao fim dele
Publicado no painel (Folha)
# A inteligência artficial e as disputas do mundo contemporâneo. Carlos Eduardo Martins (Boitempo)
# A DeepSeek chinesa ameaça a força dos EUA e pode criar relações sociais que fortalecem a democracia. Michael Roberts (Outras Palavras)
# O poder invisível e a gestão do espetáculo. Sérgio Amadeu da Silveira (A Terra é redonda)
Após adesão das Big Techs à ultradireita, surge uma saída: redes federadas como Mastodom ou Bluesky, onde usuários do mundo todo usam a mesma plataforma, mas as regras de moderação são definidas por comunidades autônomas.
# Renée Direstas (Outras Palavras)
# Guerras culturais e a iusão da política sem cultura. Ricardo Queiroz Pinheiro (Outras Palavras)
# Intervalos bíblicos nas escolas públicas: crime contra a Educação. Adriana Ferraz (Uol)
# O tecnobaronato: Zuckerberg, o novo Dorian Gray. Marco Aurélio Ruediger (Folha)
# Trump defende limpeza étnica completa em Gaza. Victor Farinelli (Opera Mundi)
Tirando os eleitores mais fanáticos de Donald Trump, ninguém aguenta mais tanta notícia – com frequência inútil – sobre o que diz, pensa, promete e ameaça o presidente dos Estados Unidos
# Do cercadinho de Bolsonaro ao X de Trump: como se informar sem aprofundar as notícias. Marina Amaral (Pública)
Paraisópolis. Lembram?
Justiça de São Paulo começa a ouvir testemunhas do massacre dos jovens em baile funk em 2019. PMs que cometeram o crime ainda estão soltos.
Saiba mais na matéria do G1 e na postagem sobre a chacina
Assista à entrevista com o repórter Bruno Paes Manso: A PM no controle do crime (Luis Nassif, GGN/Youtube)
A dominação consentida há muito deixou de ser a viga mestra da força geopolítica e econômica com que os EUA impuseram sua hegemonia em vasta área do planeta. Há lógica no desvario de Trump: a irracionalidade da destruição de todas as normas de convivência civilizada entre os Estados mostra mais fraqueza do que força. Confira nas análises abaixo...
# O argumento intervencionista (A Terra é redonda) # À sombra de McKinley. (Folha) # Dentro e fora dos portões de Davos (Outras Palavras) # Trump mobiliza 5 mil soldados, fecha fronteira e deixa milhares sem destino (Folha) # O que Musk e Bezos querem no espaço? (Outras Mídias) e Veem chance de realizar a utopia sem democracia (Folha)
Truculência fascista de Trump pode criar frente democrática no mundo todo: Brasil tem papel fundamental na articulação da resistência global
# Da GM à Tesla: Musk é sequela da política dos EUA controlada há décadas pelas oligaquias (Diálogos do Sul Global)
Donald Trump é o vértice em torno do qual se articulam forças do capital predatório, velhas conhecidas da História, mas agora agregadoras discursivas do estado de anomia gerado pelos últimos 40 anos de práticas neoliberais.
Na retomada das postagens do site em 2025, um conjunto de análises que buscam interpretar o fenômeno, apontar suas fragilidades e descortinar cenários que favoreçam a resistência contra ele. Siga nos boxes abaixo...
# Quem são os novos titãs. Ladislau Dowbor (Outras Palavras)
# Ambições geopolíticas vitais. Tarso Genro (A Terra é redonda)
# Ato de Trump ameaça América Latina. Entrevista com Thiago Rodrigues (Pública)
# O 1o dia do fim da civilização ocidental & A psicologia de massa do fascismo. Luis Nassif (GGN)
# Trump e a doença do colonizador ressentido. Tricontinental (Outras Palavras)
# Retorno de Trump inaugura a era do Criptocaos. Laís Martins (Intercept)
# Trump voltou. O que esperar das práticas corporativas dos EUA? Camila Caringe (Le Monde)
# Estão chegando: o novo governo Trump e o que há de pior na América. Eliot Weinberger (A Terra é redonda)
# A aposta incerta dos bilionários digitais. David Allen Green (Outras Palavras)
# Entidades do Brasil e dos EUA criticam silêncio das organizações judaicas (Opera Mundi)
# Como a anistia de Trump aos invasores do Capitólio pode ressoar no Brasil. Isadora Rupp (Nexo)
# Olhar sobre o deboche: arma da ultradireita. Gabiel Bayararri (Outras Palavras)
# O racismo de Trump e o neonazismo de Musk. Thiago Amparo (Folha)
# É nosso dever chamar os nazistas de nazistas. Sergio Rodrigues (Folha)
# Eugênio Bucci: Trump é um fascista (A Terra é redonda)
Ação contra estrangeiros expulsos dos EUA põe em cheque relações diplomáticas com o Brasil. Leia mais
A história de Rubens Paiva resgata nossa dignidade ofendida e nos liberta…
A verdade um dia depois do outro; uma década e mais ainda se for preciso... mas a História fala por último.
# No clipping do Instapaper, leia mais sobre o filme e sobre os fatos que o inspiraram
# O quebra-cabeças do noticiário que passou batido entre as festas do fim do ano e na retomada vagarosa de janeiro: clipping do Instapaper
# No clipping do site, companhe as notícias sobre a prisão de Braga Netto
Convidamos professoras e professores a participar do Ato “Sem Anistia - Prisão para os Golpistas”, que acontecerá na próxima terça-feira, 10 de dezembro (dia da Declaração Universal dos Direitos Humanos), às 17h, no MASP, na avenida Paulista. Vamos dizer, juntas e juntos, em alto e bom som: “Democracia sempre. Ditadura nunca mais”
A diplomacia social-democrata brasileira aglutina países do Mercosul e enfraquece relações históricas de dependência
Acordo deve provocar mudanças estruturais positivas na América do Sul, tanto pelo incremento das relações comerciais entre os dois blocos quanto pelo impacto que isso deve ter na emancipação de diversos setores produtivos da região, no agro e na indústria. Agentes do imperialismo e analistas neoliberais estão perdidos...
Leia mais:
# A história do acordo (DW) # Tomara que desta vez dê certo (DW) # Os benefícios e os riscos para a economia brasileira (Carta Capital) # Com acordo, Brasil cresce mais que os vizinhos (G1)
Brasil tem menor número de miseráveis desde 2012, inflação controlada e PIB em alta. A Argentina tem o oposto. Não é o que parece quando se lê os jornalões.
É a recomendação de Tarcísio para atestar a excelência da gestão do Secretário da Segurança de SP.
No Uol: # PM de SP mata 1 pessoa a cada 10h em 2024. Número dobrou com Tarcísio # Policiais proibiram socorro ao jovem jogado da ponte # Pai de estudante de medicina morto pela PM vai processar o Estado # PM que jogou homem pela ponte matou motoqueiro com 12 tiros
Na Piauí: # O rastro de sangue de Derrite
Na Carta Capital: # Calar sobre a violência policial é apoiar o genocídio do negro brasileiro
# Tarcísio não só estava como continua completamente errado (Maierovitch, Uol) # Nem Tarcísio e muito menos Derrite controlam a tropa que comandam (Gaspari, Folha) # Câmaras flagram Tarcísio (Bilenky e Toledo, podcast A hora)
# O golpista e o golpe. Breno Pires (Piauí).
O passo a passo da maior ameaça que a democracia brasileira viveu nos últimos 40 anos
# A trama golpista dos mercados e o cotovelo inchado da turma que aposta no fracasso de Lula. Luiz Fernando Novoa Garzon (adapt IHU)
Não há distinção, nem na lógica, nem na fundamentação, entre Operação Punhal Verde e Amarelo e esta Operação dos mercados que planeja apunhalar direitos sociais consolidados no país.
# A ameaça de golpe foi debelada? James N. Green (Folha)
O roteiro da intentona de 2022 deguida muito da cartilha de 1964; o Brasil continuará sem discutir ampla reforma democrática das Forças Armadas?
# Trump e o fascismo. Thimothy Snider (Piauí)
A ilusão nunca escapa da realidade: essa gangue da extrema direita é ruim mesmo
Convidamos professoras e professores a participar do Ato “Sem Anistia - Prisão para os Golpistas”, que acontecerá na próxima terça-feira, 10 de dezembro (dia da Declaração Universal dos Direitos Humanos), às 17h, no MASP, na avenida Paulista. Vamos dizer, juntas e juntos, em alto e bom som: “Democracia sempre. Ditadura nunca mais”
Divulgado na íntegra na semana passada, o relatório da Polícia Federal, reunindo provas fartas e robustas, revela os detalhes sórdidos e estarrecedores a respeito da tentativa de golpe de Estado organizada por altas figuras das Forças Armadas do país, em parceria com importantes lideranças civis, e com o conhecimento e o consentimento do então presidente da República.
Segundo a investigação da PF, “Jair Bolsonaro tinha plena consciência, participação ativa e domínio dos atos sobre o golpe”, que previa o extermínio do presidente e do vice eleitos em outubro de 2022 e também do então presidente do Tribunal Superior Eleitoral, com anulação do resultado das eleições e a formação de uma “junta extraordinária de governo”, que certamente mergulharia o país num novo período de perseguições, arbítrio e terror. Como bem sintetizou o atual presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, “estivemos muito próximos do inimaginável”.
Fiel a seu histórico e inabalável compromisso com a defesa permanente da Democracia, a diretoria do SinproSP se une a todos os atores, movimentos e vozes que exigem o julgamento e a punição de todos os golpistas, sem exceção, recusando também enfaticamente qualquer conciliação ou anistia para quem conspirou para dar um golpe.
# Cenas de pura e brutal irracionalidade, explicações vagas e sem fundamento, aumentam a insegurança da população. Acompanhe nas matérias abaixo...
# O que se sabe e o que falta esclarecer sobre PM que jogou homem da ponte (G1) # Comandante da PM pede desculpas e alega "erro emocional" do policial (Folha) # PM sabe que Tarcísio o protege (Sakamoto, Uol) # Horror da PM tem nome e sobrenome (Tiago Amparo, Folha) # Derrite criou sensação de impunidade (Folha) # Governo Tarcísio aumentou em 120% o número de mortos pela PM (GGN)
A militarização da educação reforça uma lógica de controle e transforma corpos negros em alvos de um projeto de meritocracia da morte
Existe uma palavra para esse sentimento que você tem após ficar horas rolando os feeds das redes sociais – e a Universidade de Oxford escolheu esse termo como a palavra do ano de 2024. “Brain rot” (“cérebro apodrecido” ou “atrofia cerebral”, em tradução literal) levou o título numa votação da qual mais de 37 mil pessoas participaram.
Os planos de Trump para consolidar o colonialismo tecnológico e de dados. As respostas de Pequim e Moscou: chips avançados, vasta rede de data centers e plataformas próprias. A hesitação na UE. E uma grande brecha aberta para os Brics
Se há um traço distintivo na obra de Celso Furtado é a ideia de que não havia restrições objetivas para que o Brasil se tornasse um país forte, soberano, senhor de seu destino, com economia e cultura próprias e com um lugar ao sol no comando dos rumos mundiais. Mas, nele, isso nunca foi reflexo de um imaginário nacional grandioso, mas vazio, que se escorava preguiçosamente na fantasia do “país do futuro”.
# Introdução à nova edição do livro de Celso Furtado, por Leda Paulani (A Terra é redonda)
# Oriente Médio em trevas (Outras Palavras)
Reeclode a guerra civil na Síria, com possível participação de Israel e EUA. Agora, duas pinças oprimem o mundo árabe – Tel-Aviv e as monarquias conservadoras do Golfo Pérsico. Chama da descolonização esmaeceu, mas não está extinta
# Gaza bate recorde mundial de crianças amputadas (Opera Mundi)
Cirurgias sem anestesia são necessárias para salvar vítimas dos bombardeios de Israel, que já somam mais de 85 mil toneladas de explosivos
Brasil diante do desafio da tutela militar (Carta Capital, assinantes)
# Silêncio da direita sobre a trama golpista remete a alerta para retrocesso democrático (Folha)
# A Folha não sabia? Elídio Alexandre Borges Marques, no Facebook
# Indiciamento de Bolsonaro deixa Tarcísio apavorado
(Folha)
# Riocentro e Bolsonaro. Muniz Sodré (Folha)
# Rubens Paiva: no dia do golpe, o discurso pela democracia (Folha)
# Rubens Paiva ainda está aqui. Gaspari (Folha)
# Cerqueira Leite, o cientista que desmontou a farsa de Sergio Moro (WP)
# Leia também Moisés Mendes (247)
# Trump monta um gabinete para sustentar guerra cultural (contra a esquerda). Boghossian (Folha)
# Silêncio conivente das elites brasileiras com trama golpista põe em risco a democracia. Ana Luiza Albuquerque (Folha) # Militares pressionam Lula por anistia aos golpistas (247)
Lançado em 17 de setembro de 2024, após uma intensa campanha de propaganda que invadiu as redes sociais, o primeiro episódio de Unitopia tem, até o momento, mais de meio milhão de visualizações. Uma das teses centrais da peça, descrita como uma tentativa de revelar segredos da universidade pública brasileira, é divulgada logo no início, quando o físico Alan Sokal é mencionado como se tivesse realizado um experimento para provar a seus colegas a “corrupção nas instituições acadêmicas”. # Saiba mais (Le Monde)
Seleção Outras Palavras
# Aborto: a nova ameaça da ultradireita. Juliana Vieira
# Assim as universidades se entorpecem Ricardo P. Méllo
# Identidade: invenção colonial. Douglas Barros
# Os usos e os abusos do gênero. Judith Butler
O objetivo não é o acerto da reforma fiscal, coisa que os rentistas nunca quiseram. O objetivo é detonar a governabilidade e transformar a conjuntura nacional num complexo de variáveis à deriva. No meio disso... a possibilidade de salvar Bolsonaro e a extrema direita. Há lógica - e comando - nessa loucura.
Leituras para driblar a narrativa neoliberal
# Banco Central entregou a economia à especulação (Nassif) # Governo sofre ataque especulativo brutal do mercado financeiro (Cantalice) # Gleisi critica inação do Banco Central para conter a alta do dólar: "crime contra o país" # Programa de Haddad vai na direção certa (Celso Rocha de Barros) # Trapalhadas (Luis Felipe Miguel)
Por pouco e por muito pouco você não foi "delicadamente" empurrado para uma das deploráveis masmorras brasileiras; por bem pouco não quebraram seus dedos, não arrancaram suas unhas e não violentaram seu corpo.
Por pouco, você não teve que amargar o turvo de uma solitária imunda; aliás, uma _solitária_ é um cubículo, um receptáculo miúdo, malcheiroso, quente e enlouquecedor.
Tampouco e por bem pouco um singelo capitão bolsonarista, aos berros e escândalos, não te soltou um "_comunista, filho da puta!_" ou te acusou de ensinar as produções de um terrível professor de indizível nome *Paulo Freire* (continue)
Ora...
Por pouco não tomaram seus documentos, cassaram seu nome, te desligaram de todas as modalidades e vínculos, profissionais, inclusive, com o serviço público.
Por pouco, na alta madrugada, não invadiram sua casa, não te algemaram de frente aos seus filhos, sua esposa ou seu companheiro e você, feito bicho arredio, não foi arrastado para o dentro lúgubre de um _camburão_ .
Alguém dos seus, por óbvio, iria questionar: " _Por que ele está sendo preso?_ " e que, de pronto, teria a seguinte " _deixa burocrática_ " como resposta: "_Por ameaçar a segurança nacional. Passar bem!_".
Olha...
Por pouco, você, com os braços quebrados, o ventre aberto e a pele queimada e chamuscada não foi largado em algum terreno baldio, n'alguma poça funda de lama ou no profundo do Rio Meia Ponte ou quem sabe, do Ribeirão João Leite.
Por pouco você não foi sequestrado, conduzido para local não informado e desconhecido e por lá, após sucessivas seções de tortura, não teve o corpo revirado ao avesso.
Por pouco...
Por bem pouco você não está no exílio; quem sabe n'alguma praça ou periferia de Buenos Aires, Santiago, La Paz ou Montevideo.
Solitário, incomunicável, vulnerável, desconfiado, triste! Com olhar, é claro, contemplativo, sereno e cheio, eivado de depressão.
Por pouco, meu amigo, minha amiga... você está vivo, está tranquilo, em paz e com as pessoas que você mais ama.
Você conseguirá com tranquilidade, ir na panificadora comprar aqueles pães franceses e matinais; trará os pães-de-queijo e que tanto gosta e, em seguida, seguirá às correções de trabalhos e provas de final de ano.
Está tudo bem...
Na segunda-feira teremos aulas normais, encontraremos nossos colegas, nossos alunos e as velhas e corriqueiras " _tretas_ " locais seguirão perpétuas e administraveis.
Mas saibam que por pouco... Por bem pouco " _ainda estamos aqui_ ".
*Viva a democracia!*
*Abaixo o fascismo!*
_Angelo Cavalcante_ - Economista, professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Itumbiara.
# Controle da Opinião Pública: o dia seguinte ao golpe. Luis Nassif (GGN)
# Maria Hermínia Tavares, imperdível: Bolsonaro, os militares e o golpe fracassado (Folha)
Intercept: # O que é e o que faz o BP? # Para combater a educação "de esquerda", o BP já chegou a 284 escolas
Outras Palavras: # O BP e a manipulação da verdade histórica
# Então era assim o tão prometido golpe de estado? Wilson Gomes (Folha)
Relatório da Polícia Federal encaminhado ao STF pede indiciamento de Jair Bolsonaro e mais 36 pessoas. Material teve o sigilo derrubado pelo ministro do STF Alexandre de Moraes e foi encaminhado à PGR.
# Leia aqui os principais trechos do inquérito (G1). # E acompanhe o clipping do site sobre a conspiração de Bolsonaro e de seus simpatizantes
"Minha luta hoje é pela punição dos assassinos dos nossos filhos", diz mãe de uma das vítimas da chacina de 1o. de dezembro de 2019
# Data é lembrada com protesto e lançamento de pesquisa da Unifesp sobre repressão policial a bailes funk. Monica Bergamo, Folha
# No gueto de Paraisópolis. Postagem minha de dezembro de 2019 no velho blog. A matança promovida por Doria é a mesma que inspira Tarcísio. O problema não é o barulho nem a algazarra do funk, mas o ódio ao povo.
Cancelar Tarcísio, um Bolsonaro disfarçado e repaginado, mas... pior que o original
Yamandú Orsi, leva ao poder nova geração política marcada pela resistência ao neoliberalismo e amplia a força no Cone Sul latino americano do anti-fascismo contrário aos interesses do grande capital.
# Uol # Opera Mundi # BBC # 247
Indiciamento de Bolsonaro e de todos os bandidos que o têm acompanhado no delírio do golpe mostra muito mais do que o caos da representação política de direita; mostra o colapso institucional do país e aponta para a urgência de um amplo debate nacional que leve a mudanças estruturais em todas as áreas. Do jeito que está, o Brasil não aguenta...
General Mário Fernandes, um psicolata a serviço do fascismo bolsonarista (assista)
Acompanhe abaixo o clipping organizado pelo jornalista Francisco Bicudo, do Sindicato dos Professores de São Paulo (SinproSp)
# Conspiração no Alvorada: os 61 dias em que Bolsonaro e aliados tentaram reverter o resultado das eleições em 2022 (O Globo) # Fantástico: áudios exclusivos mostram militares falando sobre trama golpista (G1) # Maria Cristina Fernandes: Relatório mostra táticas do crime organizado (Valor) # Bruno Boghossian: Golpismo radical traça fronteira definitiva entre direita e bolsonarismo (Folha) # Vinicius Torres Freire: Ainda estamos aqui, com terrorismo militar e a direita tosca que golpeia o país (Folha) # Celso Rocha de Barros: Bolsonarismo perdeu eleição e tentou matar quem venceu (Folha) # Camila Rocha: O Brasil não tolera mais tutela militar (Folha)
# Falam em entrevista ao IHU Miguel Rossetto, João Pedro Schmidt, Ruda Ricci
Golpistas de articulam: Crescem e se consolidam na mídia narrativas que desqualificam investigações da PF e inocentam criminosos. Leniência da PGR e morosidade no desdobramento do processo pode frustrar a expectativa da sociedade com a punição severa dos conspiradores
Golpistas podem escapar
# A demora é sinal de alerta. Sylvia Moretzsohn (FB)
Golpistas podem escapar
# A Justiça precisa cuidar dos golpistas Gaspari (Folha)
Golpistas podem escapar
# Com 70 em 2025, Bolsonaro vai se beneficiar da prescrição (Folha)
Golpistas podem escapar
# Os punhais do golpe. André Barrocal (Carta Capital)
# Aliados de bolsonaro não planejam novos atos de rua. Fabio Zanni (Folha)
# Depois de Bolsonaro. Helio Schwartzman (Folha) # Zema, Caiado e ratinho mantém silêncio e Tarcísio defendeu o ex-presidente Victória Cócolo (Folha)
Estorvo institucional custa caro e é um peso morto nas regras da sociabilidade política e democrática. País ganharia se elas fossem parcialmente desativadas. Leia mais no clipping do site
Laerte, genial, na Folha deste 21/11
A noite dos longos punhais
Os pobres militares brasileiros, depois de todo o estrago histórico que têm provocado no país. ainda se permitem requintes de refinamento intelectual: a operação 'punhal verde-amarelo' - nome dado por seus criadores à conspiração por assassinatos em série contra autoridades constitucionais - na verdade é uma referência ao golpe que as SS nazistas deram sobre as SA para eliminar quaisquer vestígios de oposição a Hitler. A data do golpe: junho de 1934. Depois disso foi que o regime alemão ingressou na etapa que o caracterizou como um dos regimes mais sanguinários da História. Teria sido essa a inspiração de Bolsonaro e comparsas? Acho que sim...
A apresentação ideológica que cada um dos nossos grandes veículos de informação após as revelações de 20 de novembro sobre o planejamento golpista
# Alexandre Hecker (A Terra é redonda)
A deriva fascista de setores importantes do eleitorado que tradicionalmente se dirigia ao centro político é um fenômeno global e consistente. Nossa prioridade deve ser entender por que as mobilizações democráticas têm falhado cada vez mais.
# Artigo é de Giuseppe Cocco, Murilo Corrêa e Allan Deneuville (IHU)
Leia ainda: # A eleição de Trump e o sistema mundial. José Luis Fiori, Outras Palavras
# Ouviram o silêncio de Tarcísio até esta 4a? Reinaldo Azevedo (Uol)
# A reação hipócrita de Tarcísio, o matador, sobre o indiciamento de Bolsonaro (Folha)
Polícia Federal descobre plano de militares bolsonaristas para assassinar Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes e instalar no país regime totalitário sem paralelo na história brasileira. Nesta postagem, informações que advertem a sociedade sobre a ameaça da qual o país ainda não está livre. No clipping do blog, outras notícias e análises
# Moraes derruba sigilo de decisão que levou à prisão dos militares
Análises: # Bolsonaro acabou? (Hélio Schwartsman, Folha) # Plano do golpe vestia fardas dos pés à cabeça (Bruno Boghossian, Folha) # O plano para matar Lula, Alckmin, Moraes (Natuza Nery, G1) # Mario Fernandes, o mais radical dos conspiradores (G1) # Plano foi impresso no Palácio do Planalto (G1)
# Discurso de Lula ao final do evento traduz doutrina anti-neoliberalismo. Brasil marca presença forte no cenário internacional (G1)
# Enquanto isso, Trump prepotente reafirma que vai usar militares para expulsar estrangeiros dos EUA: matança à vista (IHU)
Joker: o sistema correcional o matou e o último filme de Todd Phillips atestou óbito
Segundo - e, ao que parece, o último - filme da série sobre o anti-heroi do caos neoliberal e pós-moderno de Gotham City, destrói a marginalidade revolucionária de Arthur Flack e o despolitiza no espetacularismo da cultura de massa. Na minha opinião, um desastre.
# Leia Eberval Gadelha Figueiredo Júnior, A Terra redonda
Em tempo: tal qual ocorreu com personagens clássicos da cultura outsider (me lembro agora de Randle McMurphy/Jack Nicholson em Um Estranho no Ninho), a repressão, a prisão, o sanatório psiquiátrico, ou os mataram ou domesticaram sua rebeldia.
“Será vingança de sangue”, diz um soldado, num funeral. Outro bloqueia a porta de uma casa em chamas, para que não escape ninguém. Sebastian Ben-Daniel (Outras Palavras)
# Diplomacia brasileira isola neoliberalismo (Opera Mundi)
# À frente do G20, Brasil prioriza inclusão sobre segurança (DW)
# Lula: "Globalização neoliberal fracassou" (Opera Mundi)
# Milei fica sozinho (piauí) e recua (Opera Mundi)
# Palestina fica fora da declaração final mas ganha mais importância que a Ucrânia (Opera Mundi)
# Fazenda divulga lista das empresas beneficiárias com a isenção de impostos (Carta Capital)
# Capelli: "Pecha de 'goveno gastador' é farsa. Benefícios das empresas têm que entrar em pauta" (CC)
# Lula resiste às pressões por corte de gastos e critica Faria Lima, Congresso e empresariado (CC)
Opinião: # Pondé # Exame # Opção # Jessé Souza # Bresser-Pereira
Ainda estou aqui
# Um filme que não fala sobre a ditadura, mas sobre a família (Milly Lacombe, Uol)
# O habeas corpus de Rubens Paiva (A Terra é redonda)
# Na USP, normas da ditadura ainda ameaçam estudantes (Folha)
# Barraco no lugar das barricadas: Alguns estudantes da PUC revelam seu preconceito de classe (G1)
Manifestações confirmam desconforto com o desperdício da vida em empregos mal pagos, exaustivos e enfadonhos. Como a campanha pode ampliar-se e ser resposta ao capitalismo do séc XXI. Por que contra-argumentos são insustentáveis.
# Ezequiela Scapini, José Dari Krein, Marcelo Manzano e Pietro Borsari (Outras Palavras)
# O entretenimento como religião
Quando fala a língua do rádio, da TV ou da Internet, uma agremiação mística se converte à cosmogonia barata das mídias. Eugenio Bucci (A Terra é redonda)
Entre a digitalização e os 'dejetos' da industrialização. Márcio Pochmann (IHU)
Cartilhas da PM recomendam golpes que provocam asfixia, entre eles os que mataram George Floyd (Piauí)
# Contra o 'mega' de Trump. Leonardo Boff (A Terra é redonda)
Proxenetas, falsários, genocidas, feminicidas, punguistas, homofóbicos, contrabandistas, torturadores, criminosos ambientais... essa é a 'massa crítica' que Trump selecionou para integrar o primeiro escalão do seu governo
# Para servir aos EUA, faço tudo de graça, diz Musk. Opção # Denúncias de crimes sexuais sobre indicados por Trump. Jamil Chade, Uol # Trump nomeia birutas e Musk. Vinicius Torres Freire, Folha. # "Pais fundadores" dos EUA não imaginaram que a Grande América cairia nas mãos dessa gente (GW)
# Censura: as estratégias do drible. Walnice Nogueira Galvão escreve sobre os tempos da ditadura (A Terra é redonda)
A luta pela redução da jornada de trabalho
# A PEC que pode mudar a cena brasileira
Proposta de Erika Hilton revela: há espaço para retomar as mobilizações sociais, colocar a ultradireita na defensiva e mostrar que antissistema é a luta pelos direitos e o Comum. Mas há, na esquerda, quem insista em não enxergar. Maria J. Pereira, Eduardo R. Pereira e Mateus dos Santos (Outras Palavras)
# Érika Hilton: O fim da jornada 6x1 é bom para o país (Folha) # O que é e como funciona a escala de trabalho 6x1 (Carta Capital) # O fim da escala de trabalho 6x1 (Exame) # O fim da escala 6x1 tem que ser negociada em acordos coletivos, diz ministro do trabalho (Uol) # Érika Hilton: PEC pelo fim da escala 6x1 quer levar debate à sociedade (Uol) # Jornada de Trabalho de 44 horas é herança escravocrata (Uol) # Redução da escala 6 x 1 é tendência no mundo inteiro, diz Alckmin (Uol) # Planalto fica animado, mas com cautela política (Folha) # Mídia esconde mobilização (Carta Capital) # Abolição da escala 6x1 é a boia que o governo demora a agarrar. José Roberto de Toledo (Uol) # Centrais Sindicais: "mais do que na hora" (Carta Capital) # Os próximos passos (Carta Capital)
Cautela no debate e olhos postos nas armadilhas da extrema-direita: # Marinho # Camila Bezerra # Gaspari # Vida além do trabalho
Francisco Wanderley Luiz, bolsonarista filiado ao PL, o autor do atentado, morto no próprio local da explosão
Bolsonarista deixou mensagem com ameaças de novas explosões (leia aqui)
News Letter de Leandro Demori
A Praça dos Três Poderes voltou a ser alvo de um ataque terrorista na noite de quarta-feira (13). Um homem explodiu duas bombas, uma em frente à sede do Supremo Tribunal Federal e outra em um veículo estacionado próximo à Câmara dos Deputados. O homem, identificado como Francisco Wanderley Luiz, filiado ao PL e que foi candidato a vereador na cidade de Rio do Sul (SC), morreu em uma das explosões (continue a leitura)
De acordo com testemunhas que estavam em um ponto de ônibus próximo ao STF, o homem, ao passar pelas pessoas, as cumprimentou. Em seguida, todos ouviram uma forte explosão e em questão de segundos, mais uma e o suspeito já caído. No momento das explosões o presidente Lula já havia deixado o Palácio do Planalto e os ministros do STF haviam encerrado a sessão do dia. Eles foram retirados do tribunal. Já a sessão na Câmara dos Deputados foi suspensa assim que a morte do suspeito foi confirmada. No Senado, os trabalhos continuaram até as 21h, quando também foram suspensos.
Conforme uma funcionária do Tribunal de Contas da União (TCU), que aguardava o ônibus no momento em que os artefatos foram detonados disse que com o estrondo da primeira explosão os seguranças tentaram se aproximar, mas em seguida o homem lançou a segunda bomba o que fez com que os seguranças se afastassem.
O Gabinete de Segurança Institucional (GSI) ativou o Plano Escudo, que permite que o Exército faça a segurança de alguns prédios como o Palácio do Planalto, Palácio da Alvorada e do Jaburu e da Granja do Torto. O caso está sendo investigado pela Polícia Federal.
Premeditação
O suspeito deixou uma mensagem contendo ameaças a políticos e jornalistas.
Carro bomba
No estacionamento do Anexo IV da Câmara dos Deputados, um carro registrado em nome do morto também explodiu. Dentro do veículo foram encontrados artefatos explosivos, tijolos e outros objetos. Ninguém ficou ferido. Veja o vídeo do momento da explosão do carro:
Acompanhe a cobertura do atentado amanhã no Desperta ICL às 7h! Assista aqui!
# O que se sabe sobre as explosões (Carta Capital)
# A cabeça dele explodiu (Intercept)
# Matéria publicada na Folha (leia aqui) exibe o escandaloso privilégio parasitário que mantém burguesia à margem do esforço pelo crescimento econômico do país.
Por trás da hesitação diante pacote proposto por Haddad, há uma guerra. A Faria Lima e a mídia chantageiam para definir de vez os rumos do governo. O presidente parece ter percebido que, se ceder, caminha para uma derrota desonrosa em 2026. José Luis Fevereiro, Outras Palavras (acesse)
Leia ainda # Esquerda fará com Lula o que fez com Dilma. Eduardo Guimarães (247)
Lula foi eleito em 2022 numa frente ampla que ia da esquerda até a parte da Faria Lima, mais exatamente a Febraban.
O mesmo acordo, “com o STF com tudo” que tirou Lula de Curitiba e anulou suas condenações fajutas, viabilizou a sua candidatura em defesa das liberdades democráticas e contra Bolsonaro.
A Democracia Liberal não é apenas um conjunto de regras para arbitrar as disputas entre classes sociais, mas também para arbitrar os conflitos intra classes sociais. Bolsonaro era disfuncional para isso e parte da burguesia brasileira decidiu se livrar dele.
O acordo com Lula, a Frente Ampla, não era apenas colocar Geraldo Alckmin na sua roupagem de simpático médico do interior como vice. Alckmin era o símbolo de um acordo.
Lula obtinha um expressivo impulso fiscal garantido pela PEC da transição que somava quase 200 bilhões de reais ao já turbinado orçamento de 2022 com a PEC eleitoral de Bolsonaro, revogava-se o teto de gastos, mas em contrapartida se aprovaria um novo arcabouço fiscal que garantiria novas amarras ao gasto público a serem usadas quando o desemprego baixasse a patamares que elevassem o poder de barganha do trabalho em relação ao Capital , viabilizando ganhos reais de renda além do crescimento da produtividade, reduzindo desta forma a participação dos lucros na renda nacional.
Parte da esquerda achou boa ideia a Frente Ampla e agora manifesta seu espanto quando a Banca cobra o cumprimento do acordado. Desde 2023 que se sabe que o arcabouço fiscal não se sustentaria sem o pleno enquadramento aos seus limites do conjunto dos gastos contidos no orçamento. A quebra dos pisos constitucionais da saúde e educação, a limitação da política de valorização do salário mínimo e os gastos previdenciários acabariam sendo colocados na mesa.
Lula tentou administrar essa situação empurrando com a barriga se possível até depois de 2026. Só que o desemprego caiu ao menor patamar desde 2013 e o trabalho recuperou condições de barganha em relação ao Capital. A burguesia cobra para já o cumprimento do pactuado.
A Faria Lima em si não tem voto, mas os aparatos mediáticos que se alinham com ela, como a Globo, por exemplo, formam opinião e foram importantíssimos na eleição de Lula. E a Faria Lima tem força para chantagear o governo pressionando o câmbio e contando com a colaboração do Banco Central.
Por outro lado, uma investida do governo Lula cortando renda dos mais pobres, tornando mais rígidos os critérios de acesso ao BPC, alterando a política de valorização do salário mínimo, e mexendo nos pisos da saúde e educação, atingirá diretamente a sua base social.
Nestas horas é importante lembrar que o Partido Democrata acaba de perder as eleições, não porque Trump tenha aumentado sua votação (perdeu mais de 1 milhão de votos em relação a 2020), mas porque mais de 10 milhões de eleitores de Biden em 2020 desistiram de votar este ano.
Lula tem dois caminhos pela frente. Manter o pacto da Frente Ampla e garantir mais tempo de trégua com seus aparatos mediáticos (nenhuma garantia de apoio em 2026, porque seguem sonhando com um candidato dos seus sem a disfuncionalidade de Bolsonaro) , pagando o enorme preço da perda de confiança e de motivação de parcela importante da base social que o elegeu com consequências eleitorais dramáticas em 2026; ou romper esse pacto, enfrentar os riscos inerentes a essa ruptura, governar os dois anos restantes sob fogo de barragem da mídia e sob a chantagem dos mercados, mas manter coesa e mobilizada a sua base social.
Em qualquer cenário, perder as eleições em 2026 será uma forte possibilidade. Mas se for para perder que seja defendendo os seus porque isso constrói melhores condições para o futuro. Melhor o risco de uma derrota eleitoral que o risco de uma derrota eleitoral com cara de derrota histórica.
Agora o país já sabe com quem é que a Folha tem o rabo preso
Em junho de 2020, no 'cercadinho' de onde tripudiava sobre o povo brasileiro com ataques selvagens de primarismo político de todo o tipo, Bolsonaro usou um exemplar da Folha para mandar os jornalistas calarem a boca. Na edição deste 11 de novembro o jornal da Barão de Limeira se despiu de todos os disfarces que vem usando e acatou a ordem do ex-presidente (leia aqui o texto publicado pelo jornal e que teria sido escrito por Bolsonaro)
Era o que faltava na galeria de apoios que a Folha distribui, abertos ou sob disfarce: o gesto de complacência com aquele que é o maior canalha da história recente do Brasil é como uma declaração de princípios sobre a qual não pairam dúvidas; uma tribuna concedida a um indivíduo que nem mesmo tem direitos políticos plenamente assegurados tal é o volume de crimes que praticou contra a ordem constitucional do Brasil.
Com seu jeito despudorado de insinuar "estamos com você", a Folha permitiu que um cara desses esbofeteasse o país inteiro mais uma vez e, o que é pior, com a assinatura de um jornal que já teve algum lastro de credibilidade na sua história.
(*) Os cínicos foram conhecidos como aqueles que vivem como cães ou como os filósofos "caninos". Eram reconhecidos por sua falta (...) de pudor, por seu comportamento feroz com aqueles de quem não gostam.
Publicação de artigo de Bolsonaro, um notório golpista, na Folha, é golpe no estômago
Ao longo de minha carreira como jornalista, um ensinamento simples, mas profundo, de Frederico Branco, um veterano do Estadão, sempre me guiou: "tem coisa que pode e tem coisa que não pode".
Esta máxima parece mais relevante do que nunca ao observarmos a recente publicação de um artigo intitulado "Aceitem a democracia" por um notório golpista, sem que houvesse, no mesmo jornal, uma contestação firme e imediata aos absurdos, mentiras e insultos lançados contra a imprensa e as instituições.
Muitos me procuraram, sabendo da minha antiga relação com a Folha, perguntando o que aconteceu com o jornal. E, honestamente, não sei o que responder. O que está em jogo é a credibilidade de um veículo com mais de 100 anos de história. Esse é o momento em que a instituição deve uma resposta clara e firme a seus leitores.
Era necessário um editorial vigoroso que desmascarasse, ponto por ponto, as falácias do impostor que, há pouco tempo, buscava silenciar essa mesma imprensa antes mesmo de tomar posse. Os leitores mereciam uma análise contundente, que relembrasse seu histórico de ataques contra as instituições e a tentativa de golpe ao perder as eleições.
Permitir que alguém inelegível, cuja trajetória está marcada por afrontas à democracia, publique sem contrapeso um texto com o título "Aceitem a democracia" é, no mínimo, um golpe no estômago.
Jornalista, é colunista do UOL, trabalhou na Folha e em outros veículos e foi secretário de Imprensa no primeiro governo Lula
Outras repercussões: # Escárnio, deboche, repugnante, desonesto: Folha “assina atestado de óbito” publicando artigo de Bolsonaro (Luis Nassif, GGN) # 'Sensacionalista' ironiza artigo de Bolsonaro na Folha: 'é como Suzane von Richthofen falar sobre cuidado com os pais' (Sensacionalista, via 247) # Folha abre espaço para Bolsonaro, que tentou dar golpe, para dar aula de democracia (247) # Gleisi: "Repugnante essa tentativa de normalizar um extremista" (247) # Cenários: A crise do jornalismo em debate. Seminário Outras Palavras (texto e video)
O governo Tarcísio e o desmonte do patrimônio social, cultural, econômico... de São Paulo
# A fúria privatista de Tarcísio (GGN)
# Escolas leiloadas na Bolsa: que Educação é essa? (Boitempo)
Tudo indica que a eleição de Trump joga o mundo numa zona indefinida e esfumaçada de problemas radicais, todos impensáveis quando se associa o nível de racionalidade técnica sob o qual vivemos às iniciativas (algumas já em andamento) de natureza social e cultural anunciadas pelo 'novo' presidente dos EUA. Há no meio dessa tensão um paradoxo explosivo que parece ser alimentado por um doente disposto a testar qual é a fronteira além da qual se encontra o desastre global. Sei não, quem viver verá...
# Precisamos acreditar nas ameaças de Trump, diz ecologista estadunidense. John Podestá (Reset)
# Trump não é liberal. Camilla Veras Mota (BBC) # "Pai" do muro na fronteira EUA/Mex ganha cargo de confiança (G1) # O apocalipse segundo Donald Trump. Juan Gabriel Vásquez (El País) # Trump anuncia desregulamentação ambiental. Jamil Chade (Uol) # Holanda anuncia fechamento de fronteiras com a União Europeia (G1) # Uma teoria do poder global. José Luis Fiori (A Terra é redonda)
# Lott, um herói # Repercussões sobre o início da nova era trump # Por que precisamos falar sobre o fascismo? # Ainda estou aqui: belo filme sobre tempos amargos da nossa história # Deputado aciona MP contra Derrite # Sartre: o que é ser um intelectual # Cambridge contra o 'presentismo'
Respire fundo
Projeto de Lei que inscreve o nome do Marechal Lott no livro dos heróis e heroínas da pátria, segue parado na CCJ devido a oposição bolsonarista. # Por Bruno Falci, O Cafezinho
Leia mais: # O que foi a 'novembrada' - a resistência de Lott em defesa da posse de JK (Wikipedia) # Lott aborta golpe e assegura posse de JK (Memorial da Democracia) # Marechal Lott, a opção das esquerdas (UFF)
# Ao lado de Jango, Teixeira Lott, o soldado que frustrou o golpe contra a posse de JK.
Os movimentos fascistas não acabaram com as mortes de Mussolini e Hitler. Railson Barboza (Le Monde)
Com Trump, estão suas promessas de usar força militar, conter livre arbítrio feminino e deportar imigrantes. Muniz Sodré (Folha)
O estágio atual de decadência da democracia liberal não convence mais ninguém. Tarso Genro (A Terra é redonda)
Falsa explicação transforma em alvo quem contribui na construção de projetos inclusivos. Flávia Biroli e Luciana Tatagiba (ATR)
# A nova coalizão que reelegeu Trump: muito além da América rural branca. Fernanda Magnotta (Uol)
Enquanto a mesa central de um espaço de eventos no resort de luxo Mar-a-Lago, em Palm Beach, mostrava Donald Trump a poucos minutos de comemorar a vitória que o confirmou como novo presidente dos Estados Unidos, três brasileiros tiravam uma selfie para registrar o entusiasmo com o plano político desenhado para o futuro do Brasil (continue a leitura).
# Comentário sobre o filme de Walter Salles, por Eric Chiconelli Gomes (A Terra é redonda)
# Mas onde é aqui? Fernando Barros e Silva (Piauí)
“Aqui no estado de São Paulo virou política governamental colocar a polícia em velório de gente que morre pelas mãos da polícia”, criticou o ouvidor Cláudio Aparecido (na foto, à direita, de costas).
# Leia mais (HP)
# Ivan Valente vai ao MP contra Secretário da Segurança de Tarcísio (Folha)
São tempos de academicismo estéril, imprensa cínica e falácias de neutralidade técnica. Vale, então, resgatar as provocações sartreanas: diante da necessária reconfiguração das esquerdas, como os pensadores podem resgatar a voz e a escuta dos desvalidos? # Outras Palavras
A “revolução na história do pensamento político” de Cambridge, apesar de sua insistência na primazia do contexto histórico, em termos gerais não aplicou seus preceitos a si mesma. A tese é do historiador e filósofo marxista inglês Perry Anderson.
A acusação — se não o termo — de “presentismo”, como a abstração de ideias do passado de seu contexto histórico para usá-las erroneamente no presente, ganhou notoriedade pela primeira vez com The whig interpretation of history de Herbert Butterfiled, escrito no começo da década de 1930.