a reforma do ensino médio

Acesse aqui documentos oficiais, análises e discussões sobre a reforma. (Organização: Profa. Mayara Gregoracci dos Santos, do SinproSp

Lula sanciona Novo Ensino Médio, mas veta conteúdo dos itinerários formativos no Enem e nos vestibulares

# Leia a matéria de Roberto Peixoto no G1 e entenda como ficou a versão final do NEM  

Novo Ensino Médio: Veta Lula!

Arthur Lira impôs sem debate algum projeto que torna a escola segregadora e aberta às fundações privadas. Ministro da Educação e líder do governo curvaram-se. Presidente tem chance de mostrar por quê foi eleito. Luis Felipe Miguel, Outras Palavras (acesse)

Um golpe de Arthur Lira permitiu que (...) a Câmara dos Deputados aprovasse o “Novo Ensino Médio” (NEM) tal como desenhado pelo bolsonarista Mendonça Filho, hoje relator do projeto e antes – vocês lembram? – truculento ministro da Educação no governo ilegítimo de Michel Temer.

A resistência de estudantes, professores e administradores escolares tinha obtido algumas vitórias no Senado. A meu ver, ainda insuficientes, mas, pelo menos, tornavam o NEM menos pior, sobretudo garantindo carga maior para o conteúdo disciplinar obrigatório.

Mendonça Filho descartou as principais dessas mudanças e seu relatório foi aprovado por votação simbólica.

O mais triste: a manobra de Lira recebeu o apoio do líder do governo, deputado José Guimarães (PT-CE). O MEC de Camilo Santana já tinha, há muito tempo, optado por lavar as mãos.

Atravessado por representantes das fundações empresariais, de costas para estudantes, profissionais e especialistas engajados, o MEC tem fracassado na tarefa de garantir uma educação pública igualitária e de qualidade.

O “Novo Ensino Médio” foi um dos retrocessos impostos pelo golpe de 2016. A gente sabe que direitos trabalhistas foram perdidos, a economia foi desnacionalizada e as políticas sociais do Estado foram asfixiadas (com o teto de gastos), tudo aprovado a toque de caixa, sem discussão com a sociedade ou mesmo no Congresso. Com a educação foi pior ainda – a mudança veio por meio de medida provisória, baixada por Temer em 2016 e convertida em lei em 2017.

Apesar de toda a propaganda, o “Novo Ensino Médio” logo mostrou que é: precarização do ensino dos mais pobres.

Sob o pretexto de dar “flexibilidade” aos estudantes, o “Novo Ensino Médio” esvazia a formação básica de quem é submetido a ele. História do Brasil, por exemplo, não existe mais. De maneira geral, disciplinas voltadas à formação do senso crítico e da cidadania ativa foram extirpadas.

Em seu lugar entram conteúdos relacionados a “empreendedorismo” e “marketing”. A reforma se exibe como perfeitamente alinhada ao espírito do neoliberalismo.

A anunciada “flexibilidade” é uma balela, já que a esmagadora maioria das escolas não oferece quase nenhuma alternativa de “percursos formativos”. Na prática, a educação é segregada, oferecendo aos filhos da classe trabalhadora uma formação “adequada” às posições subalternas que eles estão destinados a exercer – e reservando aos herdeiros das elites horizontes mais alargados.

Um colunista da Veja, na época, foi sincero: tratava-se de restaurar “a fórmula tradicional de uma formação profissional para os pobres e uma educação clássica para as elites”.

As mudanças introduzidas agora minoram muito pouco os problemas do projeto.

O fato de que Lira julgou necessária essa manobra golpista mostra como, para a direita, a reforma é prioridade.

Barrá-la e inaugurar uma discussão ampla e democrática sobre o tema – que ensino médio queremos, para formar cidadãos para que país – também devia ser prioridade para a esquerda.

O MEC está rendido, mas Lula tem mais uma chance de mostrar que ouve os profissionais da educação e os estudantes. Que não a perca.


* Publicado inicialmente no GGN

Novo Ensino Médio: Câmara rejeita mudanças do Senado, incorpora sugestões de Mendonça Filho e cai na armadilha de Lira

# Entenda o que muda e a reação contra a proposta aprovada pelos Deputados (Patrícia Faerman, GGN)

# Daniel Cara critica Novo Ensino Médio e denuncia manobra de Lira (Diário do Centro do Mundo)

# Ensino médio para além das 2.400 horas
O ônus da legitimação de um modelo de ensino médio desqualificado e excludente recairá sobre o mandato do presidente Lula

(Coletivo em defesa do Ensino Médio de Qualidade)

Complacência com o lobby do que há de mais atrasado para a Educação pode ter comprometido o futuro do país e o de sua juventude

(Uol)

A mentira: 65% dos alunos querem flexibilidade na escolha das disciplinas, diz Datafolha
Jornal Nacional, 11/03/24 

Tive a oportunidade de assistir à apresentação dos resultados dessa 'pesquisa' na TV. Não foi preciso muito para perceber que estava ali, na sala de jantar de toda a audiência da Globo, uma das maiores mentiras cometidas contra a Educação Brasileira. O levantamento do Datafolha, feito sob encomenda de um lobby do ensino privado, resumiu-se a estabelecer percentuais com base em pequenos grupos de estudantes que sequer entendiam o que os pesquisadores perguntavam. As próprias respostas registradas na matéria do JN - e transcritas abaixo - dão bem uma ideia da farsa em que se transformou a pesquisa. 

O objetivo é claro, tão claro quanto as intenções dos patrocinadores: a reforma do ensino médio é um embuste contra a inteligência e um crime contra o futuro da formação dos jovens que forem vítimas das mudanças que estão sendo ensaidas (leia a matéria integral do Jornal Nacional na expansão da postagem)

Leia também o editorial da Folha - Interesse do aluno
(o editorial mereceu comentário meu sobre a fragilidade da pesquisa - comentário que o jornal não postou)

Pesquisa mostra que 65% dos estudantes aprovam o Novo Ensino Médio

Uma pesquisa divulgada nesta segunda-feira (11) mostrou o que os estudantes pensam sobre o novo ensino médio.


É como dar os primeiros passos em direção a um futuro que está logo ali.


"Eu sonhava em ser uma advogada e agora eu estou tão perto do que eu quero fazer, dá um medinho, mas eu também fico muito entusiasmada", conta a estudante Sara Caron.

A Sara entrou em 2024 no ensino médio em uma escola pública em São Paulo. Escolheu um curso de humanas como itinerário formativo, em que cada um escolhe a área de interesse.

"Eu vou estudar algo que eu realmente gosto, né? E aí eu consigo ter uma noção melhor do que que eu quero, se eu realmente quero estudar aquilo e me formar e seguir carreira naquilo", comenta Sara.


O novo ensino médio está em vigor desde 2022. Durante os três anos, os estudantes têm carga horária de 3 mil horas, sendo 1,8 mil obrigatórias para formação geral básica e 1,2 mil para os itinerários formativos.


"A gente tem aula de marketing digital, que é muito bom, artes visuais também que é maravilhoso, principalmente para hoje em dia, nesse mercado de tecnologia, é muito importante. E pela nossa escola estar introduzindo isso logo no segundo ano, é muito bom", diz a estudante Ana Beatriz Engracia, de 16 anos.


Uma pesquisa encomendada pelo Todos Pela Educação ao Datafolha mostra que a maioria dos alunos que começaram o ensino médio em 2024 prefere o novo ensino médio. 65% querem uma escola em que é possível estudar as disciplinas tradicionais e também escolher uma área para se aprofundar ou fazer um curso técnico.


O levantamento mostra também que mais da metade dos estudantes que começaram o ensino médio em 2024 desconhecem as mudanças e que, quanto maior o nível de informação sobre a reforma do ensino médio, maior é a proporção dos que que preferem o novo modelo. Dos 8% que se disseram bem informados sobre o ensino médio quase 80% preferem o novo currículo, que está em vigor.


Priscila Cruz, presidente-executiva do Todos pela Educação, defende o novo modelo, com adequações:


"O que o jovem brasileiro está dizendo é que ele quer um ensino médio mais flexível, mais antenado com as suas vocações, com seus projetos de vida, nos seus temas de maior interesse. É importante manter a essência do novo ensino médio, dessa reforma do ensino médio, corrigindo problemas questões que foram aparecendo na implementação, mas não voltar atrás do modelo que a gente tinha, que era o modelo antigo de ensino médio único, todo mundo igualzinho com as mesmas disciplinas sem a possibilidade de uma flexibilização desse currículo."


Desde que foi implementada, a reforma tem enfrentado algumas resistências. No fim de 2023, o governo federal enviou ao Congresso uma projeto de lei com algumas alterações. O vice-presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação, Hélio Queiroz Daher, diz que algumas mudanças são necessárias, mas que não se deve voltar ao sistema antigo.


"Independente do ponto de vista de carga horária, de questões mais técnicas, o Brasil todo tem que estar unido para oferecer um ensino médio de qualidade para cada estudante, que possa combater evasão escolar ou abandono, que possa dar dignidade e uma expectativa de um futuro melhor para cada um deles. É o que eles querem, eles querem poder escolher", afirma Hélio.


"Aqui a gente escolhe o que vai fazer e é mais tranquilo a gente aprender também", comenta Ana Beatriz.

# Acesse aqui a matéria original do JN 

Escolas de São Paulo terão menos artes e mais matemática e português

Gestão Tarcísio reduz de 11 para 2 os itinerários do ensino médio, acaba com matérias eletivas e inclui duas aulas de recuperação semanais do 6º ao 9º ano

Laura Mattos


O novo currículo das escolas da rede paulista, ao qual a Folha teve acesso com exclusividade, tem menos aulas de artes e mais de português e de matemática. As matérias eletivas, que até este ano podiam ser criadas com autonomia pelas escolas, acabam, e entram aulas de recuperação e de preparo para o vestibular.

Definidas ao longo do primeiro ano do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos), as mudanças valem a partir de 2024 e afetam o fundamental 2 (6º a 9º ano) e o ensino médio. O currículo do fundamental 1 (1º a 5º ano ) não será alterado.

As novas grades curriculares serão apresentadas nesta sexta-feira (17) aos supervisores da rede de ensino do estado.

O ensino médio é o mais alterado. Em vez dos atuais 11 itinerários formativos (a parte do currículo do novo ensino médio que cada estudante pode escolher), serão apenas dois (Exatas/Ciências da Natureza e Linguagens/Ciências Humanas).

Na formação geral básica (com as matérias regulares, comum a todos os alunos), as aulas de português aumentam 60% em relação ao currículo atual. De 10 aulas semanais (somando 1º, 2º e 3º anos), sobe para 16. Matemática tem aumento de 70%, de 10 para 17. Também há mais aulas de física, geografia e história.

Para criar esse espaço, foram reduzidas as aulas de artes, filosofia, sociologia e de tecnologia/robótica, além da completa extinção das matérias eletivas.

Trabalhos de alunos do projeto de convivência da Escola Estadual Juventina Patricia Sant'Ana, em Cidade Ademar, na zona sul de São Paulo - Jardiel Carvalho/Folhapress

A carga horária de artes, filosofia e sociologia, contudo, é maior para os que optarem pelo itinerário de Linguagens/Ciências Humanas, bem como a de tecnologia/robótica para aqueles que escolherem o itinerário de Exatas/Ciências da Natureza.

Essa, aliás, é uma característica que se evidencia na opção curricular da gestão Tarcísio, a de que os itinerários se concentram em conteúdos da formação básica.

O itinerário de Linguagens/Ciências Humanas tem como disciplinas filosofia/sociedade moderna (um mix de filosofia e sociologia) e geopolítica (que traz componentes de geografia e história), além de liderança, oratória e artes e mídias digitais.

Já o itinerário de Exatas/Ciências da Natureza é composto pelas disciplinas biotecnologia e química aplicada (que trabalham, respectivamente, com conceitos de biologia e química), além de empreendedorismo e tecnologia e robótica.

Esse currículo deverá se ajustar com mais facilidade às mudanças do novo ensino médio previstas pelo projeto de lei encaminhado pelo governo Lula (PT) ao Congresso.

O texto prevê um aumento das matérias de formação básica, como português e matemática, de 1.800 para 2.400 horas (total dos três anos do curso), da mesma forma que uma redução da carga horária dos itinerários, de 1.200 para 600 horas.

"Com a aprovação da lei, faremos os ajustes sem grandes complicações porque os itinerários agora estão mais semelhantes à formação básica", afirmou à Folha o secretário de Educação do estado, Renato Feder.

FUNDAMENTAL

No fundamental 2, a mudança mais significativa é a inclusão de duas aulas semanais de recuperação de português e matemática, do 6º ao 9º ano –nas escolas em tempo integral, serão quatro aulas no 6º e no 7º e duas no 8º e 9º. Essas aulas, segundo Feder, serão dadas em laboratórios de informática, para que cada turma seja dividida em três níveis de aprendizagem, e os alunos sigam, no computador, um programa específico de recuperação –ou de aprofundamento, no caso dos mais adiantados.

Serão utilizadas as plataformas Matific, contratada pelo governo do estado por R$ 72,2 milhões, por meio de licitação, e a Tarefa SP, desenvolvida na própria secretaria.

"Temos uma defasagem muito acentuada, que se agravou na pandemia, por isso essa recuperação de aprendizagem é central no novo currículo", disse o secretário.

As matérias eletivas também foram eliminadas no currículo do fundamental 2. Já as aulas de projeto de vida e as de artes, reduzidas pela metade. Essa redução dá lugar à tecnologia e educação financeira, além da recuperação.

No Paraná, cuja rede de educação foi gerida por Feder de 2019 a 2022, houve polêmica, no início deste ano, com o anúncio de que o 8º e o 9º anos não teriam mais aulas de artes, para dar espaço às de computação.

Essa decisão foi de Roni Miranda, atual secretário do Paraná e que fazia parte da equipe de Feder no estado.

Diante das críticas, Miranda teve de recuar e voltar com as artes para o currículo, ampliando a carga horária diária de aulas para comportar também a computação.

Já Feder optou por reduzir pela metade as aulas de artes do 8º e do 9ª anos, de duas semanais para uma. Questionado pela Folha sobre essa redução e a controvérsia que isso poderá gerar, ele respondeu que "aula de artes é muito importante e terá um protagonismo no ensino médio, no itinerário de Linguagens/Ciências Humanas".

Afirmou ainda que, para as escolas de tempo integral, foi criado um espaço na grade chamado esporte/música/arte. "Essa foi uma demanda das escolas com carga horária de nove horas, que disseram que o currículo estava muito pesado para os alunos", afirmou. "Algumas pediam a inclusão de esportes, outras de música ou de aulas de artes. Então deixamos esse espaço para que cada escola defina o que achar melhor."

Essas escolas, no entanto, ainda atendem a minoria dos alunos, em torno de 20%

O projeto mantém a recomposição da carga horária destinada à Formação Geral Básica. E revoga a organização dos itinerários formativos. 

Lula envia ao Congresso projeto que corrige retrocessos do Ensino Médio

Para estudantes, iniciativa de Lula é o caminho para a revogação da reforma (# leia mais)

O que não tem conserto

Nora Krawczyk, Márcia Aparecida Jacomini e Monica Ribeiro da Silva (IHU)

Ajustar a reforma: conciliação sugerida pela Folha é grave ameaça sobre a educação brasileira

A educação para a nova "geração de negócios" 

Lutar pela abolição da reforma é combater a política empresarial e financeirizada da Educação que nos subordina como objetos de sua gestão. Leia aqui o artigo de Carolina Catini  (Boitempo)

Revista do CEDES publica diversas análises sobre a reforma do Ensino Médio e aponta seus desvios ideológicos e polticos (acesse aqui)

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